No Instituto de Biologia Experimental e Tecnologia (iBET), um centro de investigação privado que se dedica à investigação nas áreas da biotecnologia e ciências da vida, trabalha-se em estreita ligação com a indústria e com uma forte orientação para aplicabilidade prática da investigação produzida. A estratégia, garante Paula Alves, CEO do iBET, tem-se traduzido num “sucessivo aumento da contratação de doutorados para o centro”. Muitos são depois aliciados pelas empresas para integrar, em permanência, as suas áreas de inovação. Uma transição que Paula Alves não lamenta. Para a investigadora, este interesse crescente das empresas nacionais nos doutorados portugueses, não só os valoriza profissionalmente, gerando-lhes oportunidades de carreira que vão além da academia e da sucessiva dependência do financiamento público para a continuidade das suas investigações, como permite minimizar a fuga nacional de cérebros que durante décadas tem afetado a comunidade científica nacional.
Criado a partir da convicção de que havia espaço para o desenvolvimento de atividades de investigação estruturadas em benefício da indústria nacional, o iBET associou-se desde o início às empresas promovendo, segundo Paula Alves, uma “efetiva ligação entre a academia e a indústria” que, garante a responsável, tem sido vital não só para o desenvolvimento do centro como para a valorização dos seus profissionais. O centro de investigação agrega hoje uma equipa de 120 profissionais (entre doutorados, bolseiros, técnicos de investigação e gestores de projetos, estagiários e administrativos) e, para além do trabalho de investigação que realiza em permanência para as empresas que lhe estão associadas - entre as quais se elencam a Novartis, a Bayer, a AbbVie, Cell2B, Cevec, AstraZeneca, Compal+Sumol, Merck Serono, entre outras - desenvolve centenas de projetos para clientes internacionais, relevantes no contexto da indústria farmacêutica. Foi de resto esta internacionalização de saber que permitiu ao iBET o crescimento que tem vindo a registar nos últimos anos.
Segundo a diretora, “fruto do investimento estrangeiro que o iBET tem conseguido atrair, tem sido possível manter em Portugal cientistas, muitos deles formados e doutorados ao abrigo de programas de financiamento nacionais, e criar novos empregos a cada ano”. Em 2010, o iBET iniciou um processo de crescimento acelerado na contratação de doutorados. Dos cinco investigadores doutorados que detinha em 2010, o centro passou para 24 (contratados diretamente pelo iBET) em 2015. O número aumenta se forem contabilizados os doutorados que desenvolvem investigação no centro, mesmo estando integrados noutras estruturas de investigação e os técnicos de investigação, sem doutoramento ou em fase de conclusão desta formação. “Entre 2014 e 2015 registámos um aumento de 50% do número de doutorados pagos diretamente pelo iBET e este ano já este ano já integrámos mais profissionais”, explica Paula Alves.?
Mais de um terço dos doutorados e técnicos de investigação do iBET estão em interação direta com as empresas com as quais o centro trabalha em indústrias como a da saúde, a agroalimentar, a agricultura ou o ambiente. “Muitas vezes, depois de desenvolvido o projeto e implantado na empresa cliente, ficam-nos com os doutorados para as suas unidades de inovação interna”, confessa acrescentando que “há novas oportunidades de carreira a evoluírem muito positivamente em Portugal para os doutorados, nestas áreas muito ligadas à inovação, o que é positivo e permite contrariar aquela visão limitadora de que um doutorado tem de seguir forçosamente a carreira académica”.
A líder do iBET acredita que o posicionamento do centro que lidera é comum ao de outras estruturas de investigação e que de facto, “há uma mudança das orientações de carreira nesta áreas”. Paula Alves fala mesmo das novas competências que hoje se exigem a um investigador doutorado, mais empresariais e do domínio de gestão e não exclusivamente laboratoriais. “O que é mais difícil de encontrar no mercado atualmente, e tendo em conta esta forte orientação da investigação para o serviço às empresas, são bons investigadores com excelentes competências de gestão de projetos e equipas. Cada vez mais, os doutorados têm o papel de articular com as empresas a resolução de problemas efetivos. Cabe-lhes identificar com a empresa o problema, encontrar a solução em conjunto com uma vasta equipa de especialistas, que têm de gerir, e assegurar a sua implantação com sucesso na organização. Nunca o papel do investigador-gestor foi tão relevante para os centros de investigação”, realça.
Para Paula Alves, este posicionamento de utilidade prática da investigação está a revolucionar as oportunidades de carreira de muitos investigadores. A especialista acredita que a capacidade de retenção de cérebros no país passa pela ligação efetiva entre unidades de investigação e empresas e também pela capacidade dos doutorados se munirem das competências de gestão necessárias ao atual contexto profissional.