Manuel Posserde Andrade
SERÁ que o empreendorismo pode ser ensinado? Como
se deve configurar de forma eficaz um curso sobre empreendorismo para
responder às necessidades da realidade actual?
Três regras para um bom curso
Um estudo elaborado por investigadores da Universidade Carlo Cattaneo,
em Itália, analisa a questão do empreendedorismo sob o ponto
de vista do ensino e sugere uma abordagem mais desenvolvida e empírica
para leccionar cursos sobre esta matéria.
Apesar do reconhecido papel do empreendedorismo para o crescimento económico
e desenvolvimento regional, existe ainda um grande debate em torno do
ensino destes cursos, nomeadamente nos moldes em que devem ser ensinados.
Segundo os autores do estudo, apesar do empreendedorismo não ser
uma novidade, só na última década é que se
verificou um aumento dos programas e cursos nas universidades e instituições
de ensino.
"A oferta destes cursos aumentou exponcialmente nos últimos
anos e a sua popularidade cresceu em especial nos países europeus",
salienta o estudo intitulado Training and Leading-The Future Entrepreneur:
A Field Experience.
"O sistema educativo tem cada vez mais um papel determinante no
desenvolvimento do empreendedorismo, através da criação
de um meio-ambiente que realce as actividades de empreendorismo, mas apesar
disso ainda existe no meio universitário alguma resistência
relativamente à validade académica destes cursos" referiu
Davide Moro, um dos autores do estudo, aquando da sua apresentação
num recente seminário sobre Inovação, realizado no
Tagus Park.
Os investigadores italianos partiram do exemplo da universidade de Cattaneo
e fizeram um "benchmarking" com várias outras universidades
mundiais, por forma a tirarem conclusões sobre quais devem ser
as características principais de um curso sobre empreendedorismo.
"Este pode ser ensinado, mas existe actualmente uma lacuna no
que diz respeito aos métodos de ensino que necessitam de uma participação
mais activa", salienta o mesmo investigador.
Métodos de ensino empíricos são cruciais
No "benchmarking" realizado, verificou-se que muitos cursos
de empreendedorismo das universidades em análise foram ineficazes
e não tiveram sucesso. O principal motivo prendeu-se com uma focalização
mais acentuada no conteúdo negligenciando muitas vezes os métodos
de ensino.
"O empreendedorismo não pode ser ensinado através
dos métodos tradicionais, sendo necessário técnicas
de abordagem mais empíricas", sublinha por seu turno Alberto
Poli, co-autor do estudo.
Assim sendo, os cursos têm de assumir uma componente mais prática:
os projectos desenvolvidos em trabalho de grupo assumem uma especial relevância
para formar os empreendedores.
Elaborar simulações de raiz, desde o plano de negócios,
a espinha dorsal de um novo projecto. "Para atrair investidores
é necessário ter uma visão e uma atitude proactiva,
mas também delinear todos os pormenores operacionais e estrutura
financeira", comenta Alberto Poli.
Por seu turno, o sucesso de um curso de empreendedorismo depende de outros
factores como a discussão de ideias em grupo; explorar a criatividade,
a visão e a inovação dos alunos na busca de novas
oportunidades.
Aluno tem que possuir um perfil inovador
O processo de selecção dos candidatos é de igual
modo fundamental para o sucesso global do curso: são usados vários
critérios para medir o grau de empenhamento e entusiasmo dos alunos.
"Ao contrário do que se pode esperar, avaliar um aluno
pelo seu sucesso e desempenho universitário nem sempre é
o melhor indicador de que este aluno tenha sucesso em lançar, gerir
e fazer crescer uma empresa", adianta Chiara Bernardi, outra
investigadora e autora do estudo.
O processo de selecção baseia-se, essencialmente, em testes
e numa entrevista que pretendem medir e avaliar a capacidade de inovação
dos alunos, a sua atitude face ao risco e a sua motivação.
"Para delinear a estrutura do curso deve partir-se do pressuposto
que o empreendedorismo é uma característica comportamental
das pessoas que necessitam de qualidades e competências próprias",
refere Chiara Bernardi.
Para esta investigadora é desejável que o número
de elementos por cada curso seja limitado, "para melhor tirar
partido das características interdisciplinares que devem ter estes
cursos, assim como uma abordagem menos tradicional do ensino e a busca
de uma maior interacção entre alunos e professores".
O número de alunos não deve ultrapassar os 30 elementos
por forma a criar posteriormente grupos de 5 elementos para os trabalhos
e simulações. Por fim, as aulas devem ser compostas por
um misto de alunos provenientes de vários cursos, como engenharia,
direito e gestão.
Três regras para um bom curso
Um "benchmark" de várias universidades
mundiais levou os investigadores a concluir que existem algumas características
principais que devem existir num curso sobre empreendedorismo:
1- Primeiro, deve ser criado um elo de ligação e
de confiança entre os alunos e professores por forma a melhor chegar
a um grau de compromisso e atingir os objectivos do curso eficazmente.
Os professores avaliam as características de empreendedor de cada
um dos alunos e desafiam-nos "a ser diferentes no mundo empresarial".
2 - Deve ser dada uma definição mais teórica
do que é ser empreendedor, o seu papel e perfil que deve ter um
empresário.
3 - Desenvolver as competências de empreendedorismo: trata-se
da componente mais prática e importante do curso.
É fundamental incluir várias sessões e actividades
que vão desde ensinar a desenvolver planos de negócio, criar
várias simulações em grupo, ensinar como se detecta
novas oportunidades, como gerir uma equipa, desenvolver competências
negociais, como medir e gerir o risco e as formas de financiamento de
um projecto.