As empresas estão conscientes para a importância da integração e retenção de talento, sobretudo em cenários de crise, mas contratam querem “salários de saldo”. O relatório divulgado esta semana pelo Banco de Portugal (BdP) comprova a tendência. Segundo o documento, a acompanhar e elevada taxa de desemprego nacional, as empresas têm vindo a congelar os salários dos colaboradores que mantém nos seus quadros e, nos casos em que é necessário contratar, oferecem remunerações 11% inferiores às anteriormente praticadas pelo mercado para as mesmas funções. A análise resulta de um levantamento realizado em 2012, o pior ano do país, e pouco surpreende os especialistas de recrutamento ou os profissionais. Entre os mais penalizados por esta medida estarão os recém-licenciados ou perfis juniores, mas também quadros mais seriores que para ultrapassar uma situação de desemprego, são muitas vezes forçados a esquecer anos de experiência profissional e trabalhar por valores muito inferiores aos que antes auferiam.
Em 2012 só 54,9% dos trabalhadores conseguiram ver aumentados os seus salários. Uma percentagem que nos anteriores a 2009, rondava os 70%. Para os especialistas do BdP, este cenário é “compatível com a degradação das condições económicas”. O estudo esta semana divulgado revela que em cenários como o nacional “as empresas tendem a congelar as remunerações e a manter o emprego, reduzindo as contr”tações". Isto numa fase inicial. Em cenários agravados, as empresas que enfrentam uma quebra contínua nos seus negócios, optam por reduzir os custos de trabalho pela via dos cortes salariais, redução de postos de trabalho ou, substituição de trabalhadores com remunerações mais elevadas por profissionais com remunerações inferiores.
Álvaro Fernandéz, diretor geral do PageGroup Portugal, fala numa quebra salarial que iniciou já em 2005/2006, “sobretudo em alguns setores que tinham registado até ali fortes incrementos salariais, como a área financeira, farmacêutica, comercial e alguns setores da indústria”. Em muitos destas áreas a redução de remunerações sucedeu a despedimentos e mudou por completo a realidade dos profissionais. “Os jovens sofreram quebras salariais muito relevantes nos últimos anos, ao entrarem para o mercado de trabalho”, explica o especialista adiantando que o desemprego elevado e o reduzido número de vagas agravam o cenário. Do lado dos seniores a realidade não é diferente. As empresas reconhecem o potencial de contratar quadros experientes, cuja integração seja imediata e os resultados visíveis num curto espaço de tempo, mas abraços com um elevado número profissionais experientes e situação de desemprego, recrutam cada vez mais a baixo custo.
De acordo com o relatório do BdP este é o quarto ano consecutivo em que a percentagem de trabalhadores com salários congelados aumenta, totalizando já 31,9%. As contas do BdP revelam ainda que nas empresas onde registaram novas contratações e, consequentemente, entradas e saídas de trabalhadores, o salário médio oferecido aos novos funcionários era 110 euros mais baixo. A instituição confirma também que o aumento da duração do desemprego está a forçar quebras salariais no regresso à vida ativa.
PME enfrentam crise com otimismo e recursos humanos qualificados
Apesar do cenário de prudência e de contenção generalizada, 10% das Pequenas e Médias Empresas (PME) portuguesas conseguiram nos últimos 12% contratar novos colaboradores e 6% aumentaram salários, segundo um estudo global conduzido pela Companhia de Seguros Zurich junto de CEO, proprietários, diretores-gerais, financeiros e chefes de operações de PME de 12 países, entre os quais Portugal.
O estudo da seguradora revela que “no último ano, a maioria das PME nacionais optou por dar resposta a novos nichos de mercado, desenvolver novos produtos (ambos com 18%) e reduzir preços e número de funcionários (ambos com 20%)”. No que diz respeito à redução de colaboradores, Portugal é segundo o relatório o país mais sacrificado entre os 12 analisados. “Apesar de todas as dificuldades, apenas 8% dos inquiridos confessa ter pensado encerrar o seu negócio”, enfatiza o estudo que adianta que esta percentagem foi mais elevada em países como o Reino Unido (12%) e Espanha (17%).
Entre os líderes portugueses, os principais riscos para o negócio residem na quebra do consumo, concorrência, dumping de preços, falhas no abastecimento, danos nas viaturas da empresa, segurança e saúde dos colaboradores, catástrofes naturais e imprevistos climatéricos. Artur Lucas, diretor de Desenvolvimento da Zurich em Portugal adianta que “este estudo vem confirmar que as empresas nacionais estão a passar por dificuldades, mas existe uma minoria que tem conseguido progredir, aumentando salários e fazendo contratações”.
A redução de custos é apontada por 32% das PME nacionais como a principal oportunidade para o negócio. Os empresários nacionais destacam ainda como oportunidades a aposta em recursos humanos mais qualificados, a exploração de novos targets/segmentos, a diversificação de produtos e serviços e a expansão para mercados estrangeiros.
Numa análise comparativa dos resultados entre os 12 países onde foi conduzido o inquérito, o Brasil lidera nos incrementos salariais com 41% das empresas a confirmar aumentos de remuneração aos seus quadros. Logo a seguir na tabela vem a Suíça, com 24%.