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Ciências apostam na especialização

06.06.2003


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Fernanda Pedro

A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa apresenta este ano novas especializações onde a interdisciplinaridade é a tónica dominante dos cursos







A necessidade de cruzar ciências


A FACULDADE de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL) vai apostar no próximo ano lectivo em novos cursos de especialização onde a interdisciplinaridade é a tónica dominante.

Com a certeza de que um trabalho científico tende a dominar diversas áreas de conhecimento, a FCUL decidiu avançar com novos cursos de pós-graduação e mestrados.

A pós-graduação em Bioinformática, cuja primeira edição arrancou no último ano lectivo, é um exemplo disso. Esta é uma formação ministrada pela FCUL em parceria com o Instituto Gulbenkian da Ciência. Este ano, irá arrancar também pela primeira vez o Mestrado em Bioinformática. Para este curso só será aceite quem deter a pós-graduação de Bioinformática.

Na verdade, esta é uma especialização única no país e que Mário Gaspar da Silva, coordenador do curso, considera de grande importância para os próximos anos "em virtude de se terem aberto possibilidades novas e com grande potencial de obtenção de conhecimento científico com bases de dados com informação biológica. Estas bases de dados, organizam grandes quantidades de informação".

O especialista adianta ainda que o seu uso para a descoberta de conhecimento faz-se com recurso a métodos de outras áreas, como a biologia e bioquímica, a estatística e a informática, mas também desenvolve métodos próprios. "O conhecimento adquirido através das técnicas da bioinformática é aplicado principalmente em biotecnologia", esclarece.

Esta é uma pós-graduação dirigida a licenciados de várias proveniências, mas Mário Gaspar da Silva admite que dão preferência a alunos de áreas como a informática ou matemática aplicada e das ciências da vida.

De acordo com este responsável, a pós-graduação em Bioinformática oferece três níveis de aprendizagem. "Todas começam com um curso de especialização internacional com disciplinas introdutórias e seminários avançado ao longo de dois semestres. Quando concluem o curso de especialização, é oferecida a possibilidade de realizar uma dissertação de Mestrado ou Doutoramento em Bioinformática, obtendo-se o grau académico correspondente", explica.

Segundo Pedro Fernandes, coordenador da Unidade de Bioinformática do Instituto Gulbenkian da Ciência, o curso que os alunos da primeira edição da pós-graduação seguem neste momento é de genética populacional, "mas seguem-se outros temas que cobrirão a genómica, a estrutura e função de proteínas, a identificação de genes, a ontologia de genes, a filogenia e a evolução molecular".

A profissionalização da Bioinformática

Pedro Fernandes salienta ainda que há poucas pessoas no mundo que têm uma formação profissionalizante em Bioinformática. A maior parte dos Bioinformáticos actuais são profissionais de outras áreas que, ou por si próprios ou com algum treino, fizeram a mudança de profissão. "Este curso, a par de outros programas internacionais congéneres, vem proporcionar essa profissionalização", explica.

Outra das apostas da FCUL é o Mestrado em História e Filosofia das Ciências. Para Ana Simões, coordenadora do curso, "o principal objectivo deste mestrado é dar uma formação mais alargada aos alunos e pô-los em contacto com uma formação de ponta nestas áreas mas valorizando a habilitação-base dos licenciados".

Mas a responsável explica que o curso tenta dar uma visão das ciências não como uma área acabada mas como algo que se vai transformando ao longo dos tempos. Para esta responsável, o Mestrado em História e Filosofia das Ciências poderá fornecer ferramentas para os alunos poderem abraçar outras abordagens possíveis em termos profissionais.

Outra das inovações em termos de especializações por parte da FCUL é o Mestrado em Química Aplicada ao Património Cultural. Este curso pretende acima de tudo, fornecer formação actualizada sobre os materiais que constituem os bens culturais, sobre os processos tecnológicos utilizados na sua criação e na manipulação química dos materiais que os constituem.

Além disso, o mestrado tem também como objectivo dar aos alunos uma formação actualizada e aprofundar conhecimentos sobre métodos e técnicas analíticas usados no estudo do património cultural.




A necessidade de cruzar ciências

ACTUALMENTE os especialistas queixam-se da compartimentação dos vários departamentos científicos e o conhecimento em determinadas áreas revela-se fechado.

Como consequência disso, algumas das maiores oportunidades de inovação tecnológica escapam-se entre as "malhas" que interligam as ciências. É por esse motivo que hoje se pede tanto a interdisciplinaridade.

A FCUL resolveu apostar seriamente nessa temática. Para Ana Simões, coordenadora do mestrado em História e Filosofia das Ciências, a junção de várias áreas do conhecimento é sempre vantajosa para qualquer trabalho científico. "A necessidade de se abordar um assunto em várias perspectivas é já muito antiga, apesar de só agora começar a ganhar forma", explica.

Também para Pedro Fernandes, coordenador da Unidade de Bioinformática do Instituto Gulbenkian da Ciência, "em Bioinformática a interdisciplinaridade surge de dentro. Os bioinformáticos têm de possuir conhecimentos em diversas áreas e combiná-los continuamente".

O especialista adianta que têm de dialogar com cientistas e técnicos praticamente de todos os sectores das ciências da vida, como economistas, políticos e empresários: "a interdisciplinaridade é essencial ao desempenho bem sucedido da profissão".






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