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Investigação que dá frutos

A tecnologia produzida pelas universidades nacionais está a extravasar o âmbito académico e a gerar serviços e empresas inovadoras
22.05.2008


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Marisa Antunes e Maribela Freitas
Durante esta semana, o Presidente da República, Cavaco Silva, desdobrou-se num Roteiro para a Ciência onde chegou à conclusão que há bons exemplos de inovação tecnológica no nosso país mas muito está ainda por fazer. Para apanhar o comboio do desenvolvimento a nível europeu, onde as tecnologias de informação representam, em média, já 25% do crescimento económico e 40% da produtividade, é preciso um maior investimento estatal e privado na investigação e um reforço no ainda frágil elo entre os académicos e as empresas. Recorde-se que 80 em cada 100 investigadores trabalham nas universidades, mas nem sempre o trabalho desenvolvido chega à comunidade. Algo que não acontece na Universidade Nova de Lisboa, onde a equipa coordenada pelo professor Orlando Teodoro demonstra que a investigação académica não só inova e é utilitária, mas pode também ser rentável.

Através de um laboratório de ensaios, o Metrovac, sediado no campus da Nova, no Monte da Caparica, os investigadores vendem os seus serviços para o exterior na área da tecnologia e metrologia do vácuo. Calibram, testam, detectam fugas em equipamentos com tecnologia de ponta, única no País.

Devidamente acreditado pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação), este laboratório desenvolve a sua actividade comercial para diversos sectores, como a indústria automóvel, a petroquímica ou o sector farmacêutico. E tanto testam materiais como um reservatório para combustível, um preservativo, uma lâmpada fluorescente ou um aparelho de «pacemaker».

“Aqui temos a experiência e o saber, que resultou da investigação. E quisemos disponibilizar essa experiência sob a forma de prestação de serviços para a indústria”, salienta o professor, lembrando que muitas empresas requerem determinado tipo de serviços ao estrangeiro quando podem fazê-lo em Portugal.

Para explicar a abrangência dos materiais que trabalham, Orlando Teodoro exemplifica que, no Metrovac, a equipa pode debruçar-se sobre um «pacemaker» para testar se é realmente estanque — “de forma a que os líquidos biológicos não entrem em contacto com a electrónica”, um preservativo — “para garantir que uma determinada membrana é tão impermeável quanto se queira” — ou sobre uma lâmpada — “as lâmpadas de filamento são bombeadas para retirar oxigénio que não pode estar no filamento”. O investigador recebeu há menos de um mês recebeu, da Associação Espanhola de Ensaios Não Destrutivos, a nota máxima em certificação em ensaios não destrutivos — detecção de fugas, uma distinção que poucos engenheiros da Península Ibérica possuem.

Em formato digital

Local de excelência para aprender e testar tecnologia, as universidades portuguesas têm originado a criação de muitas empresas inovadoras. Um destes casos é o da Metatheke - cujo nome significa depósito de metadados, que representa o formato das bibliotecas da próxima geração.

Criada em Julho de 2007 por alunos e docentes da Universidade de Aveiro (UA), esta estrutura resultou de uma candidatura ao programa Neotec da Agência da Inovação e está sediada na incubadora de empresas da UA. A sua missão é a de conceber soluções para a gestão de conteúdos digitais e as suas áreas de especialização centram-se no desenvolvimento de soluções para bibliotecas e arquivos digitais, através da criação de sistemas onde é necessário armazenar, gerir e pesquisar grandes volumes de informação. “A tecnologia que utilizamos para a criação dos nossos serviços foi desenvolvida ao longo de seis anos no Instituto de Engenharia Electrónica e Telemática de Aveiro”, conta Pedro Almeida, director-geral da Metatheke.

A empresa trabalha em estreita colaboração com a UA e esta instituição, em conjunto com a Assembleia da República, jornais locais/nacionais e editoras, são alguns dos seus principais clientes.

Os promotores da Metatheke participam ainda nalguns projectos da faculdade ligados à biblioteca e dão apoio a trabalhos do último ano dos cursos de engenharia electrónica e telecomunicações e de engenharia de computadores e telemática. Esta relação entre universidade, investigação e comunidade tem sido, na opinião de Pedro Almeida, muito positiva. “A ligação à UA ajuda ao posicionamento da empresa no mercado. A imagem da universidade está ligada à inovação com uma forte componente nas tecnologias de informação. Acabamos por beneficiar desta situação pois ao mencionarmos que a Metatheke está associada à UA as pessoas reconhecem o nosso mérito enquanto empresa inovadora”, salienta.

Quanto a projectos a Metatheke está neste momento envolvida no quiosque digital Recortes.pt. “O objectivo é construir o arquivo nacional de jornais e revistas em formato digital e esperamos até ao final de 2008 reunir mais de 100 publicações nacionais que podem ser consultadas e pesquisadas através da Internet”, explica Pedro Almeida. Acrescenta ainda que este projecto “acaba por ser a 'montra” de tecnologia da Metatheke, pois grande parte do que desenvolvemos está aqui directamente aplicada”.





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