Fernanda Pedro
A MARINHA portuguesa abre as suas portas à formação
de civis. A par com o Instituto Hidrográfico que já recebe
estagiários desde Janeiro de 2003, o Serviço de Informação
e Relações Públicas do Gabinete do Chefe de Estado-Maior
da Armada realizou um protocolo com a Escola Superior de Comunicação
Social (ESCS) do Instituto Politécnico de Lisboa, no sentido de
receber estagiários desta escola.
Numa iniciativa inovadora na Marinha, o Comandante Gouveia e Melo, responsável
por este gabinete, decidiu, depois do acidente do "Prestige",
que seria necessário dar uma resposta mais eficaz por parte da
Marinha para exterior. Foi nesse sentido que realizou um protocolo com
a ESCS a fim de admitir jovens estagiários.
"Acredito que quando duas instituições encontram
interesses comuns, ambas irão beneficiar quer em termos científicos
quer em termos práticos", revela o comandante.
De acordo com Gouveia e Melo, este protocolo vai muito além do
simples estágio. "Ganhamos muito com a energia que trazem
os recém-licenciados para projectos novos, mas vamos também
apostar em estudos e trabalhos conjuntos de investigação",
explica.
O acordo entre as duas instituições passa também
pela possibilidade dos militares realizarem formação na
ESCS, onde neste momento já se encontram três oficiais
a frequentar uma pós-graduação em Gestão
de Comunicação de Crises.
Existe também a possibilidade de os próprios professores
da ESCS realizarem formação na Marinha. "Iremos
ministrar cursos de liderança, em estratégia em defesa
nacional e também formação para formadores",
refere o comandante.
Para Gouveia e Melo, a experiência de trabalhar com estagiários
superou as suas expectativas de uma forma positiva. "Os alunos
estavam muito bem preparados e vieram enriquecer todo o nosso trabalho",
salienta, sublinhando que esta iniciativa veio despertar a sensibilidade
do chefe do Estado-Maior da Armada, o Almirante Francisco Vidal Abreu
que já formulou o interesse em estender esta iniciativa a outras
áreas da Marinha.
Se, para a Armada portuguesa esta experiência se revelou positiva,
o mesmo aconteceu para os jovens que foram convidados a estagiar nesta
instituição militar. Ricardo Serôdio de 24 anos
e Susana Martins, de 22, ambos licenciados em Comunicação
Empresarial na ESCS, foram os pioneiros nestes estágios.
Quando receberam a proposta em Outubro de 2003, não tiveram muito
tempo para pensar no assunto, mas decidiram aceitar o desafio de imediato.
"Ainda nos passou pela cabeça que iríamos encontrar
um sistema militar rígido mas afinal verificámos que se
tratava de uma instituição aberta e flexível",
lembra Ricardo.
A grande mais-valia desta experiência para os dois jovens foi
a vantagem de trabalharem na área que estudaram e participarem
activamente nas actividades da instituição militar, "onde
o respeito e a valorização das nossas ideias e conhecimentos
foi determinante para o sucesso da implantação do Plano
de Comunicação da Marinha", refere Susana Martins.
Além da formação, os dois jovens tiveram ainda
a possibilidade de enriquecer os seus currículos com um curso
de liderança e com a participação em diversas actividades
da Marinha, nomeadamente com o embarque num navio da armada.
Seis meses mais tarde foi a vez de Ana Serra e Liliana Teixeira, ambas
com 22 anos, receberem o testemunho dos seus colegas. Ana, com uma licenciatura
em Comunicação Empresarial e Liliana em Publicidade e
Marketing, também sentiram alguma expectativa por realizarem
um estágio numa instituição militar.
Também elas ficaram surpreendidas quando verificaram que o seu
trabalho como estagiárias eram valorizado e apreciado. Neste
momento, estão empenhadas em projectos para o dia da Marinha
e para o portal da Armada.
Apesar de o estágio não ser remunerado, ambas se consideram
surpreendentemente recompensadas. Talvez por isso tenham resolvido candidatar-se
a um lugar na Marinha Portuguesa.