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Centros de Emprego pouco eficazes

11.07.2003


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Ruben Eiras

OS DESEMPREGADOS de longa duração (DLD) e os jovens à procura do primeiro emprego consideram a actuação dos centros de emprego (CE) do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) pouco eficaz na superação da sua situação de desemprego.


Esta é uma das principais conclusões de um estudo qualitativo sobre a avaliação do impacto da estratégia europeia de emprego no mercado de trabalho português, elaborado recentemente pelo Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento do Ministério da Segurança Social e do Trabalho.

Os resultados reportam-se a uma sondagem efectuada no final de 2001 a cerca de 1212 jovens à procura do primeiro emprego e de 1284 DLD.

Dentro da eficácia das estratégias de procura de emprego utilizadas por estes segmentos da população activa, a pesquisa mostra avaliações tendencialmente menos positivas para os centros de emprego face aos amigos, à consulta de jornais, ao envio de currículos a empresas listadas nas Páginas Amarelas, ao accionamento de redes pessoais de contactos e à internet.

Por exemplo, cerca de 40% dos jovens à procura do primeiro emprego consideram "pouco eficaz" a acção dos centros de emprego e perto de 55% dos DLD avaliam como sendo "nada eficaz".

O estudo, porém, faz a ressalva de que devido à forte presença que os centros de emprego detêm a nível do mercado de trabalho, tendo conseguido elevados níveis de imagem de marca, estes são "mais facilmente alvo de críticas e avaliações".

Um dos indicadores dessa imagem de marca é o nível de utilização por parte dos jovens deste instrumento de procura de emprego: 97% dos inquiridos, sobretudo as pessoas com o 2º e 3º ciclos de escolaridade e com o ensino secundário (34%), recorrem aos CE. Os amigos e a consulta de jornais vêm a seguir. A internet como meio de encontrar trabalho conta só com 13,6% neste segmento populacional.

Além disso, o estudo mostra que os centros de emprego posicionam-se à frente das empresas de trabalho temporário em ambos os universos como meio mais utilizado. Isto denota, segundo a pesquisa, que não se trata de uma avaliação negativa no seu todo, mas de alguns aspectos que afectam o processo.

Por exemplo, o grupo de jovens à procura do primeiro emprego menciona que os centros de emprego provocam atrasos na apresentação dos candidatos às empresas, devido à lentidão do seu trabalho, produzindo assim um "gap" de tempo entre o CE e o mercado. Um dos depoimentos de jovens contidos no estudo confirma esta realidade: "Mandavam-me cartas, e quando eu ia lá (empresa), a vaga já estava preenchida...".

Mário Caldeira Dias, presidente do IEFP, em resposta por escrito ao EXPRESSO, salienta que as "análises qualitativas baseadas em declarações individuais, podem ser ilustrativas mas não podem, por definição, ser generalizadas para o universo". E acrescenta que "podem dirigir-se num único dia aos Centros de Emprego à volta de 5000 pessoas pelo que as questão da representatividade de qualquer declaração individual é irrisória. Foram registadas 4872 pessoas em 16 de Maio de 2001 a propósito de um inquérito ao atendimento".

Mas os números no estudo do MSST são claros. Na sondagem, cerca de 35% dos jovens concordam parcialmente que os centros de emprego são desorganizados e lentos e 25% concordam totalmente. No entanto, os autores do estudo referem que a investigação não confirmou a existência de uma clara associação da lentidão "a uma desorganização generalizada dos centros de emprego".

Além disso, os jovens inquiridos também mencionaram que predomina a falta de objectividade na sua relação com os CE. Cerca de 20% discordam totalmente e 30% discordam parcialmente de que o centro de emprego só os contacta "quando é importante".

Os candidatos jovens também referem a falta e a deficiente actualização dos dados dos candidatos, quando os CE respondem a pedidos de emprego que entretanto já foram alterados pelos candidatos, especialmente quando aumentam as qualificações.

Um dos jovens inquiridos deixou este depoimento: "Eu inscrevi-me quando tinha o 12º ano para um trabalho de escritório, mas nada... Quando era finalista fui lá para um estágio e actualizei a minha ficha... Recebi uma carta em casa para um emprego como telefonista... Conclusão, eles estavam a responder à minha primeira candidatura".

A este respeito, o presidente do IEFP sublinha que "há que ter em conta o enorme esforço que o aumento do desemprego e a obrigação de atender todos os desempregados jovens e DLD no âmbito das metodologias PNE, está a exigir dos CE, com recursos limitados". O dirigente acrescenta ainda que o número de pessoas "enviadas a uma oferta pode chegar aos cinco candidatos como forma de procurar uma satisfação respectiva da oferta".

Mário Caldeira Dias avança também que o IEFP realizou quatro inquéritos ao atendimento nos CE desde Maio de 2000 sendo os primeiros realizados pelo Departamento de Estatística do então Ministério do Trabalho e Solidariedade. Aquele responsável garante que "o último inquérito (realizado em Junho de 2003) pela Direcção de Serviços de Estudos do IEFP", mostra "resultados perfeitamente consistentes com os dos três primeiros".

Esta pesquisa constata que 70% dos utentes consideram o tempo de espera adequado embora este indicador fosse melhor com o desemprego menos elevado (77,7% em Maio de 2000). O tempo de espera foi inferior a 30 minutos para 80,2% dos utentes.

Quanto aos desempregados de longa duração, 60% destes inquiridos confirmam a percepção da influência de terceiros - vulgo "cunhas" - para conseguirem contornar a excessiva burocracia dos centros de emprego. Face a este facto, Mário Caldeira Dias refere que as "cunhas" "não se relacionam, naturalmente, com os CE, mas decorrem antes como um factor de relevo em todos os estudos sociológicos voltados para a problemática da inserção".

Por outro lado, os próprios DLD reconhecem que instrumentalizam os recursos públicos a seu favor, ou seja, preferem receber o subsídio de desemprego a trabalhar. Uns significativos 35% concordam em parte que os "CE são bons para quem não quer trabalhar e quer ter subsídios" e 25% concordam totalmente com esta afirmação.





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