Abílio Ferreira
A universidade coimbrã
celebrou protocolos com 70 empresas e já consegue gerar em serviços
40% do valor do orçamento atribuído pelo Estado
Apoiar o investimento estrangeiro
A UNIVERSIDADE de Coimbra (UC) assinou este mês protocolos com 70
empresas e instituições que fornecerão estágios
pré-profissionais aos seus licenciados.
Estas parcerias integram-se no objectivo da UC de promover a integração
no mercado de trabalho dos dois mil licenciados que todos os anos terminam
um dos seus 52 cursos.
"Reconheço que temos ainda algum caminho a percorrer no
domínio da integração profissional, mas temos feito
um grande esforço e um trabalho aturado com a intenção
de facilitar a aproximação dos licenciados ao mercado de
emprego no sentido de os ajudar no início da actividade a encontrar
uma profissão", acentua Fernando Seabra Santos, o reitor
da universidade coimbrã.
O facto da UC ter muitos antigos estudantes espalhados pelo tecido empresarial
facilita esta ligação que o reitor pretende reforçar:
"É essencial este apoio do empregador no início
de actividade e só nos daremos por satisfeitos quando estabelecermos
protocolos com centenas de entidades que forneçam estágios".
Seabra Santos defende que as universidades devem ter uma capacidade de
interagir os diferentes saberes, mas ressalta que a habitual crítica
de que se encontram desligadas do mundo empresarial "decorre de
ideias pré-concebidas que estão francamente desajustadas
da realidade".
E dá como exemplo a sua própria instituição,
que factura 35 milhões de euros em serviços prestados ao
exterior: "Temos contratos de prestação de serviços
e investigação científica a multinacionais, centenas
de empresas e autarquias, dezenas de tribunais e escolas. No total, são
1200 instituições que nos permitem obter receitas próprias
que representam 40% do orçamento transferido do Estado".
Face a estes "valores que impressionam", pode concluir-se
que "um bom número de críticas assentam numa realidade
que não é a nossa".
O reitor reconhece que deste esforço das universidades de se aliarem
ao exterior e contribuírem para novos produtos e metodologias que
aumentem a rendibilidade do tecido empresarial dependerá em boa
parte a capacidade do país de criar riqueza e reduzir a sua dependência
do estrangeiro.
Saúde de "ponta"
A UC é a menos regional de entre as universidades clássicas
(30% dos seus alunos são do distrito, enquanto as congéneres
de Lisboa e Porto absorvem 70%), sendo que essa sua vocação
nacional também se faça notar na sua ligação
às empresas.
A UC "interessa a todo o país" pelo que a sua
abordagem "não se limita ao tecido empresarial da sua região".
Mesmo assim, a sua prioridade estratégica entronca nas Ciências
da Saúde e da Vida, aproveitando o pólo de excelência
de Coimbra e a profícua ligação Hospital/Universidade.
E o reitor surpreende com um exemplo: o fluxo matinal entre Lisboa e Coimbra
é favorável a esta cidade por 400 contra 300. Um sinal "da
capacidade de atracção na área hospitalar e da saúde
em geral".
Além desta área crucial em que a cidade deve assentar o
seu desenvolvimento, a UC tem vocação e vantagens competitivas
em matérias da área do Ambiente, Turismo e Património.
A universidade coimbrã, que formou os quadros do Império
ao longo dos séculos, tem uma das mais densas representações
de património nacional edificado e um espólio museológico
que a cidade deve aproveitar como pólo de atracção.
Outra prioridade da UC centra-se na formação contínua.
Uma licenciatura "não dá uma preparação
para sempre, nem agora as profissões são para toda a vida".
Mais de uma centena de cursos, a pensar na preparação específica
de diversos públicos-alvo, são a face visível deste
contributo para o novo paradigma científico da permanente actualização
de conhecimentos e da formação ao longo da vida.
Como a universidade "é uma casa que produz e transmite
conhecimento", a investigação terá sempre
de estar no centro das prioridades e preocupações.
Nesta ânsia de produzir conhecimento é que a UC constituiu
recentemente o Instituto de Investigação Interdisciplinar,
uma unidade orgânica que traduz uma nova filosofia de actuação
e acolhe as unidades de investigação das diferentes faculdades.
Trata-se de uma iniciativa "para combater a tendência para
a cristalização dos saberes".
Apoiar o investimento estrangeiro
A UC foi o parceiro académico escolhido pela API, de Miguel Cadilhe,
para cooperar em matérias relacionadas com o investimento directo
estrangeiro.
É mais um passo na aproximação ao universo empresarial.
"O protocolo visa dar visibilidade pública às actividades
de investimento estrangeiro, envolvendo a universidade na resolução
de questões relacionadas com a atracção desse investimento",
refere o reitor. A API vai instalar em Coimbra o Alto Conselho para o
Investimento.
Com este aperfeiçoamento e intervenções em áreas
complementares, a UC reduziu, em cinco anos, em 2,5 milhões de
euros os custos da sua estrutura central. Em 1998, representavam 12,5%
do orçamento global, agora são 10%.
O rácio professor/aluno varia entre o mínimo de 1:6, em
Medicina e 1:25 em Direito, indicadores que comparam com as referências
europeias.