Vítor S. Andrade
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ANTÓNIO - chamemos-lhe assim para evitar equívocos
-, desempregado há alguns meses do sector têxtil e da indústria
do vestuário, explicou-me, esta semana, que agora era "funcionário
público", pois tinha um subsídio de desemprego garantido
por mais de trinta meses.
Fiquei intrigado com o optimismo que envolvia as suas palavras e quis
saber se não o preocupava a situação de desempregado.
Disse-me que já recebera propostas de trabalho, mas que eram menos
aliciantes que o próprio subsídio de desemprego.
Portanto, deveria continuar assim. Fiquei perplexo com a singularidade
da situação e a pensar no que poderá ser, a prazo,
o nosso país, se a atitude dominante for a de empresários
que insistem em apostar na mão-de-obra barata, de activos que preferem
não trabalhar e de um sistema governativo que parece não
se preocupar muito com o desleixo generalizado a que chegámos.
Confesso que me incomoda tanta falta de ambição.