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Formação saudável

11.04.2003


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Cátia Mateus

A FORMAÇÃO "outdoor" chegou a Portugal nos anos 90. Trata-se de uma metodologia delineada para fomentar as competências comunicacionais, através do trabalho em equipa. Os benefícios para a produtividade são inquestionáveis.




Aventura e lazer eliminam 'barreiras'




A aprendizagem no terreno


LIDERANÇA, comunicação, espírito de equipa, produtividade, integração, capacidade de negociação e argumentação, dedicação, excelência, adaptação e motivação. Eis os eixos basilares de qualquer organização moderna. Aos profissionais de hoje, exige-se que "vistam a camisola" e jamais percam de vista as metas da empresa.

Todavia, a crescente competitividade e a globalização dos mercados trouxeram à realidade laboral o conceito "pressão" e para os trabalhadores do século XXI nem sempre é fácil caminhar para a meta sem desvios. Quando o espírito de equipa ameaça esmorecer e os resultados da empresa se ressentem da desmotivação dos seus recursos, a formação "outdoor" apresenta-se como a melhor arma de combate.

Ao contrário da formação tradicional (em sala), a formação "outdoor" alia a componente lazer/aventura à aprendizagem. Neste método, confrontam-se os participantes com situações diferentes do habitual mas que reflectem a realidade da organização em que se inserem (ver caixa "A aprendizagem no Terreno").

Pede-se aos formandos que aprendam através da sua própria experiência, ganhando consciência directa das suas limitações em várias áreas de actuação, procurando superá-las num contexto de interacção grupal. O objectivo é que no final da formação, se partilhem vivências e se criem âncoras para a sua aplicação no contexto laboral.

Trata-se de levar o participante a tomar consciência das suas fraquezas para que posteriormente possa moldar o seu comportamento. Ou não fosse, agora mais do que nunca, válida a velha máxima de Kurt Hahn: "A sua fraqueza é a sua maior oportunidade".

E são muitos os que reconhecem os benefícios deste tipo de formação (ver caixa "Aventura e Lazer eliminam 'barreiras'"). Além de manifestamente promoverem a melhoria das aptidões comunicacionais, contribuírem para o bem estar físico e emocional e para a motivação dos participantes, às formação "outdoor" é reconhecido um vasto leque de valências.

Para Mário Henriques, "executive partner" da Team Work Consultants, "o 'outdoor' fornece contributos muito concretos para os níveis de rendimento no trabalho. Mas isso só acontece se as pessoas se envolverem na aprendizagem e se esta se mostrar adequada à realidade laboral". Talvez por isso, o formado encontre a formação "outdoor" como sendo uma das ferramentas mais eficazes para a optimização do rendimento e motivação dos indivíduos em termos de trabalho.

Segundo Mário Henriques, os resultados desta formação aumentam proporcionalmente ao envolvimento emocional dos formandos. "Regra geral, estas acções confrontam os participantes com situações de teste entre sucesso e fracasso. A forma como reagem a tais situações contribui para o seu auto-conhecimento, dando-lhes a possibilidade de alterarem comportamentos menos benéficos", explica. Essencialmente, estas acções de formação são procuradas por empresas que desejam melhorar as competências das suas equipas, associando a aprendizagem a aspectos lúdicos.

Uma metodologia que para Lúcio Lampreia, "training manager" da Egor, define o sucesso deste tipo de formação. Garante o responsável que "o bem-estar físico e emocional estão associados e têm uma relação directa na produtividade laboral".

O vínculo entre as emoções e o bem-estar físico é particularmente forte nos sentimentos negativos como a raiva, ansiedade ou depressão. Estados que quando intensos e agravados aumento o risco de exposição a doenças. Para Lúcio Lampreia, "na formação 'outdoor', é um ponto-chave que os aspectos motivcacionais e emocionais contribuem para o fortalecimento das relações de trabalho".

O responsável acredita que "estas acções requerem o desenvolvimento de competências de criatividade, dando às pessoas a possibilidade de descobrirem novos conceitos e novas formas de actuar".

Uma opinião também partilhada por Eva Amaral, responsável do departamento pedagógico da TGV - Treino e Gestão de Valências, para quem "a formação 'outdoor' benéficos impactos no aumento da produtividade dos trabalhadores".

Face à experiência da sua empresa, Eva Amaral assegura que "os participantes vão tendo ao longo da formação um maior conhecimento sobre si próprios e da maneira de actuar dos outros elementos, em termos de postura, atitudes e reacções".

Dados analisados por especialistas para que, posteriormente à formação, se trabalhem com os formandos os aspectos a optimizar no dia-a-dia profissional.

Corrigir atitudes pela via do exercício físico

E é nesta componente que segundo Mário Henriques e Hunter Spears Halder, responsável da consultora de formação Spirit Teams, reside o grande trunfo da formação experiencial.

Para ambos, são indiscutíveis os resultados desta formação em matéria comportamental. Daí que segundo Mário Henriques, "mais importante do que o 'outdoor' em si, é a análise que dai resulta, é o trabalho de continuidade feito depois na empresa. É aí que se vêem os benefícios desta formação e se ela foi ou não bem sucedida".

Para Hunter Halder, "é a experiência que conduz as pessoas à consciência da necessidade de mudança". Talvez por isso, para este americano, a formação "outdoor" seja a melhor forma de adquirir essa consciência.

É que segundo Hunter Halder, "a motivação é uma coisa de um dia, mas atitude é algo que nunca se perde. É a formação 'outdoor', ajuda as pessoas a ganharem determinada atitude perante o trabalho".

E se em Portugal o grande "boom" da formação outdoor acontece apenas na década de 90, a realidade brasileira é bem distinta. Nos anos 70 já o outro lado do atlântico se lançava na aventura da aprendizagem experiencial.

Contudo, apesar dos anos de experiência que nos separam, a consciencialização dos benefícios deste tipo de formação é comum os dois países.

A formadora brasileira Maria Rita Gramigna, também presidente da MRG - Consultoria e Treinamento Empresarial, refere que "o contacto com a natureza, o ambiente descontraído e a forma como são conduzidas as actividades ao ar livre promovem um clima de confraternização e bem estar entre os participantes que se reflecte na reacção física e emocional do grupo".

Segundo Rita Gramigna, "em qualquer formação outdoor, estão contidas as cinco emoções básicas: medo, amor, raiva, tristeza e amizade". Diz a responsável, que é desafiando estas emoções e trabalhando-as de forma interpessoal que se alcançam os resultados plenos desta formação. Para Rita Gramigna, será este o maior contributo de "aprender vivendo".





Aventura e lazer eliminam 'barreiras'

TRABALHAR em equipa, de uma forma partilhada, é hoje uma competência fundamental. Mas nem todos os profissionais têm particular aptidão neste campo.

A formação "outdoor" é, pelas suas características, uma ferramenta privilegiada no treino da interacção grupal e da motivação para a optimização de resultados.

Conheça as suas aplicações e benefícios:

ÁREAS DE ACTUAÇÃO:

- Integração de novos elementos nas equipas

- Desenvolvimento de relacionamentos interpessoais

- Aumento da confiança individual e colectiva

- Potenciar o espírito e capacidades de liderança e comunicação grupaln -

- Adaptação à mudança

- Optimizar práticas de gestão de conflito e tensões

- Fomentar a partilha de valores

- Aumentar a eficácia do trabalho de grupo,

- Envolver os quadros nas metas das empresas


BENEFÍCIOS PARA OS PARTICIPANTES:


- Oportunidade de revisão dos valores essenciais à convivência laboral harmoniosa

- Estimula mudanças na forma de encarar o mundo dos negócios nas organizações (do paradigma da competição para o da competitividade - cooperação para alcançar o sucesso)

- Fomenta o dinamismo e a iniciativa

- Promove a capacidade de organização e orientação para resultados

- Fomenta a capacidade de tomar decisões frente a conflitos ou factos imprevisíveis

- Desenvolve a visão de trabalho em equipa

- Eleva o nível de consciência do papel de cada participante no processo produtivo

- Promove mudanças de comportamento mediante reflexões sobre as suas experiências e processos de aprendizagem

- Desenvolve o lema de "corpo são, mente sã"





A aprendizagem no terreno

A FORMAÇÃO "outdoor" surgiu nos Estados Unidos da América. O seu objectivo era levar os participantes a enfrentar e resolver com êxito situações-limite, com o intuito de posteriormente aplicarem essas experiências no desenvolvimento da sua actividade profissional.

Com o passar dos anos, as metodologias utilizadas sofreram alterações e actualmente a formação "outdoor" é, antes de mais, uma ferramenta utilizada pelas empresas na motivação e formação dos seus quadros, num ambiente atractivo e descontraído.

Nos programas de formação "outdoor" são trabalhadas competências que vão da comunicação, liderança, planeamento, produtividade, organização, integração, dedicação, mudança, adaptabilidade, negociação, argumentação, trabalho de equipa ("team building") até à resolução de conflitos. Mas não se iluda quem pensa que há um protótipo para um programa de formação "outdoor".

Para Mário Henriques, "executive partner" da Team Work, "o grande trunfo destas acções de formação é o facto de serem pensadas caso a caso, em função dos objectivos e metas de cada empresa". Nos dias que correm, é essencial para uma empresa competitiva ter objectivos bem definidos.

Muitas vezes, o volume de trabalho e pressão daí resultante fazem com que as metas fiquem esquecidas. A formação "outdoor" actua neste campo, mantendo acesa a coesão da equipa em prole dos objectivos empresariais.

O que se faz é reunir uma equipa de profissionais e colocá-los num "território" desconhecido, com um plano de tarefas e metas para cumprir, definidos em função do que a empresa quer ver melhorado no seu funcionamento. E aí reside, de acordo com Hunter Halder, responsável da consultora Spirit Teams, "o grande trunfo da formação outdoor".

Para este responsável, "é muito importante que a empresa que presta serviços de formação 'outdoor', saiba estruturar o plano de actividades em função dos objectivos a alcançar pela empresa".

Regra geral, qualquer programa é concebido para que os participantes o vivam de forma intensa e sem quaisquer tempos livres. Ao tomarem consciência das suas dificuldades e limitações, estarão aptos a transpor essa experiência para o dia-a-dia da empresa, alterando a sua postura em função dos objectivos a atingir.

Para que esta formação funcione é necessário que os participantes tenham abertura de espírito e aceitem o desafio, sem receio de se exporem. De outra forma, corre-se o risco de concluída a formação, não existir qualquer repercussão directa no dia-a-dia da empresa. É que para Mário Henriques, "o mais importante na formação 'outdoor' não será tanto a actividade desenvolvida no exterior e sim a componente pedagógica que daí resulta".



 





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