Em apenas cinco anos a emigração de arquitetos formados nas várias escolas de arquitetura nacionais aumentou mais de 600%, segundo dados da Ordem dos Arquitetos. O cálculo é feito com base nos pedidos de certificados que possibilitam o exercício da profissão no estrangeiro e é o espelho de uma crise crescente no sector imobiliário e na construção civil nacional que tem obrigado à procura de oportunidades além-fronteiras, não só entre os arquitetos mas também entre os engenheiros. Brasil é hoje um mercado de eleição que nenhum destes profissionais quer perder.
O incremento da rota de arquitetos e engenheiros para o Brasil começou em 2010, fruto das obras que decorrem no país para acolher já no próximo ano o Mundial de Futebol e, em 2016, os Jogos Olímpicos. A braços com uma escassez de profissionais qualificados nestas áreas, ao Brasil não restou outra hipótese senão recrutar no estrangeiro. O país forma, segundo dados oficiais, cerca de 30 mil engenheiros por ano, mas necessita de mais de 100 mil. Uma lacuna que Portugal quer, e pode, ajudar a colmatar.
Em 2000, a Ordem dos Engenheiros portuguesa e o Conselho Federal de Engenharia, Arquitectura e Agronomia do Brasil, assinaram um protocolo que poderá agora vir a ser alvo de uma remodelação. O documento visava estreitar a transferência de conhecimento e recursos humanos entre ambos os países, nomeadamente nas áreas da engenharia civil, mecânica, química, eletrotécnica e agrónoma e poderá agora ganhar um reforço em sectores atualmente estratégicos para o país como o petróleo, gás e construção civil.
Horizontes que Portugal continua a limitar
E se os arquitetos e engenheiros civis portugueses encontram no Brasil boas oportunidades de evolução profissional (até pela proximidade da língua) assumindo-se como fornecedores de mão-de-obra qualificada, esta não é a única rota onde os portugueses marcam presença. Na área da engenharia, o recrutamento de profissionais lusos por empresas estrangeiras é transversal a quase todas as áreas, com particular enfoque nas tecnologias de informação e eletrotécnica ou mecânica onde os perfis nacionais são chamados a suprir lacunas em geografias tão distintas como Moçambique, Angola, Alemanha, Noruega e outras.
Na arquitetura, mercados como Macau ou Xangai, na China, são ainda muito aliciantes para os profissionais portugueses, que encontram situações contratuais muito competitivas, como as oferecidas recentemente pela empresa norte-americana de arquitetura SOM, que lançou a nível global um programa de recrutamento para licenciados ou mestres em arquitetura, cuja remuneração variava entre os 1200 a 5000 euros mensais, por um horário de trabalho de 40 horas semanais.
Mas se este alargar de horizontes é benéfico para profissionais que não encontram em Portugal oportunidades de trabalho, para o presidente da secção regional Norte da Ordem dos Engenheiros, Fernando de Almeida Santos, a médio prazo esta saída de profissionais poderá ser um problema já que “estamos a desperdiçar a nossa mão-de-obra especializada ao não usufruir do investimento que foi realizado na sua formação”.