Ruben Eiras
O SECTOR "high-tech" em Portugal emprega apenas 7% da população
activa e representa menos de 10% do valor acrescentado na indústria
nacional, colocando de novo o país na cauda europeia. Na semana
que o Presidente da República dedicou à promoção
da inovação, estes são alguns dos traços
do retrato estatístico exposto numa análise recente do
Eurostat sobre a indústria de tecnologia de ponta na UE.
Além disso, o documento constata que cerca de
51% do total dos postos de trabalho "tecnológicos" está
concentrado no segmento de componentes eléctricos (produtos de
baixa complexidade de produção e cuja competitividade assenta
no preço).
O valor acrescentado deste sector em relação à totalidade
do "high-tech" nacional é de 35,5%, o que traduz uma
baixa produtividade significativa (só é alta quando o valor
acrescentado é maior do que o peso do sector na indústria)
no segmento mais importante do tecido tecnológico do país.
O diferencial situa-se nos 15,5%.
Face a este cenário, Jorge Sampaio sublinhou durante esta semana
que os empresários portugueses deveriam apostar na inovação
dos produtos e dos serviços, tanto nos sectores clássicos
como nos mais novos.
Não obstante as boas intenções do Presidente da República,
o sentimento que reina nas empresas que inovam é de um discurso
oco e da total ausência de uma estratégia clara para colocar
na primeira linha da política nacional o aumento do valor das actividades
empresariais.
Henrique Neto, presidente da Iberomoldes, uma das empresas-modelo no campo
da inovação de raiz portuguesa, justifica o atavismo generalizado
do tecido empresarial e universitário face à inovação
na falta de confiança das elites nacionais relativamente à
capacidade de criação da nação. "As
nossas elites conhecem mal os processos de desenvolvimento dos povos e
não estudam a fundo os casos de países de sucesso, como
a Irlanda e a Finlândia", critica.
E para este responsável, o problema essencial para o desenvolvimento
do sector tecnológico não é a baixa qualificação
geral dos recursos humanos. "Esse é um problema falso.
Os portugueses aprendem rápido, quando bem geridos. Até
hoje, por exemplo, nunca se ouviu a Autoeuropa reclamar dos RH portugueses",
argumenta.
As lacunas encontram-se nas dificuldades da internacionalização
das empresas e na falta de aposta na inovação do produto.
"O ICEP deveria ser mais ágil na informação
sobre os mercados estrangeiros e o país devia concentrar energias
na promoção de empresas integradoras de tecnologias, em
particular nos sectores da electrónica de consumo e na construção
civil", propõe.
Outra linha de acção preconizada por Henrique Neto é
a focalização da investigação universitária
na aplicação comercial de produtos e na resolução
de problemas nacionais. "Existem grandes oportunidades nos resíduos
sólidos e nos sectores de transporte e ferrovia", conclui.