Cátia Mateus
A FORMAÇÃO "outdoor" chegou a
Portugal nos anos 90. Trata-se de uma metodologia delineada para fomentar
as competências comunicacionais, através do trabalho em equipa.
Os benefícios para a produtividade são inquestionáveis.
Aventura e lazer eliminam 'barreiras'
A aprendizagem no terreno
LIDERANÇA, comunicação, espírito
de equipa, produtividade, integração, capacidade de negociação
e argumentação, dedicação, excelência,
adaptação e motivação. Eis os eixos basilares
de qualquer organização moderna. Aos profissionais de hoje,
exige-se que "vistam a camisola" e jamais percam de vista as
metas da empresa.
Todavia, a crescente competitividade e a globalização dos
mercados trouxeram à realidade laboral o conceito "pressão"
e para os trabalhadores do século XXI nem sempre é fácil
caminhar para a meta sem desvios. Quando o espírito de equipa ameaça
esmorecer e os resultados da empresa se ressentem da desmotivação
dos seus recursos, a formação "outdoor" apresenta-se
como a melhor arma de combate.
Ao contrário da formação tradicional (em sala), a
formação "outdoor" alia a componente lazer/aventura
à aprendizagem. Neste método, confrontam-se os participantes
com situações diferentes do habitual mas que reflectem a
realidade da organização em que se inserem (ver caixa "A
aprendizagem no Terreno").
Pede-se aos formandos que aprendam através da sua própria
experiência, ganhando consciência directa das suas limitações
em várias áreas de actuação, procurando superá-las
num contexto de interacção grupal. O objectivo é
que no final da formação, se partilhem vivências e
se criem âncoras para a sua aplicação no contexto
laboral.
Trata-se de levar o participante a tomar consciência das suas fraquezas
para que posteriormente possa moldar o seu comportamento. Ou não
fosse, agora mais do que nunca, válida a velha máxima de
Kurt Hahn: "A sua fraqueza é a sua maior oportunidade".
E são muitos os que reconhecem os benefícios deste tipo
de formação (ver caixa "Aventura e Lazer eliminam 'barreiras'").
Além de manifestamente promoverem a melhoria das aptidões
comunicacionais, contribuírem para o bem estar físico e
emocional e para a motivação dos participantes, às
formação "outdoor" é reconhecido um vasto
leque de valências.
Para Mário Henriques, "executive partner" da Team Work
Consultants, "o 'outdoor' fornece contributos muito concretos
para os níveis de rendimento no trabalho. Mas isso só acontece
se as pessoas se envolverem na aprendizagem e se esta se mostrar adequada
à realidade laboral". Talvez por isso, o formado encontre
a formação "outdoor" como sendo uma das ferramentas
mais eficazes para a optimização do rendimento e motivação
dos indivíduos em termos de trabalho.
Segundo Mário Henriques, os resultados desta formação
aumentam proporcionalmente ao envolvimento emocional dos formandos. "Regra
geral, estas acções confrontam os participantes com situações
de teste entre sucesso e fracasso. A forma como reagem a tais situações
contribui para o seu auto-conhecimento, dando-lhes a possibilidade de
alterarem comportamentos menos benéficos", explica. Essencialmente,
estas acções de formação são procuradas
por empresas que desejam melhorar as competências das suas equipas,
associando a aprendizagem a aspectos lúdicos.
Uma metodologia que para Lúcio Lampreia, "training manager"
da Egor, define o sucesso deste tipo de formação. Garante
o responsável que "o bem-estar físico e emocional
estão associados e têm uma relação directa
na produtividade laboral".
O vínculo entre as emoções e o bem-estar físico
é particularmente forte nos sentimentos negativos como a raiva,
ansiedade ou depressão. Estados que quando intensos e agravados
aumento o risco de exposição a doenças. Para Lúcio
Lampreia, "na formação 'outdoor', é um ponto-chave
que os aspectos motivcacionais e emocionais contribuem para o fortalecimento
das relações de trabalho".
O responsável acredita que "estas acções
requerem o desenvolvimento de competências de criatividade, dando
às pessoas a possibilidade de descobrirem novos conceitos e novas
formas de actuar".
Uma opinião também partilhada por Eva Amaral, responsável
do departamento pedagógico da TGV - Treino e Gestão de Valências,
para quem "a formação 'outdoor' benéficos
impactos no aumento da produtividade dos trabalhadores".
Face à experiência da sua empresa, Eva Amaral assegura que
"os participantes vão tendo ao longo da formação
um maior conhecimento sobre si próprios e da maneira de actuar
dos outros elementos, em termos de postura, atitudes e reacções".
Dados analisados por especialistas para que, posteriormente à formação,
se trabalhem com os formandos os aspectos a optimizar no dia-a-dia profissional.
Corrigir atitudes pela via do exercício físico
E é nesta componente que segundo Mário Henriques e Hunter
Spears Halder, responsável da consultora de formação
Spirit Teams, reside o grande trunfo da formação experiencial.
Para ambos, são indiscutíveis os resultados desta formação
em matéria comportamental. Daí que segundo Mário
Henriques, "mais importante do que o 'outdoor' em si, é
a análise que dai resulta, é o trabalho de continuidade
feito depois na empresa. É aí que se vêem os benefícios
desta formação e se ela foi ou não bem sucedida".
Para Hunter Halder, "é a experiência que conduz as
pessoas à consciência da necessidade de mudança".
Talvez por isso, para este americano, a formação "outdoor"
seja a melhor forma de adquirir essa consciência.
É que segundo Hunter Halder, "a motivação
é uma coisa de um dia, mas atitude é algo que nunca se perde.
É a formação 'outdoor', ajuda as pessoas a ganharem
determinada atitude perante o trabalho".
E se em Portugal o grande "boom" da formação outdoor
acontece apenas na década de 90, a realidade brasileira é
bem distinta. Nos anos 70 já o outro lado do atlântico se
lançava na aventura da aprendizagem experiencial.
Contudo, apesar dos anos de experiência que nos separam, a consciencialização
dos benefícios deste tipo de formação é comum
os dois países.
A formadora brasileira Maria Rita Gramigna, também presidente da
MRG - Consultoria e Treinamento Empresarial, refere que "o contacto
com a natureza, o ambiente descontraído e a forma como são
conduzidas as actividades ao ar livre promovem um clima de confraternização
e bem estar entre os participantes que se reflecte na reacção
física e emocional do grupo".
Segundo Rita Gramigna, "em qualquer formação outdoor,
estão contidas as cinco emoções básicas: medo,
amor, raiva, tristeza e amizade". Diz a responsável, que
é desafiando estas emoções e trabalhando-as de forma
interpessoal que se alcançam os resultados plenos desta formação.
Para Rita Gramigna, será este o maior contributo de "aprender
vivendo".
Aventura e lazer eliminam 'barreiras'
TRABALHAR em equipa, de uma forma partilhada, é
hoje uma competência fundamental. Mas nem todos os profissionais
têm particular aptidão neste campo.
A formação "outdoor" é, pelas suas características,
uma ferramenta privilegiada no treino da interacção grupal
e da motivação para a optimização de resultados.
Conheça as suas aplicações e benefícios:
ÁREAS DE ACTUAÇÃO:
- Integração de novos elementos nas equipas
- Desenvolvimento de relacionamentos interpessoais
- Aumento da confiança individual e colectiva
- Potenciar o espírito e capacidades de liderança e comunicação
grupaln -
- Adaptação à mudança
- Optimizar práticas de gestão de conflito e tensões
- Fomentar a partilha de valores
- Aumentar a eficácia do trabalho de grupo,
- Envolver os quadros nas metas das empresas
BENEFÍCIOS PARA OS PARTICIPANTES:
- Oportunidade de revisão dos valores essenciais à convivência
laboral harmoniosa
- Estimula mudanças na forma de encarar o mundo dos negócios
nas organizações (do paradigma da competição
para o da competitividade - cooperação para alcançar
o sucesso)
- Fomenta o dinamismo e a iniciativa
- Promove a capacidade de organização e orientação
para resultados
- Fomenta a capacidade de tomar decisões frente a conflitos ou
factos imprevisíveis
- Desenvolve a visão de trabalho em equipa
- Eleva o nível de consciência do papel de cada participante
no processo produtivo
- Promove mudanças de comportamento mediante reflexões sobre
as suas experiências e processos de aprendizagem
- Desenvolve o lema de "corpo são, mente sã"
A aprendizagem no terreno
A FORMAÇÃO "outdoor" surgiu nos Estados Unidos
da América. O seu objectivo era levar os participantes a enfrentar
e resolver com êxito situações-limite, com o intuito
de posteriormente aplicarem essas experiências no desenvolvimento
da sua actividade profissional.
Com o passar dos anos, as metodologias utilizadas sofreram alterações
e actualmente a formação "outdoor" é, antes
de mais, uma ferramenta utilizada pelas empresas na motivação
e formação dos seus quadros, num ambiente atractivo e descontraído.
Nos programas de formação "outdoor" são
trabalhadas competências que vão da comunicação,
liderança, planeamento, produtividade, organização,
integração, dedicação, mudança, adaptabilidade,
negociação, argumentação, trabalho de equipa
("team building") até à resolução
de conflitos. Mas não se iluda quem pensa que há um protótipo
para um programa de formação "outdoor".
Para Mário Henriques, "executive partner" da Team Work,
"o grande trunfo destas acções de formação
é o facto de serem pensadas caso a caso, em função
dos objectivos e metas de cada empresa". Nos dias que correm,
é essencial para uma empresa competitiva ter objectivos bem definidos.
Muitas vezes, o volume de trabalho e pressão daí resultante
fazem com que as metas fiquem esquecidas. A formação "outdoor"
actua neste campo, mantendo acesa a coesão da equipa em prole dos
objectivos empresariais.
O que se faz é reunir uma equipa de profissionais e colocá-los
num "território" desconhecido, com um plano de tarefas
e metas para cumprir, definidos em função do que a empresa
quer ver melhorado no seu funcionamento. E aí reside, de acordo
com Hunter Halder, responsável da consultora Spirit Teams, "o
grande trunfo da formação outdoor".
Para este responsável, "é muito importante que a
empresa que presta serviços de formação 'outdoor',
saiba estruturar o plano de actividades em função dos objectivos
a alcançar pela empresa".
Regra geral, qualquer programa é concebido para que os participantes
o vivam de forma intensa e sem quaisquer tempos livres. Ao tomarem consciência
das suas dificuldades e limitações, estarão aptos
a transpor essa experiência para o dia-a-dia da empresa, alterando
a sua postura em função dos objectivos a atingir.
Para que esta formação funcione é necessário
que os participantes tenham abertura de espírito e aceitem o desafio,
sem receio de se exporem. De outra forma, corre-se o risco de concluída
a formação, não existir qualquer repercussão
directa no dia-a-dia da empresa. É que para Mário Henriques,
"o mais importante na formação 'outdoor' não
será tanto a actividade desenvolvida no exterior e sim a componente
pedagógica que daí resulta".