Ruben Eiras
AS MULHERES continuam afastadas dos cargos de decisão
tanto em Portugal como ao nível da União Europeia. De acordo
com os últimos dados divulgados pela Comissão Europeia,
o sexo feminino só ocupa, em média, 5% dos cargos de topo
no nosso país e não mais do que 10% no espaço europeu.
Com efeito, no total de profissionais que trabalham como gestores de
topo nas empresas públicas e no sector do serviços, só
3% são mulheres em Portugal e a UE fica-se pelos 2%.
Quanto aos cargos de decisão política, a Europa e Portugal
contam com 6% e 7%, respectivamente, de mulheres que exerceram funções
de ministras e secretárias de Estado.
Mulheres continuam afastadas dos cargos de topo
Para Maria das Dores Guerreiro, socióloga e investigadora no
ISCTE, estes indicadores são prova de que "existe uma
forte segregação das mulheres em lugares de topo",
em grande parte devido ao facto de a sua entrada em posições
qualificadas no mercado de trabalho ser recente.
Uma situação corroborada pelo próprio Governo.
De acordo com a resposta enviada por escrito pela Comissão para
a Igualdade no Trabalho e Emprego (CITE) ao EXPRESSO, "o significativo
acréscimo registado, nos últimos anos, no acesso das mulheres
à qualificação e, em particular, a graus de ensino
superior, não encontra ainda reflexo, em termos equivalentes,
na sua posição relativa face aos homens no mercado de
trabalho, no que respeita, por exemplo, à participação
em cargos de gestão".
Além disso, a investigadora do ISCTE aponta que, embora Portugal
se situe acima da média da UE, as variações são
"insignificantes". Uma perspectiva perfilhada por Manuel
Meirinho, docente no Instituto Superior de Ciências Sociais e
Políticas e coordenador de um estudo sobre a participação
política das mulheres portuguesas que está a ser realizado
por aquela universidade.
Não obstante o panorama de sub-representação das
mulheres em funções de decisão, aquele investigador
salienta que as tendências confirmam "o peso crescente
da representação feminina nas estruturas electivas"
- como, por exemplo, os parlamentos - "e as não electivas,
independentemente do seu poder de decisão efectivo".
Um dos resultados mais visíveis desta nova vaga de influência
das mulheres na política é a feminização
das agendas políticas. "Hoje é possível
que os problemas, preocupações e valores das mulheres
sejam discutidos, debatidos e legislados mais abertamente e mais frequentemente",
observa Maria da Conceição Teixeira, docente no ISCSP
e coordenadora-adjunta daquele estudo.
Para esta especialista, o reforço da presença das mulheres
na política fez com que a agenda feminista chegasse à
esfera pública gerando um impacto significativo na sociedade.
"As questões da legalização do aborto e
da igualdade salarial são disso prova", exemplifica.
Por outro lado, os dados da Comissão Europeia mostram que o sexo
feminino encontra-se melhor representado na classe profissional dos
altos funcionários públicos: 14% em Portugal e 19% na
União Europeia.
Maria das Dores Guerreiro explica a maior representatividade das mulheres
neste segmento profissional, devido às condições
mais propícias para desenvolverem uma carreira na administração
pública. "Como as subidas se fazem por concurso público,
nos quais contam muito as qualificações, as mulheres conseguiram
subir nos escalões profissionais, porque possuem um maior nível
de escolaridade do que os homens", explica.
O grande fosso laboral entre os sexos em Portugal situa-se no segmento
profissional dos juízes do Supremo Tribunal - enquanto que na
UE já existem 28% de mulheres com estas responsabilidades, em
Portugal o sexo feminino é inexistente neste cargo.
Segundo a CITE, isto deve-se ao facto de o acesso à magistratura
ter estado vedado às mulheres antes de 1974. "O mesmo
acontece, aliás, a nível da carreira diplomática,
pelas mesmas razões", acrescenta o comunicado daquele
organismo.
Para inverter a segregação das mulheres nos cargos de
decisão, Maria das Dores Guerreiro defende que o fomento de uma
mentalidade que promova a igualdade de oportunidades para ambos os sexos.
Isto passa por uma maior repartição das tarefas e das
responsabilidades familiares entre o casal.
"É a única forma de conseguir libertar a mulher
do peso excessivo que carrega na vida familiar e obter mais tempo para
a sua vida profissional", remata.