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Formação técnica, precisa-se

04.04.2003


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Ruben Eiras

PORTUGAL tem que apostar numa política de formação focalizada nas competências técnicas e que leve em conta as necessidades do mercado, a fim de conseguir aumentar a produtividade.


Esta foi a conclusão do debate gerado no painel "A importância da formação profissional nas empresas", organizado pela Certitecna, uma empresa de engenharia de segurança. A iniciativa decorreu no dia 28 de Março, integrada na feira Segurex 2003, que decorreu na FIL, no Parque das Nações, em Lisboa.

Embora os últimos dados da formação profissional do Ministério do Trabalho mostrem que, entre 1998 e 2000, as empresas investiram mais nas áreas de engenharia e fabrico (16,4%), de informática (14,7%), vendas e "marketing" (13,4%), Carlos Pitacas Antunes, o responsável pela gestão do Programa Equal, adverte que muitas das acções formativas de nível técnico estão desadequadas tecnologicamente.

"Na nossa indústria, entre 60% e 70% das máquinas ainda são manuais ou semiautomáticas. Estamos equipados com a sucata da Europa", alerta, realçando que é urgente uma acção no terreno que incentive os empresários a adoptarem processos produtivos mais avançados tecnologicamente.

Carlos Pitacas Antunes avançou que o Equal (programa comunitário que vem substituir o Adapt) vai, neste ano, concentrar esforços na colocação em prática dos estudos e investigações que na última década fizeram o levantamento de uma série de boas práticas a este nível. "Se os resultados não forem bons, não há dúvida de que a culpa é inteiramente nossa", admite.

Mas será que a força de trabalho portuguesa, com tão baixas qualificações, terá capacidade para aprender a lidar com as novas tecnologias? Maria da Conceição Afonso, técnica da Direcção Geral do Emprego e Relações de Trabalho, está convencida que sim. Isto porque, se a população activa nacional não possuísse, na prática, mais competências do que aquelas que são reconhecidas a nível formal, "nós não tínhamos conseguido alcançar o nível competitivo que conquistámos durante a década de noventa", observa.

Todavia, aquela responsável criticou o facto da aposta séria na formação de adultos - crucial para actualizar as competências da força laboral portuguesa - se ter dado tardiamente e com "má articulação entre o IEFP e o Ministério da Educação".

Uma crítica à qual Carlos Fonseca, técnico do IEFP, não respondeu directamente, mas avançou que aquela entidade estatal está a testar um novo modelo de formação decomposto por áreas de competência técnicas e operacionais. "Neste novo formato, os trabalhadores só frequentarão os módulos necessários ao preenchimento das suas lacunas formativas", assegura.

Uma mudança de orientação defendida por Horácio Covita, o responsável pelo projecto dos Centros de Recursos de Conhecimento do Instituto para a Inovação da Formação, que não poupou críticas à política formativa seguida nos últimos 15 anos: "A maioria dos cursos foi só formação em sala, de papel e lápis, porque é mais barata e dá menos trabalho".

A comunidade profissional dos formadores também não escapou. "Há pouco esforço por parte dos formadores no sentido de compreenderem os problemas das empresas; a formação está demasiado focalizada na oferta e despreza a procura. Isto não pode continuar assim", sublinha. Este responsável também alertou para a proliferação dos "turbo-formadores", profissionais que "dão formação em quase todas as áreas".

Para inverter esta situação, Horácio Covita sugeriu a indexação do financiamento da formação ao cumprimento de critérios de empregabilidade dos cursos, a aposta na especialização dos formadores por áreas, o envolvimento dos gestores das empresas na concepção dos programas de formação públicos e a adopção de auditorias de formação profissional para avaliar a eficácia dos programas.


 

 







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