Cátia Mateus e Fernanda Pedro
É do conhecimento geral que o mercado de trabalho não atravessa o seu momento mais dinâmico, mas, mesmo neste contexto, há sempre lugar para gente determinada e capaz de se adequar às oportunidades. Se o seu curso não é dos que dão mais garantias de empregabilidade na conjuntura actual e se a empresa onde trabalhava está numa fase de «emagrecimento» de quadros, ou caso enfrente uma situação de desemprego, saiba que o segredo para vencer a situação reside em interiorizar dois conceitos simples: optimismo e iniciativa.
Licenciou-se com uma média elevada mas numa área que não é neste momento a mais solicitada pelo mercado? O seu caso não é único e tem solução. Não desanime. Uma das «armas» mais importantes nesta dura batalha por um lugar no mercado de trabalho é manter-se informado. Sabe quais as áreas de actividade que num futuro próximo poderão vir a proporcionar oportunidades de emprego? Não? Pois saiba que esta informação pode ser vital para que comece já hoje a investir no seu futuro profissional, actualizando os seus conhecimentos e tornando o seu currículo competitivo.
Não se «agarre» ao canudo e à sua área de formação se esta não vai ao encontro das necessidades do país. Recicle-se e saiba que apostar em áreas como os sistemas de informação e telecomunicações pode ser uma saída numa altura em que o país também fará investimentos em novas energias, ambiente, reciclagem, indústria e processos de modernização nos serviços.
Atenção às oportunidades
Segundo Amândio da Fonseca, director da Egor, «os profissionais das áreas ligadas à saúde, turismo, marketing, vendas, gestão de projectos e financeiros continuarão a não ter dificuldades de acesso ao mercado, tendo em conta as novas oportunidades que deverão surgir nestas áreas, nomeadamente no turismo e na medicina privada».
Já para Ana Luísa Teixeira, «country manager» para Portugal da empresa de «executive search» MRI Worldwide, «as tendências para os próximos anos não serão muito diferentes do que se verifica actualmente. As carreiras comerciais continuarão a ser muito procuradas. Tenho esperança que as ofertas de emprego ligadas às TI's e Research & Development (R&D) sejam reforçadas, dadas as intenções de investimento do Governo. Também deverão crescer as carreiras ligadas à logística e distribuição».
A responsável destaca ainda que «as carreiras de cariz internacional estão cada vez mais acessíveis aos jovens, sobretudo em início de carreira, ou a profissionais mais qualificados, gerando ‘novos nómadas'». Ana Teixeira esclarece ainda que os dados preliminares do inquérito às intenções de contratação (Hiring Survey), para o primeiro semestre de 2006, realizado pela empresa que lidera, revelam que «das 490 empresas inquiridas, 53% confessam que irá ter alguma dificuldade em recrutar os profissionais que necessitam e 13% muita dificuldade em recrutar».
Experiência conta
Apesar de ser licenciado em Gestão — uma das áreas competitivas em termos de empregabilidade —, António Martins, de 33 anos, não escapou às teias do desemprego quando a empresa que o desafiara a largar o seu anterior emprego decidiu não lhe dar um lugar nos quadros e não lhe renovar o terceiro contrato. António Martins não queria acreditar: «Por um lado até fiquei aliviado, porque não gostava do que estava a fazer, mas, por outro, senti-me indignado», explica.
Depois de um período de desânimo, António Martins ergueu a cabeça e foi novamente à luta. Enviou algumas propostas a diversas empresas e recebeu uma resposta positiva de uma delas. «Tive sorte, mas também tinha a experiência profissional adquirida. Acho que há males que podem vir por bem», refere.
Na verdade, o exemplo de António Martins não pode ser extensível a todos aqueles que enfrentam um despedimento. O choque de um despedimento pode ser difícil de ultrapassar, quer em termos financeiros quer psicológicos. Para Lara Carvalho, responsável de comunicação da Adecco, multinacional na área de recursos humanos, esta é uma situação comum na sociedade portuguesa. «A maior percentagem de candidatos da Adecco consiste em pessoas desempregadas, e muitas delas foram confrontadas com um despedimento ou não renovação de contrato de trabalho, o que psicologicamente representa um sentimento negativo de rejeição», salienta a responsável.
Quando uma situação destas acontece, Lara Carvalho aconselha as pessoas a não desistirem. «Tentamos apresentar uma nova proposta de trabalho, de modo a demonstrar ao candidato que o mercado não se encontra de ‘portas fechadas'. No entanto, é preciso ter calma e não cair na desmotivação pessoal. Persistência e orientação para um objectivo são essenciais nestas situações», explica. Outra das «armas» essenciais, para abrir as portas que teimam em fechar-se, é a organização.
Uma boa estratégia de abordagem ao mercado é essencial. Depois de uma introspecção em que deverá perceber em que área você será competitivo e onde poderá mesmo dar cartas profissionalmente, o passo seguinte é o desenvolvimento dessas competências e de uma estratégia de marketing pessoal. Ana Luísa Teixeira não tem dúvidas de que, «por exemplo, o investimento na aprendizagem de línguas como mandarim/chinês trará frutos num futuro próximo».
A responsável adianta que «a atitude faz milagres e, nesse sentido, o empreendedorismo, o positivismo, a capacidade de perceber as necessidades dos outros e de trabalhar por objectivos são fundamentais». Na nova era profissional, «as características do foro pessoal e a atitude são mencionadas pelas empresas como fundamentais na altura de incorporar novos quadros». Se, cumprido este percurso e realizada a abordagem ao mercado, a procura ficar indiferente é sinal de que estratégia deverá ser reavaliada.
Porém, tem ainda uma outra hipótese, que pode não estar tão distante quanto pensa. Que tal criar a sua própria empresa? É verdade que nem todos têm perfil empresarial e também este não é um caminho fácil, já que não se criam empresas sem dificuldade. Mas se está cansado de esperar uma resposta do mercado que teima em chegar, este poderá ser o seu caminho. António Henriques e Miguel Carreto, presidente e vice-presidente do Instituto para o Fomento e Desenvolvimento do Empreendedorismo em Portugal (IFDEP), não têm dúvidas de que «a dificuldade aguça o engenho e que os momentos de crise geram a oportunidade». Por isso, numa situação de desemprego, a criação do auto-emprego é uma saída a ponderar.
Auto-emprego
Se este é o seu caso, aceite as sugestões de Miguel Carreto e saiba que «os sectores potencialmente interessantes para criar empresas situam-se no domínio das tecnologias de informação e comunicação, na área da saúde e nas energias». Segundo o responsável, «muito embora as novas tecnologias de informação e comunicação possam ser uma área apetecível, há que ter em consideração que este é seguramente um dos sectores mais atractivos e com maior potencial de crescimento, pelo que a concorrência será feroz».
Ao enveredar pelo caminho do empreendedorismo e, particularmente, se é empreendedor de «primeira viagem», não esqueça que antes de criar qualquer negócio deverá testar a sua ideia e saber se o mercado necessita mesmo do produto ou serviço que quer oferecer. Depois, lembre-se que o negócio pode ser óptimo, mas você não ser a pessoa certa para avançar com ele. Escolha um negócio à sua medida, avance devagar e seguro de si, mas acima de tudo com uma atitude vencedora e sem pessimismo.