Em 2013, o desemprego nacional atingiu um pico histórico: 826,7 mil desempregados. Em junho deste ano, ao fecho do segundo trimestre, as contas do Instituto Nacional de Estatística (INE) traçavam um novo cenário contabilizando 461,4 mil portugueses em situação de desemprego. Menos 365,3 mil profissionais do que em 2013, no pico da crise nacional. Quais os sectores de atividade que sustentam esta recuperação? Onde é que foram criados mais postos de trabalho? A análise de três anos e meio de dados estatísticos - de 2013 ao segundo trimestre de 2017 - relativos à empregabilidade nacional, através dos Inquéritos ao Emprego, do INE, demonstra que a criação de emprego em Portugal teve quatro grandes motores de aceleração: as indústrias transformadoras, as atividades de saúde e apoio social, o comércio e as atividades ligadas ao alojamento, restauração e similares. Juntos, estes quatro sectores criaram em solo nacional 251,8 mil empregos desde 2013.
As indústrias transformadoras foram o grande dinamizador da criação de emprego em Portugal no cenário pós-crise. Em três anos e meio o sector que abarca atividades tão diversas como a produção de bens de consumo e bens de investimento - compreendendo por exemplo, o fabrico de componentes, partes e acessórios de máquinas e de equipamentos, de novos produtos novos a partir de sucata e resíduos, a montagem de componentes ou a reparação, manutenção e instalação industrial especializada de máquinas e equipamentos-, criou 79,5 mil novos empregos em solo nacional.
O segundo sector no ranking dos que mais empregos criaram nos últimos três anos e meio é o da Saúde e Apoio Social, com 71,4 mil novos empregos. A análise dos dados do INE revela ainda que o Comércio garantiu a criação de 51,2 mil empregos e que os sectores do Alojamento, Restauração e Similares e da Educação ganharam, respetivamente, 49,7 mil e 37 mil profissionais nos últimos três anos e meio.
Do outro lado da balança laboral está o sector da Agricultura, produção animal, caça, floresta e pesca que extinguiu 121,2 mil postos de trabalho no período em análise, destacando-se como a área de atividade que perdeu mais profissionais. As atividades ligadas à contratação de pessoal doméstico também registaram uma quebra de 19,9 mil empregos e a Administração Pública e as Indústrias Extrativas reduziram em 1,8 mil e 1,1 mil, respetivamente, o seu número de profissionais desde 2013.
As marcas da precariedade
Ao todo, em três anos e meio, sairam das estatísticas do desemprego 365,3 mil profissionais. Significa isto que todos eles encontraram emprego? Não. Os mesmos dados estatísticos do INE revelam que em 2013, a dimensão total da população empregada em Portugal era de 4561,5 mil trabalhadores, sendo atualmente de 4760,4 mil. Um acréscimo de apenas 198,9 mil profissionais ativos que fica muito aquém dos 365,3 mil profissionais que abandonaram, segundo o INE, a condição de desempregados nos últimos três anos e meio.
A disparidade de números poderá justificar-se em parte com a emigração, já que o Observatório da Emigração continua a colocar Portugal como o segundo país europeu com mais emigrantes, a uma média de 110 mil saídas por ano. Só Malta supera as estatísticas nacionais, com 24,7% da sua população emigrada contra os 22% registados em Portugal.
Não se pense porém que todo o emprego criado em solo nacional no período pós-crise é estável e está isento de precariedade. Na verdade, os dados relativos ao segundo trimestre de 2017 demonstram que 727,9 mil profissionais portugueses possuem contratos a termo, um aumento de 6,8% face ao trimestre anterior, e que 782,5 mil trabalham como profissionais independentes (mais 3% do que no trimestre anterior).
No último trimestre de 2013, os números eram diferentes: 634,8 mil portugueses tinham vínculos contratuais a termo (mais 8,5% do que no período homólogo) e 683,7 mil eram trabalhadores independentes, menos 98,8 mil profissionais do que os números atuais. Os dados recolhidos permitem também constatar que apesar da recuperação económica e da crescente dinâmica nas contratações registada nos últimos meses, cerca de 62% dos jovens entre os 15 e os 24 anos em Portugal possuiam vínculos contratuais temporários. Um número que apesar de elevado, marca uma tendência de inversão face aos 67% registados em 2016.
Apesar destes indicadores, o Banco Central Europeu destaca a recuperação do mercado de trabalho nacional como um bom exemplo na zona Euro. Portugal é apontado no último boletim económico da instituição como um dos cinco países da zona euro com taxas de recuperação interessantes ao nível da empregabilidade, desde o seu pico máximo de desemprego. A descida nacional do nível de desemprego de 32%, registada em 2016 (três anos após o seu pico máximo) é só superada pela Irlanda, com uma quebra de 36%.