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Crise no imobiliário gera desemprego

O sector imobiliário vive dias difíceis. Com a construção de habitação em quebra e a contenção de despesas por parte do Estado, o emprego no sector tem registado quebras que segundo as associações se vão manter
13.11.2008


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Maribela Freitas
A vida no sector imobiliário já teve melhores dias. A construção residencial, o licenciamento de novos fogos e o valor do crédito concedido para a aquisição de habitação registaram quebras significativas. Em Setembro, de acordo com o Instituto Nacional de Estatística, o volume de emprego na construção e obras públicas apresentava uma diminuição de 1,7% face ao período homólogo anterior. Contudo, estava meio ponto percentual acima do mês de Agosto. Apesar deste ténue sinal de crescimento, as associações da área não estão optimistas e reivindicam do Estado acções que possam dinamizar o emprego no sector.

“A crise que tem afectado o mercado imobiliário tem efeitos significativos na actividade e, consequentemente, ao nível do emprego”, comenta Reis Campos, presidente da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN). De acordo com dados desta associação, as perdas de produção entre 2002 e 2008 fizeram com que o sector da construção baixasse de 622 mil trabalhadores para 558 mil e o desemprego, que antes se cifrava nos 3,68%, anda hoje à volta dos 5,5%. “A crise no mercado imobiliário a par da falta de investimento público e privado são os principais responsáveis pela perda de mais de 64 mil postos de trabalho ao longo dos últimos anos”, acrescenta Reis Campos.

Fora da construção civil, as obras públicas também enfrentam dias difíceis. “As obras públicas conheceram igualmente um período de grande quebra. Se as grandes obras previstas arrancarem acompanhadas de outras de menor dimensão e impacto, mas igualmente importantes ao nível local, como escolas, hospitais, etc,, certamente o emprego no sector terá condições para crescer de forma sustentada”, salienta o presidente da AICCOPN.

Teresa Ramos Pinto, presidente da Associação dos Industriais da Construção de Edifícios (AICE), revela que a crise tem levado algumas empresas a reduzir os seus investimentos em meios materiais e humanos. “A procura diminuiu e as empresas tendem a adaptar a sua actividade às necessidades do mercado. Dessa forma, houve uma quebra do investimento, afectando o emprego directo e indirecto — não só reduzindo o pessoal contratado como recorrendo menos a serviços externos, como gabinetes de arquitectura, subempreiteiros, etc.”, salienta.

Tendo em conta que a crise é transversal tanto na construção civil como nas obras públicas, a presidente da AICE reivindica medidas ao Estado para mudar este cenário. “Esperamos que haja medidas concretas por parte do Governo que fomentem o mercado, nomeadamente a reabilitação urbana e o arrendamento”, frisa Teresa Ramos Pinto. Na sua opinião, estas medidas deverão ser acompanhadas de incentivos fiscais que permitam reanimar o mercado imobiliário português a médio prazo e, consequentemente, diminuir o desemprego. Conta ainda que as empresas de promotores e construtores estão a dar o seu melhor para manter os postos de trabalho, pois acreditam que a economia portuguesa vai reanimar em breve, criando condições para superar este momento.

Para Reis Campos, e à luz do que tem acontecido noutros países europeus, é imprescindível apostar no investimento para minimizar os impactos de uma conjuntura extremamente adversa e para salvaguardar o emprego. “O Governo terá de criar as condições para o novo ciclo de investimento que se espera e que é decisivo para aproximar Portugal dos restantes parceiros europeus”, frisa o responsável da AICCOPN.

O último inquérito mensal da Federação Portuguesa da Indústria da Construção e Obras Públicas — que engloba AECOPS, AICCOPN e ANEOP —, datado de Outubro, revela o pessimismo dos empresários. É que, a avaliar pelas opiniões expressas, no futuro vai continuar tudo igual. Avança o relatório que “dificilmente a tendência positiva do desemprego na construção se irá inverter no curto prazo, dado que as expectativas de evolução do emprego têm vindo a revelar-se negativas, ao contrário da avaliação que era feita há um ano.

Mas se na promoção e construção o panorama não é favorável, a mediação imobiliária também não está de melhor saúde. A restrição no acesso ao crédito, resultante da crise financeira mundial, tem gerado dificuldades na venda de habitação. Mesmo assim, José Eduardo Macedo, presidente da Associação dos Profissionais e Empresas de Mediação Imobiliária de Portugal (APEMIP), conta que a prudência dos consumidores perante a crise e as dificuldades no acesso ao crédito à habitação levaram a “uma quebra nos negócios que se estima numa baixa de 10% face a valores de 2007”. No entanto, lembra que Portugal apresenta um mercado maduro onde 75% das famílias vivem em casa própria e, logicamente, a troca ou compra de habitação não é igual à troca ou compra de um telemóvel.

Embora seja difícil a José Eduardo Macedo avaliar se há ou não desemprego ao nível da mediação, insiste em que o perfil dos chamados vendedores de casas tem de ser muito mais do que só vender casas. “O bom desempenho de funções no sector, nomeadamente na mediação imobiliária, exige profissionais com um perfil muito diferente do que classicamente se instalou no mercado. As exigências do público e do mercado vão fazer com que esta área seja crescentemente servida por profissionais bem qualificados. Nalguns países já se recrutam jovens arquitectos e outros licenciados para a mediação”, finaliza José Eduardo Macedo.





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