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Competentes, mas pouco

Em Portugal não se fomenta a cultura de exigênia nas empresas, o que acaba por alimentar o laxismo e a incompetência dos trabalhadores
19.01.2006


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Marisa Antunes
UM número elevado de incompetentes povoa as organizações empresariais de todo o mundo, mas a grande maioria nem sequer desconfia que está a fazer mal o seu trabalho, já revelava o estudo de David Dunning, psicólogo social e investigador na americana Cornell University. Em Portugal, quarto país da União Europeia (no clube dos Quinze), onde mais se trabalha mas onde menos se produz, a culpa assenta numa multiplicidade de factores, dos quais se pode, no entanto, destacar dois, segundo os especialistas contactados pelo EXPRESSO: as falhas na cultura organizacional de quem está no topo e a falta de atitude de quem está na base e que deveria ser ensinada logo nos bancos da escola.


«É frequente as pessoas não saberem sequer por que razão trabalham. Para que os trabalhadores assumam uma postura pró-activa devem ser responsabilizados por projectos, com objectivos definidos. A administração deve partilhar com os subordinados qual o presente da empresa e o futuro a seguir. Deve dizer se está a perder clientes ou se enfrenta uma concorrência agressiva, por exemplo», sublinha o economista e docente da Universidade Católica, Pedro Pereira da Silva. «Mas em Portugal temos o culto do poder pela detenção de informação. É o mesmo que ter uma equipa de futebol e só lhes dizer que é preciso ganhar, mas não dizer qual a estratégia», acrescenta.

A efectividade no posto de trabalho, questionada por muitos como meio caminho andado para o laxismo e falta de empenho, só acontece com os maus funcionários, defende Adão da Fonseca. «Passar de um contrato a termo para um definitivo só diminui o interesse do trabalhador que já era mau. Isso não acontece com quem tem ética profissional», realça o secretário-geral do Millenium bcp.

Os que não cumprem devem ser alertados para as falhas, defende Filipe de Botton, presidente da Logoplaste e um dos promotores da iniciativa Compromisso Portugal, um grupo de reflexão sobre a economia portuguesa que reúne empresários e gestores. Para este empresário, «são muitos os administradores que preferem deixar as pessoas evoluírem pela antiguidade a dizerem directamente aos seus trabalhadores que não cumpriram os seus objectivos».

Falta de exigência, de atitude e disciplina é uma característica comum a muitos profissionais portugueses, apontam, de forma unânime, os especialistas. «Portugal tem gerações de pessoas mal treinadas. A bandalhice e a anarquia passam de geração para geração. Para dar um exemplo: todos os dias digo aos meus alunos para se olharem ao espelho e repetirem ‘sou suíço', vezes sem conta, na esperança de que se tornem mais pontuais», ironiza Paulo Varela Gomes, docente na Faculdade de Coimbra e investigador em História da Arte e da Arquitectura.

«Não há cultura de exigência em Portugal e isso começa logo na família, que se desresponsabiliza da educação dos seus filhos e deixa essa tarefa para os professores», sublinha Filipe de Botton. Adão da Fonseca corrobora e acrescenta, cáustico: «Há várias maneiras de melhorar a incompetência, mas a melhor de todas é ensinar-se, desde pequeno, a ter atitude. Mas os alunos só aprendem a refilar e a sobreviver no meio da incompetência, pois são poucos os professores com força anímica».

As condições de trabalho e a remuneração fazem também a diferença no empenho e no profissionalismo que se coloca no trabalho, como realça Paulo Varela Gomes. «Eu sou uma das pessoas mais competentes em Portugal dentro da minha área, mas se me comparar com os meus colegas espanhóis posso considerar-me incompetente, pois eles trabalham de forma mais eficiente. Lá, as pessoas têm mais tempo para fazer o que fazem enquanto que eu, para sobreviver, não posso só dedicar-me à investigação», remata o docente de Arquitectura.




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