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Executivos no Desemprego

Em cada dia que passa, um director de uma empresa é despedido. Nos centros de emprego do país são quase 5000 o número de inscritos nesta categoria profissional
26.05.2006


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Marisa Antunes
O desemprego bate a todas as portas e até mesmo aqueles que estão no topo da hierarquia das empresas não estão a ser poupados. Só no mês passado, 31 directores de empresas registaram-se nos centros de emprego. A um ritmo médio diário de um por dia, estes profissionais de primeira linha foram engrossar as estatísticas, que só nesta categoria totalizam, neste momento, 4843 inscritos como desempregados.

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«Apesar de elevado, este número, ainda assim não reflecte a realidade. Há muitos mais directores e altos quadros que não se inscrevem por uma questão de ego e como têm uma boa situação económica acabam por prescindir do direito ao subsídio», lembra Jorge Marques, presidente da Associação Portuguesa de Técnicos e Gestores de Recursos Humanos (APG).

Para o especialista, «este fenómeno não vai diminuir tão cedo». As deslocalizações, fusões e falências de empresas vão continuar a ditar a lógica de redução de custos, típico de um «modelo de gestão pobre como é o praticado em Portugal». «Frequentemente os profissionais mais velhos e também os mais bem remunerados são dispensados. Mas quando se manda fora a experiência estamos a mandar fora o conhecimento», aponta Jorge Marques.

Anabela Ventura, directora da DBM, empresa líder em Portugal na área do «Outplacement», que apoia profissionalmente o processo de recolocação dos trabalhadores dispensados pelas empresas que contrataram os seus serviços, lembra que «a parte ‘menos má' da redução dos custos é que a maioria destes quadros consegue arranjar emprego no espaço de seis meses». Mais precisamente, 65% dos executivos de topo que passam pela DBM, levam esse período de tempo para conseguir nova colocação.

Para Álvaro N. (nome fictício), 50 anos, com uma licenciatura em Engenharia, demorou um pouco mais. Director-geral de uma empresa na área das tecnologias durante cinco anos, Álvaro acabaria por sair «de comum acordo», com a administração.

O executivo estava inserido numa empresa que fazia parte de um grupo, detentor de várias outras participações, algumas das quais acabaram por ser vendidas, tendo provocado movimentações diversas ao nível dos recursos humanos. «A minha função, que no início fazia sentido, ficou subitamente esvaziada. Sempre defendi que é lícito trabalhar para uma organização enquanto se cria valor. Por isso, nessa altura, resolvi sair», recorda o engenheiro.

Apesar da conjuntura económica, Álvaro N. tinha expectativas elevadas na procura de novas oportunidades. «Nunca pensei que levaria nove meses. Achei que iria ter facilidade em arranjar outra colocação», admite. Durante o processo, contou com a ajuda dos técnicos da DBM, que o ensinaram a gerir profissionalmente a sua carteira de contactos, a sua abordagem na procura de emprego e até a elaboração do seu currículo.

Actualmente, está a desempenhar funções de direcção de um departamento numa empresa também do sector das tecnologias, com uma remuneração que acabou por descer em 30% comparativamente ao ordenado anterior. Apesar da redução de ordenado e de importância de funções, Álvaro N. teve sorte pois tem desenvolvido a sua carreira numa área com futuro.

Como lembra Anabela Ventura, responsável da DBM, no sector farmacêutico, «que tem sofrido muitas fusões», ou na indústria, «onde continuam a surgir situações de encerramento, de downsizing ou deslocações para a Europa do Leste ou Ásia», as oportunidades são cada vez mais escassas.





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