Há oito anos que Peter Bacevice, Gretchen Spreitzer, Hilary Hendricks e Daniel Davis, investigadores de várias universidades americanas, se juntaram para estudar o impacto dos espaços de trabalho na identidade e no sucesso dos profissionais. A sua última pesquisa, publicada na Harvard Business Review, sugere que os trabalhadores beneficiam mais em trabalhar a partir de um espaço de cowork (escritório partilhado) do que num escritório tradicional. Maior flexibilidade e possibilidades de progressão (definida a partir da motivação e aprendizagem em contexto de trabalho), possibilidade de construir redes de contacto mais robustas (networking) e o maior sentido de comunidade que é registado nos espaços de trabalho partilhados sustenta a teoria. Mas há riscos. A escolha de um espaço de cowork que não seja adequada à imagem que o profissional quer passar ou que não estimule o seu desenvolvimento pode deitar tudo a perder.
Desde 2010, o número de espaços de cowork cresceu a um ritmo de 23% ao ano a nível global. E as perspetivas apontam para que nos próximos anos a dinâmica venha a reforçar-se. Os dados mais recentes da consultora JLL indicam que até 2030 o mercado dos espaços de trabalho flexíveis, como também é conhecido, representará mais de 30% do mercado de escritórios mundial. Os dados para Portugal estão desatualizados, reconhece Carlos Gonçalves, diretor executivo do Ávila Workspaces, um dos grupos que oferece soluções de espaços de trabalho partilhados em território nacional. Mas em 2013, relembra, “Portugal já estava no Top 10 europeu no número de espaços de cowork per capita”.
A paternidade do cowork é atribuída ao americano Brad Neuberg, um engenheiro informático que partilhava um escritório com dois colegas e que decidiu abrir as portas a outros trabalhadores que poderiam aparecer quando quisessem.
Precariedade alavancou o mercado
A crise popularizou o conceito e o aumento do número de trabalhadores independentes acelerou o aparecimento destes espaços. Movidos por uma ambição de redução de custos com a manutenção de escritórios próprios, maior flexibilidade e possibilidades de colaboração, profissionais e empresas aderiram ao conceito. A questão que os investigadores colocam é se o investimento que fizeram gerou o retorno devido. O maior alerta vai para os freelancers e não para os profissionais que integram empresas que escolhem espaços de cowork para instalar as suas equipas.
Para o grupo de investigadores — que integra o Center for Positive Organizations, uma unidade de investigação agregada à Universidade do Michigan que se dedica a investigar e melhorar as práticas laborais —, “os espaços de cowork conferem a muitos profissionais, sobretudo freelancers, o profissionalismo e a credibilidade que o trabalho remoto tradicional não confere”. O espaço de trabalho, acrescentam, “tornou-se uma forma de legitimação” que “ajuda profissionais independentes ou startups a causar uma impressão positiva a um potencial cliente” e por isso é determinante saber escolher “um bom espaço de cowork”.
Carlos Gonçalves recusa a separação entre “bom” e “mau” para classificar espaços de cowork argumentando que “não há espaços bons e maus. Há espaços com valências e vocações diferenciadas, para públicos também diferenciados”. E dá o exemplo dos espaços que lidera, e que servem maioritariamente empresas multinacionais e com maturidade no mercado, enquanto outros estão mais vocacionados para indústrias criativas, tecnologias de informação ou startups.
Apesar disso, admite, “saber escolher o espaço que mais se adequa ao profissional e ao projeto é determinante”. Para o líder da Ávila Workspaces, “o espaço em que um profissional está implementado e exerce a sua atividade é o seu cartão de visita ao mercado. É fundamental para atrair talento e clientes e, por isso, gerir isto é gerir uma reputação para o profissional enquanto marca”.
Carlos Gonçalves corrobora a visão de Peter Bacevice, Gretchen Spreitzer, Hilary Hendricks e Daniel Davis sobre os riscos associados a uma escolha desadequada do espaço. “A escolha do espaço de cowork mais adequado para cada profissional tem de cumprir um conjunto de critérios, entre eles deverá estar o potencial de crescimento intelectual e partilha de conhecimento, ancoradas numa rede adequada de contactos que possibilite a aprendizagem em contexto de trabalho e abra portas à entrada de novos clientes”, explica. Por outras palavras, Carlos Gonçalves acredita que há benefícios para a identidade dos profissionais na escolha dos designados “espaços de nicho” que apresentam como trunfo a similaridade ou complementaridade das áreas de atuação.
Como escolher
Localização
O tempo é um bem escasso. A escolha de um espaço central, com bons acessos de transportes públicos “é determinante para atrair clientes, mas também profissionais qualificados”, explica Carlos Gonçalves.
Comunidade
A comunidade que o espaço agrega é uma alavanca e um motor para o desenvolvimento dos profissionais residentes, seja pelo estímulo da partilha de experiências ou complementaridade de serviços que pode abrir portas a novos negócios.
Serviços
Os serviços oferecidos pelo espaço são um ponto relevante para a escolha porque nem todos os profissionais têm as mesmas necessidades nesta matéria. Analise se o espaço de que mais gosta oferece tudo o que precisa.