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Crianças geram empresas

Estudos demonstram que os mais pequenos estão a ganhar terreno no mercado ao criarem novos nichos comerciais. Os empresários já não ousam fechar os olhos às crescentes exigências deste público
05.06.2008


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Cátia Mateus e Marisa Antunes
As crianças são o melhor do mundo e também uma grande fonte de negócio. Depois de, durante anos, o seu poder de influência junto da família ter sido negligenciado, os mais pequenos estão agora a conquistar um peso cada vez maior no mercado de consumo. Basta lembrar um dos mais recentes estudos de mercado da Nielsen, que estima em 50% o peso da opinião das crianças portuguesas na decisão do cabaz de compras junto dos pais (como bolachas, sumos ou cereais). Mas não só. Aos mercados já consolidados, como o dos brinquedos, roupa, jogos multimédia ou locais para festas de aniversário, juntam-se muitos outros em expansão e que representam excelentes oportunidades de negócio.

O Little Gym é um bom exemplo de como um negócio pode ser orientado em exclusivo para as crianças. O conceito foi importado dos Estados Unidos e chegou a Portugal há menos de um ano, pelas mãos de Rodrigo Viegas.

Este gestor de formação, deixou a empresa na área das tecnologias de informação onde desempenhava as funções de sócio e administrador e lançou-se no desafio de criar um espaço totalmente dedicado às actividades infantis, da ginástica às festas de aniversário, dos campos de férias às noites dos pais (às sextas e sábados, ao final do dia, os filhos podem ficar entre três a quatro horas no Little Gym para que os pais façam uma escapadinha para jantar fora).

Mas a principal vocação da empresa assenta no exercício físico pensado ao pormenor para as crianças entre os quatro meses e os 12 anos. “Este é um espaço pensado a 100% nas crianças. O nosso grande objectivo é estimular o desenvolvimento da criança, não só na componente motora mas também na componente emocional e social. Aqui, a ginástica não é competitiva. É, acima de tudo, divertida”, explica o responsável deste «franchising».

Com cores vivas e devidamente apetrechado, o ginásio é um pequeno mundo para a criançada. “A nossa preocupação é apresentar desafios, individuais e colectivos, apropriados às suas idades. E as crianças saem daqui com a noção de que passaram um bom bocado. Acima de tudo, queremos estimular a sua auto-estima e a sua autoconfiança”, especifica o responsável do projecto.

Rodrigo Viegas exemplifica: “Nas aulas para os bebés dos 10 aos 12 meses, por exemplo, cantamos muito, introduzimos o ritmo e a coordenação motora e também a componente social através de actividades de grupo. Para eles, este espaço é uma autêntica Amazónia, que eles podem explorar, sem medo de avançar e sempre com o conforto de saber que os pais estão mesmo ali ao lado”. Ou então, a participar activamente na aula, conforme a vontade dos progenitores.

Para já, o objectivo do gestor é desenvolver a marca em Portugal, através da abertura de unidades. “Por enquanto, não queremos «franchisar» mas sim abrir unidades e crescer de forma sustentada, ao ritmo de um ginásio por ano”, Porto, Estoril e Oeiras são as hipóteses em cima da mesa.

As crianças são também a fonte de inspiração de Susana Silva e Vanda Marques, que conceberam, a partir do Porto, um “negócio de palmo e meio” onde os mais pequenos aprendem a história do seu país (imagine-se!) com a roupa que vestem.

A Roupa Didáctica é uma empresa recém-nascida, que surgiu em Maio deste ano a partir da vontade de ambas as empreendedoras criarem o seu próprio emprego. O conceito tem tanto de simples como de inovador. Partindo de um produto já existente — a roupa —, as jovens criam produtos originais, através da inserção de elementos diferenciadores e didácticos capazes de contar uma história e, pela abordagem original, facilitar o processo de aprendizagem da criança e a transmissão de conhecimentos. “Trata-se de comercializar roupa para criança que tenha um caris cultural e didáctico e que os ajude no futuro a compreender melhor o que os rodeia”, enfatiza Susana Silva.

A empresária justifica a escolha da área de actividade com o facto de as crianças serem um dos principais factores de crescimento da economia e da cultura nacionais, e esclarece que “este projecto surge na sequência de um outro também voltado para as crianças”. A dupla de empresárias — agora sediadas na incubadora de indústrias criativas da Fundação de Serralves (InSerralves) — assegura também a produção de livros para crianças: a colecção ‘Contando aos pequenotes'.

O negócio que lideram encontra-se ainda numa fase de arranque e produção de logotipos, direccionando-se a um público-alvo que aprecie a diferença e goste de exclusividade e qualidade. A meta das empresárias é alargar o leque de produtos, tendo sempre na mira o alvo, que são as crianças. Para já, tem no mercado os livros, louça para crianças (numa parceria com a SPAL) e diversos bonecos. O espírito é o mesmo: utilizar objectos do quotidiano para chegar mais perto das crianças e ajudá-las a compreender a sua história e as suas raízes.

As empresárias preparam agora uma parceria com uma marca de roupa para criança — “que tem de ser de elevada qualidade” — e confessam a vontade de exportar estas peças, tendo já alguns representantes locais interessados. Até lá, o mercado nacional é o palco destas histórias em formato de roupa criada para ensinar os mais pequeninos, que afinal ditam, mais do que possa parecer, as regras do mercado.





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