Cátia Mateus e Marisa Antunes
Com o fim do ano lectivo, a preocupação de encontrar um estágio ganha terreno entre os jovens recém-licenciados que encontram na Internet, nas apresentações das empresas nas universidades e nas secções de emprego dos vários jornais do país, o palco de eleição para a disputa do tão ambicionado lugar no universo empresarial. Muitas são as organizações como a Logica ou a Indra (ver texto) que aproveitam esta época do ano para lançar no mercado campanhas para atrair e recrutar os melhores talentos, desafiando a concorrência da época balnear que tende a cativar mais os jovens do que um Verão fechado no escritório. E com o desemprego a crescer, a disponibilidade de abdicar da praia a favor de uma experiência profissional, é logo o primeiro factor de análise para quem recruta.
Ana Luísa Teixeira, «managing director» da empresa de «executive search» MRI Network, não tem dúvidas de que “nenhum jovem deve ter o primeiro contacto com o mundo do trabalho somente após o final do curso”. A especialista acredita que o ideal é que os estágios sejam intercalados com os estudos, “de modo a que quando o jovem se encontrar no último ano já tenha tido os primeiros contactos com o mundo do trabalho”.
Uma estratégia que vai seguramente colocá-lo em vantagem face a outros candidatos. É que, como afiança, no momento de recrutar estagiários, a maturidade e sentido de responsabilidade são dois dos requisitos base em análise.
Potencial e apetência para aprender, boas bases de conhecimentos teóricos, bom senso que possibilite a conjugação entre bases teóricas e práticas, produtividade, criatividade, iniciativa e uma boa dose de inteligência emocional são itens em análise num processo de recrutamento para o qual o estagiário deve preparar-se rigorosamente. Uma preparação que implica também a informação sobre a realidade e quotidiano da empresa para a qual se está a concorrer e que muitas vezes é negligenciada.
“Estudar o mercado e saber qual o sector ou tipo de empresa que lhe agrada, ter um plano do que gostaria de aprender e com que tipo de realidade desejaria de se confrontar e propor-se proactivamente, podem colocar o candidato em vantagens sobre os seus concorrentes já que uma pessoa determinada e com ideia do que quer, mas flexível à realidade, é sempre mais fácil de integrar”, esclarece a líder da MRI.
Ana Teixeira destaca ainda outros pontos que podem colocar um candidato em vantagem no momento de concorrer a um estágio: “disponibilidade para aprender, humildade face à experiência dos mais velhos, mas não subserviência ou inibição, contribuir com ideias novas e novos pontos de vista mas em harmonia com a empresa e sem entrar em confronto”. Para a especialista, “há que haver bom senso e um enorme sentido de responsabilidade já que as acções têm um impacto grande no dia a dia da empresa”.
Há ainda que ter a consciência de que o estágio pode ser uma porta de entrada para o emprego e quanto melhor se entrar, maiores serão as probabilidades de sucesso e progressão na carreira. Assim, o candidato deve procurar reunir o maior número de informação sobre a empresa, seja através da Internet ou por amigos e colegas que lá tenham trabalhado. A partir daí, é fundamental que o estagiário saiba adequar-se às normas da empresa e ao seu ambiente, até em termos de imagem.
Empresas abrem portas
Bem longe das aflições por que passam neste momento a generalidade dos finalistas, 50 universitários iniciaram funções no início deste mês na Logica, multinacional de tecnologias de informação (TI). A empresa organizou um evento de acolhimento, que baptizou de ‘Refresh Day', onde os juniores, de faculdades de norte a sul do país foram recebidos por José Carlos Gonçalves, CEO da empresa e alguns dos quadros de topo da organização.
A média de curso dos finalistas foi a primeira etapa da triagem dos candidatos ao grupo final de sortudos. “Nós apostamos muito no processo de recrutamento pois a maioria das pessoas que seleccionamos acabam por integrar a empresa. Quanto maior for a média — e por regra nunca aceitamos ninguém com menos de 12 — melhor, pois significa que a pessoa tem hábitos de trabalho e raciocínio”, explica o CEO da Logica.
“Um nível intelectual e de raciocínio elevado, associado à resistência ao stresse e uma capacidade de trabalho muito grande”, são características que correspondem ao perfil-tipo ideal para integrar a equipa da Logica, resume José Carlos Gonçalves.
Os 53 estagiários que vieram de diferentes universidades do Minho ao Porto, passando por Lisboa, são das áreas de Gestão, Economia e Engenharias. “Nos cursos de engenharia procuramos profissionais essencialmente com capacidade de desenvolvimento. Em Gestão e Economia apostamos no «know-how» mais funcional do que tecnológico, no âmbito do ‘ERP — Enterprise Resource Planning', sublinha este responsável.
A Logica lançou em 2007 este programa integrado de estágios profissionais- o ‘Refreshing Us' — dirigido a recém- -licenciados em Gestão e Informática de Gestão, e em várias áreas da Engenharia (Informática, de Sistemas, de Telecomunicações e Electrónica). A adesão dos jovens foi imediata: em 2007, para os 60 lugares disponíveis concorreram cerca de 1000 universitários. Este ano prevê-se que o número de estágios atinja um total de 120.
A criar oportunidades para os finalistas no sul do país, a Indra, multinacional também da área das TI, assinou recentemente um protocolo com a Universidade de Évora, através do Centro de Investigação em Tecnologias de Informação (CITI) da faculdade. O protocolo abrange várias vertentes, entre as quais, a colaboração em projectos de investigação e desenvolvimento, oferta de estágios científicos e técnicos e vagas para emprego.
“Depois da abertura do nosso centro de desenvolvimento de «software» no Porto, estamos a estudar outras alternativas para a instalação de um outro centro, que poderá ser a sul do país”, pormenoriza Horácio Sabino, director-geral da Indra.
Conforme realça o CEO da empresa, o protocolo com a universidade não só é abrangente ao nível da cooperação como dos cursos dos universitários. “Procuramos pessoas das áreas da Matemática, Gestão ou Engenharia pois os nossos quadros técnicos e consultorias cobrem todas estas vertentes”.
A outro nível, mais direccionada para o ensino profissional, a Fujitsu Siemens Computers está também a abrir as portas para quem vai entrar agora no mercado de trabalho. A empresa foi convidada pelo Ministério da Educação a integrar um grupo de 30 empresas do ramo das tecnologias de informação e comunicação (TIC), tendo assinado um protocolo onde se compromete a criar uma bolsa de estágios a disponibilizar aos melhores alunos do ensino profissional, com vista à realização de formação em contexto real de trabalho.
Considerado pelo Governo como “um dos programas mais ambiciosos para a qualificação de jovens em sectores de ponta a nível mundial”, pretende-se com este programa reforçar a atracção dos alunos pelos cursos profissionais, e, ao mesmo tempo, aumentar o interesse das empresas pelos alunos que frequentam esses cursos, promovendo a sua formação na empresa e a sua posterior integração, em caso de sucesso.
A Fujitsu Siemens Computers disponibilizará um total de 10 de estágios anuais em diferentes áreas, como por exemplo na configuração e pré-venda, até ao final do ano 2010.