Cátia Mateus e Fernanda Pedro
A Região Demarcada do Douro está a fomentar
a criação de empresas de recrutamento especializadas na
actividade agrícola
NA REGIÃO Demarcada do Douro, a crescente falta de mão-de-obra
para as vindimas tornou-se um nicho de mercado a explorar. É
cada vez mais difícil assegurar os recursos humanos necessários
para a produção do "néctar dos Deuses"
e há quem aqui encontre uma oportunidade de negócio.
Nos últimos anos surgiram na região várias empresas
cuja razão de existência é fornecer mão-de-obra
para os trabalhos agrícolas nas grandes quintas vitivinícolas
locais.
A época da vindima está oficialmente aberta e a "caça"
aos trabalhadores necessários para cumprir as tarefas que se
exigem é cada vez maior.
Na Rural Douro, esta é a época de maior trabalho. A empresa
criada há dois anos pelo empresário João Edgar,
assegura grande parte da mão-de-obra para as quintas vitivinícolas
daquela que é a mais antiga região demarcada do país.
Apercebendo-se da crescente dificuldade que era angariar trabalhadores
para as actividades agrícolas, o empreendedor fez da necessidade
um negócio que garante "está para durar".
A diminuição e envelhecimento da população
no Douro torna mais difícil o recrutamento na época das
vindimas
Ao seu serviço tem, no momento, cerca de 80 trabalhadores. "Na
sua maioria são portugueses com baixos índices de escolaridade",
explica.
Todavia, a Rural Douro emprega também estrangeiros e a dificuldade
de João Edgar em recrutar trabalhadores na região demarcada
é tal, que este ano o empresário teve mesmo de ir a Amarante
buscar quem quisesse trabalhar nas vindimas.
Apesar da actividade da Rural Douro ter o seu pico nesta altura do ano,
a empresa labora o ano inteiro assegurando mão-de-obra para as
várias actividades agrícolas da região. "Em
média, nesta altura do ano, um trabalhador ganha 25 euros por
cada oito horas de trabalho", explica o empresário.
É discutível se será por esta razão que
grande parte dos trabalhadores locais opta por ir para o estrangeiro
trabalhar em actividades agrícolas. Mas o certo é que
segundo João Edgar, "aqui é cada vez mais difícil
encontrar pessoas para trabalhar na agricultura e por isso temos de
ir buscá-las fora da região".
Demografia penaliza vindimas
Ao longo dos anos, o Douro sofreu diminuições cíclicas
da sua população. Na última década, a região
perdeu cerca de 9% da população, o equivalente a 22.900
habitantes.
A agravar esta conjuntura está o facto de 15,6% da população
ter mais de 65 anos de idade, de apresentar uma baixa densidade demográfica
(58 habitantes por quilómetro quadrado) e da força de
trabalho local preferir outros países para trabalhar na agricultura
nesta altura do ano.
Talvez por isso, segundo João Calacho, técnico da Sociedade
de Promoção de Empresas e Investimento do Douro e Trás-os-Montes
(SPIDOURO), se tenha vulgarizado na região a ideia de que "já
não são os portugueses que fazem o vinho do Porto, mas
sim os estrangeiros sobretudo trabalhadores provenientes dos países
de Leste".
Para o especialista, grande parte das quintas do Douro recorre a empresas
de trabalho temporário para recrutar a sua mão-de-obra.
"Os antigos angariadores deram lugar a empresas estruturadas
que agora começam a surgir, muitas delas centradas apenas na
actividade agrícola", explica.
Além da época das vindimas, as empresas asseguram também
a força laboral especializada para as demais actividades que
se desenvolvem ao longo do ano.
Mas se são muitos os produtores que recorrem a empresas especializadas
em fornecer mão-de-obra agrícola, António Girão,
proprietário da Quinta das Torres em Mesão Frio e produtor
vinícola, "a actual conjuntura económica, a subida
da taxa de desemprego e a estagnação do sector da construção
civil, originou o retorno à terra".
Para este produtor, há zonas onde é mais difícil
encontrar mão-de-obra, mas a realidade é que nos últimos
tempos a oferta de trabalhadores cresceu. Gente desempregada que encontra
na época da vindima e nas actividades agrícolas uma forma
de subsistência.
António Girão ainda teve por isso de recorrer aos serviços
de uma empresa especializada nesta área. Tem os seus próprios
trabalhadores e quando é necessário recorrer a mão-de-obra
extra, diz encontrá-la facilmente junto da população
local.
"Este ano chegaram a vir oferecer-se à quinta para trabalhar",
confessa. Todavia, não tem dúvidas de que "nas
zonas mais interiores, encontrar trabalhadores agrícolas não
será tão fácil e aí o papel de um angariador
ou das, agora vulgarizadas empresas é determinante",
explica.
Sinais de que a aposta em negócios ligados à terra poderá
ser uma alternativa de futuro.