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Economia Digital: as competências que tem de dominar

Economia Digital: as competências que tem de dominar

Em 2014/2015 só 38% dos estudantes do ensino superior frequentavam cursos nas áreas das Tecnologias de Informação, Comunicação e Eletrónica (TICE). Sabe-se que até 2020, esta será umas das competências mais críticas nas empresas, em Portugal e no mundo. A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações, alerta para os riscos do país continuar a não conseguir atrair novos talentos para as áreas CTEM.

24.09.2016 | Por Cátia Mateus


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Economia Digital impôs profundas alterações aos modelos económicos tradicionais e ao mercado de trabalho, colocando as áreas tecnológicas entre as grandes prioridades de recrutamento das empresas. As oportunidades de emprego no sector são várias, mas faltam candidatos com as competências necessárias. Não só porque muitos jovens ainda fogem das engenharias, mas também porque as exigências ao nível das competências comportamentais também mudaram. A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento das Comunicações (APCD) estudou as skills consideradas vitais pelas empresas. O Expresso Emprego teve acesso exclusivo ao estudo e explica-lhe em que áreas de formação deve investir se quiser alavancar o seu potencial de empregabilidade.

CTEM é a sigla do sucesso. Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática (CTEM) são as áreas onde as empresas mais vão contratar no futuro. Vários estudos o comprovam, como o recente Randstad Workmonitor que revela que 71% dos empregadores consideram que os estudantes de hoje deveriam estar focados nestas áreas de quiserem garantir um emprego após a conclusão do curso, ou o do BCSD - Conselho Empresarial para o desenvolvimento Sustentável, que identificou as competências mais escassas nas empresas portuguesas até 2020.

Segundo esta análise, áreas como a engenharia informática, os perfis de suporte a bases de dados e os de desenvolvimento estarão entre os mais procurados pelas empresas, especialmente se relacionados com tecnologias ligadas a business intelligence e big data. Mas não basta ser formado nestas áreas para ter emprego certo. É preciso além disso reunir um mix de competências comportamentais que hoje as empresas, mesmo as ancoradas na técnica, consideram vitais.

O estudo agora conduzido pela APDC reforça estas tendências, e abre caminho à necessidade de reforçar com urgência a formação e a reabilitação de profissionais para as competências digitais. Pese embora a existência de alguns projetos de sucesso nesta área, a velocidade a que se estão a formar profissionais tecnológicos em Portugal é ainda insuficiente. Não só para as necessidades que existem atualmente, como também para as que se perspetiva que venham a surgir no futuro.

Célia Reis, diretora-geral da Altran, vogal da direção da APDC e uma das responsáveis pelo estudo das Qualificações Digitais agora divulgado explica que “o facto de Portugal ser cada vez mais reconhecido por empresas internacionais como um bom destino, pela qualidade da sua formação e competência dos seus profissionais, para instalar centros de desenvolvimento e de competências pode agravar o gap entre as necessidades das empresas e os profissionais qualificados disponíveis no mercado”.

A especialista cita um estudo do Conselho da Diáspora Portuguesa que aponta que até 2019, Portugal terá de formar entre 9 a 15 mil novos profissionais na área tecnológica, se não quiser perder a notoriedade que conquistou nos últimos anos junto das empresas internacionais o o seu potencial de atratividade enquanto cluster tecnológico e local ideal para a implantação de projetos de nearshoring e centros de competências e desenvolvimento.

E nesta matéria, garante Célia Reis, é necessário um investimento estruturado na formação. Não só na formação técnica de base, mas também nas competências comportamentais. “Mais do que as competências puramente técnicas, que são fundamentais, o espectro da tecnologia é de tal forma largo que o leque de competências que se hoje se exigem a um candidato abrange um mix de várias áreas e a dimensão comportamental é muito relevante”, explica Célia Reis.

O contexto tecnológico atual, garante a especialista, abre novas oportunidades de emprego também para perfis cuja qualificação não é tecnológica na sua base. Segundo o estudo, “à medida que forem criados mais empregos altamente qualificados para suportar produtos digitais e tecnologia, haverá um aumento proporcional de emprego com baixas qualificações”. Por outras palavras, por cada emprego altamente qualificado que é criado, são gerados 2,5 a 4,4 trabalhos adicionais. A resposta a esta tendência e adaptação dos candidatos a este contexto de mercado exige uma aposta estruturada em programas de formação e reconversão de profissionais para as carreiras tecnológicas.

O primeiro entrave a ultrapassar é para Célia Reis é o marketing associado à engenharia. “Comunicamos mal o valor da engenharia e há falta de marketing em relação ao que é a profissão”, explica, acrescentando que é preciso reforçar a capacidade de atrair os jovens para carreiras na engenharia, no campo da formação superior, mas também da reconversão de profissionais de outras áreas. E acrescenta, “não há qualquer razão para não se conseguir recuperar para o mercado de trabalho tecnológico profissionais de outras áreas, desde que exista uma base mínima de raciocínio lógico e um mix de competências hoje essencial a qualquer profissional”.


10 skills essenciais
Na Era do Digital as competências técnicas são fundamentais. Mas as empresas já não olham só para o background académico dos candidatos. Há skills comportamentais que valem tanto quanto um canudo no momento do recrutamento e estas são fundamentais:

Pensamento Crítico
Resolução de problemas complexos
Criatividade
Gestão de Pessoas
Inteligência emocional
Espírito colaborativo
Negociação
Flexibilidade cognitiva
Capacidade de Decisão


Boas práticas de formação TIC

Agrupamento de Escolas do Freixo
Tornou-se uma escola pública de referência ao apostar num ensino onde a tecnologia integra as atividades diárias na sala de aula. Alguns dos sucessos mais recentes têm sido projetos de robótica desenvolvidos por alunos.

Escola Global
É, muito provavelmente, a única escola em Portugal onde cada aluno tem um dispositivo para aprendizagem e onde não existem manuais em papel. Recorre a tecnologias como a escrita digital ou ferramentas digitais colaborativas, e a recursos educativos criados pelos próprios professores para proporcionar uma experiência inovadora aos alunos.

Colégio Monte Flor
Centra o seu projeto de ensino no trabalho de projeto e colaboração entre os alunos, através de dispositivos e aplicações tecnológicas.

Nova SBE
Considerada uma das melhores faculdades de Economia e Gestão da Europa, tem vindo a reforçar as competências digitais dos seus alunos. Criou uma Microsoft Academy e tornou obrigatório o exame de certificação em Excel para a conclusão do curso, tendo já certificado mais de mil alunos.

Iniciação à Programação no 1º Ciclo
A Direção-geral de Educação (DGE) lançou no último ano letivo o projeto-piloto “Iniciação à Programação no 1º Ciclo do Ensino Básico” para os alunos dos 3º e 4º anos. Participaram na iniciativa, voluntariamente, 625 escolas, 1483 turmas, 667 professores e 27.810 alunos no último ano.

Clubes de Programação e Robótica
No âmbito da sua a atuação, a DGE tem também promovido um projeto nacional de criação de Clubes de Programação e Robótica nas escolas, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento das competências CTEM (Ciências, Tecnologia, Engenharia e Matemática).

Apps for Good
É um projeto criado em 2011 no Reino Unido, pensado para aproximar os jovens à tecnologia, ao permitir o desenvolvimento de aplicações digitais com foco na resolução de problemas sociais. Em Portugal, mais de 60 escolas, 140 professores e 1200 alunos estão envolvidos neste projeto que conta com a o apoio da DGE, da Fundação Calouste Gulbenkian, da Microsoft e da SAP.

Academia de Código
É um projeto que surgiu com o apoio da Câmara Municipal de Lisboa e da Fundação Calouste Gulbenkian, em três escolas do ensino básico de Lisboa - EB1 do Bairro do Armador, EB 1 Alda Vieira e Jardim Escola São João de Deus - integrando nos currículos dos alunos dos 3º e 4º ciclos as competências básicas de programação. O objetivo é alargar o projeto a mais escolas.

Requalificação de Jovens Adultos para as TI
O Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP) tem vindo a reforçar também a sua oferta ao nível da requalificação de desempregados para as carreiras tecnológicas, através da criação de protocolos com a indústria para a formação e certificação de competências TIC.



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