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EasyJet abre guerra à desigualdade de géneros

EasyJet abre guerra à desigualdade de géneros

A transportadora está a conduzir um programa de identificação de talento que visa suprir o défice de mulheres a trabalhar na empresa, na área da engenharia aeronáutica.

03.09.2017 | Por Cátia Mateus


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“O número total de mulheres, em todo o mundo, qualificadas para pilotar um avião, não chega para encher um Airbus 360”. É José Lopes, diretor da easyJet em Portugal quem traça um cenário de desiguadade de géneros numa indústria onde não faltam apenas mulheres a pilotar aviões, faltam também engenheiras aeronáuticas nas bases. Dos 230 engenheiros que integram a equipa da transportadora aérea lowcost (de baixo custo) britânica, só 5% são mulheres. Um desiquilíbrio na representação de géneros que a empresa quer resolver a curto prazo. Depois de ter criado um programa de recrutamento para mulheres piloto, a easyJet tem agora em marcha o Programa de Aprendizes de Engenharia Aeronáutica, que visa atrair para a empresa mais engenheiras da especialidade. Há 14 vagas na primeira edição deste programa de formação, sete serão obrigatoriamente preenchidas por mulheres. O objetivo é que o número de recrutamentos aumente em edições futuras, ainda que o líder reconheça a dificuldade em atrair mulheres para as carreiras do sector.
 
Num estudo recente, a OCDE estima que alcançar a paridade de géneros no mercado de trabalho permita incrementar o PIB dos países desenvolvidos em 12%, num horizonte de 20 anos. Mas há áreas onde esta paridade não é fácil de alcançar, por pura escassez de recursos humanos. A engenharia aeronáutica é um desses casos e insere-se num desafio ainda maior, o de atrair as mulheres para carreiras na área da engenharia em si. Pesem embora algumas especialidades que são já hoje uma exceção (ver caixa), a maioria dos cursos das designadas áreas STEM (Ciências, Tecnologias, Engenharias e Matemática) continua sem conseguir atrair mulheres. O impacto desta fraca atratividade é visível no mercado de trabalho. O último Guia do Mercado Laboral, o inquérito realizado pela consultora de recrutamento Hays às intenções de contratação das empresas, revela que em Portugal, a Engenharia figura entre o leque de áreas onde o desiquilíbrio entre homens e mulheres é maior. Só 19% dos profissionais são mulheres. 
 
E Portugal nem é dos piores casos. “No Reino Unido, só 9% dos profissionais de engenharia são mulheres”, explica o diretor da easyJet acrescentando que esta carência de profissionais que levou a empresa a criar o projeto Amy Johnson - em homenagem à primeira mulher engenheira do Reino Unido e pioneira na indústria da aviação - e com ele o Programa de Aprendizes de Engenharia Aeronáutica.     

Contratação global
Com sede em Luton, no Reino Unido (onde decorrerá a formação), a transportadora aérea procura talentos a nível global. O programa tem candidaturas abertas até 15 de setembro, na plataforma de carreiras da easyJet online. “O objetivo é que metade das contratações que a empresa venha a realizar no futuro sejam sempre mulheres”, explica José Lopes enfatizando a urgência de se “mudarem mentalidades em relação às carreiras na engenharia”. O programa tem duração de 26 meses. Dez meses serão de formação teórico-prática na base de Cotswold e 16 meses de componente puramente prática nos aeroportos de Luton e Gatwick. “Os que consigam cumprir com sucesso os 26 meses de formação do programa, têm integração garantida na empresa”, explica o diretor.
 
Em Portugal, a easyJet integra 350 profissionais. Na sua estrutura global  são também vários os portugueses, “alguns até em posição de destaque em estruturas internacionais”, explica. Razão pela qual, José Lopes acredita que Portugal, pela qualidade da formação dos seus engenheiros, pode ser um importante fornecedor de recursos humanos para uma empresa que valoriza a diversidade. Contudo, reconhece que é fundamental inspirar as mulheres a seguirem carreiras na indústria aeronáutica, uma área onde estão pouco representadas e que segundo o responsável “é muito recompensadora” . 
 
E é exatamente ai que para Palmira Ferreira da Silva, vice-presidente do Instituto Superior Técnico (IST) reside o problema. Em Portugal há apenas dois cursos de engenharia aeronáutica e aeroespacial. “No IST temos neste curso 90 alunos por ano e só 20% são mulheres“, explica acrescentando que os licenciados nesta áreas “têm claras aspirações a trabalhar para a NASA, para a Agência Espacial Europeia (ESA) ou em startups do sector, muitas vezes resultado de projetos próprios desenvolvidos em âmbito académico. São profissionais rapidamente absorvidos pelo mercado”, explica.  
 
Antes de lançar o programa de captação de engenheiras aeronáuticas, a easyJet tinha já promovido uma iniciativa semelhante para atrair mulheres para a aviação comercial que tem apenas 3% de mulheres. Como resultado deste programa a easyJet, que tem abertas 500 vagas para pilotos, quer que 20% dos candidatos recrutados sejam mulheres.   
 
O longo caminho da paridade
As profissões ainda têm género e o problema não é apenas nacional. É global. Em todo o mundo, as designadas áreas STEM (Ciências, Tecnlogias, Engenharias e Matemáticas) continuam sem conseguir atrair as mulheres a um volume que permita falar em paridade de géneros. Apesar disso, o cenário começa a dar sinais de inversão e, na área das engenharias, Portugal até se apresenta como um bom exemplo.
 
Em 2015, o relatório “The ABC of Gender Equality in Education” da OCDE colocava Portugal entre os países com maior número de mulheres nos cursos de engenharia. Palmira Ferreira da Silva, vice-presidente do Instituto Superior Técnico (IST) traduz isso em números: “a cada ano, no concurso nacional de acesso ao ensino superior cerca de 19% de mulheres escolhem cursos de engenharia”. No universo do Instituto Superior Técnico, nos últimos dois anos, 31% dos alunos eram mulheres. Uma percentagem que “é mais expressiva em alguns ramos da engenharia do que noutros” e que, garante Palmira Ferreira da Silva, tem vindo a aumentar graças ao investimento realizado pela instituição na sensibilização do público feminino para a o potencial de uma carreira nesta área.

Engenharia no feminino
Entre as várias licenciaturas e mestrados oferecidas pelo IST, há pelo menos quatro onde o número de mulheres supera o de  homens. Engenharia Biológica é, por excelência, o curso onde as mulheres dominam, representando 74% do total de alunos. Deste leque de “engenharias mais femininas” fazem também parte a Engenharia Biomédica (65% de mulheres), a Engenharia Química - “historicamente um curso com muitas mulheres”, explica a vice-presidente do Técnico, também ela engenheira química -, que nos últimos anos tem registado uma média de 62% de mulheres inscritas, e a Engenharia do Ambiente, com 53%.
 
Desde o ano passado que o IST integra o iGEN - Fórum de Empresas para a Igualdade, mas a presença de mulheres os seus cursos em número superior à média nacional tem na base um longo trabalho de sensibilização junto dos jovens. Desde 2009 que o IST realiza sessões de esclarecimento sobre as carreiras na engenharia junto de jovens do secundário, promove alumni talks (pequenos almoços entre alunos e ex-alunos para partilha de experiências) e atribui anualmente distinções a engenheiras seniores e júniores, no âmbito do Prémio Maria de Lurdes Pintassilgo, procurando demonstrar o potencial das mulheres em carreiras nesta área.
 
FORMAR PARA CONTRATAR

O que é
Paridade O Programa de Aprendizes de Engenharia Aeronáutica foi lançado este ano, no âmbito da iniciativa Amy Johnson, e pretende promover a paridade de géneros na empresa ao garantir que metade das admissões a realizar pela easyJet, nesta área, sejam preenchidas por mulheres.
 
Alcance
Global O programa de formação/recrutamento tem uma dimensão global, decorrerá no Reino Unido, e tem nesta primeira edição14 vagas para preencher. As candidaturas decorrem até 15 de setembro, na plataforma online de carreiras da empresa.
 
Público-alvo
Qualificações Os candidatos ao programa de aprendizes da easyJet deverão ter um mínimo de cinco GCSEs (Certificado Geral do Ensino Secundário A-C) ou equivalente, incluindo as disciplinas de inglês, matemática e ciências. Adicionalmente deverão reunir qualificações superiores na área da Engenharia Aeronáutica.
 
Programa
Aprendizagem O programa, com duração de 26 meses, combina uma vertente teórica e prática. Os primeiros dez meses decorrerão no aeroporto de Cotswold e assegurarão formação acreditada a que se seguem 16 meses de formação no terreno, nos aeroportos de Luton e Gatwick. Aos melhores formandos está reservado um lugar permanente na empresa, com remuneração até 30 mil libras


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