Fernanda Pedro
A Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa
apresenta este ano novas especializações onde a interdisciplinaridade
é a tónica dominante dos cursos
A necessidade de cruzar ciências
A FACULDADE de Ciências da Universidade de Lisboa
(FCUL) vai apostar no próximo ano lectivo em novos cursos de especialização
onde a interdisciplinaridade é a tónica dominante.
Com a certeza de que um trabalho científico tende a dominar diversas
áreas de conhecimento, a FCUL decidiu avançar com novos
cursos de pós-graduação e mestrados.
A pós-graduação em Bioinformática, cuja primeira
edição arrancou no último ano lectivo, é um
exemplo disso. Esta é uma formação ministrada pela
FCUL em parceria com o Instituto Gulbenkian da Ciência. Este ano,
irá arrancar também pela primeira vez o Mestrado em Bioinformática.
Para este curso só será aceite quem deter a pós-graduação
de Bioinformática.
Na verdade, esta é uma especialização única
no país e que Mário Gaspar da Silva, coordenador do curso,
considera de grande importância para os próximos anos "em
virtude de se terem aberto possibilidades novas e com grande potencial
de obtenção de conhecimento científico com bases
de dados com informação biológica. Estas bases de
dados, organizam grandes quantidades de informação".
O especialista adianta ainda que o seu uso para a descoberta de conhecimento
faz-se com recurso a métodos de outras áreas, como a biologia
e bioquímica, a estatística e a informática, mas
também desenvolve métodos próprios. "O conhecimento
adquirido através das técnicas da bioinformática
é aplicado principalmente em biotecnologia", esclarece.
Esta é uma pós-graduação dirigida a licenciados
de várias proveniências, mas Mário Gaspar da Silva
admite que dão preferência a alunos de áreas como
a informática ou matemática aplicada e das ciências
da vida.
De acordo com este responsável, a pós-graduação
em Bioinformática oferece três níveis de aprendizagem.
"Todas começam com um curso de especialização
internacional com disciplinas introdutórias e seminários
avançado ao longo de dois semestres. Quando concluem o curso de
especialização, é oferecida a possibilidade de realizar
uma dissertação de Mestrado ou Doutoramento em Bioinformática,
obtendo-se o grau académico correspondente", explica.
Segundo Pedro Fernandes, coordenador da Unidade de Bioinformática
do Instituto Gulbenkian da Ciência, o curso que os alunos da primeira
edição da pós-graduação seguem neste
momento é de genética populacional, "mas seguem-se
outros temas que cobrirão a genómica, a estrutura e função
de proteínas, a identificação de genes, a ontologia
de genes, a filogenia e a evolução molecular".
A profissionalização da Bioinformática
Pedro Fernandes salienta ainda que há poucas pessoas no mundo que
têm uma formação profissionalizante em Bioinformática.
A maior parte dos Bioinformáticos actuais são profissionais
de outras áreas que, ou por si próprios ou com algum treino,
fizeram a mudança de profissão. "Este curso, a par
de outros programas internacionais congéneres, vem proporcionar
essa profissionalização", explica.
Outra das apostas da FCUL é o Mestrado em História e Filosofia
das Ciências. Para Ana Simões, coordenadora do curso,
"o principal objectivo deste mestrado é dar uma formação
mais alargada aos alunos e pô-los em contacto com uma formação
de ponta nestas áreas mas valorizando a habilitação-base
dos licenciados".
Mas a responsável explica que o curso tenta dar uma visão
das ciências não como uma área acabada mas como algo
que se vai transformando ao longo dos tempos. Para esta responsável,
o Mestrado em História e Filosofia das Ciências poderá
fornecer ferramentas para os alunos poderem abraçar outras abordagens
possíveis em termos profissionais.
Outra das inovações em termos de especializações
por parte da FCUL é o Mestrado em Química Aplicada ao Património
Cultural. Este curso pretende acima de tudo, fornecer formação
actualizada sobre os materiais que constituem os bens culturais, sobre
os processos tecnológicos utilizados na sua criação
e na manipulação química dos materiais que os constituem.
Além disso, o mestrado tem também como objectivo dar aos
alunos uma formação actualizada e aprofundar conhecimentos
sobre métodos e técnicas analíticas usados no estudo
do património cultural.
A necessidade de cruzar ciências
ACTUALMENTE os especialistas queixam-se da compartimentação
dos vários departamentos científicos e o conhecimento em
determinadas áreas revela-se fechado.
Como consequência disso, algumas das maiores oportunidades de inovação
tecnológica escapam-se entre as "malhas" que interligam
as ciências. É por esse motivo que hoje se pede tanto a interdisciplinaridade.
A FCUL resolveu apostar seriamente nessa temática. Para Ana Simões,
coordenadora do mestrado em História e Filosofia das Ciências,
a junção de várias áreas do conhecimento é
sempre vantajosa para qualquer trabalho científico. "A
necessidade de se abordar um assunto em várias perspectivas é
já muito antiga, apesar de só agora começar a ganhar
forma", explica.
Também para Pedro Fernandes, coordenador da Unidade de Bioinformática
do Instituto Gulbenkian da Ciência, "em Bioinformática
a interdisciplinaridade surge de dentro. Os bioinformáticos têm
de possuir conhecimentos em diversas áreas e combiná-los
continuamente".
O especialista adianta que têm de dialogar com cientistas e técnicos
praticamente de todos os sectores das ciências da vida, como economistas,
políticos e empresários: "a interdisciplinaridade
é essencial ao desempenho bem sucedido da profissão".