Ruben Eiras
OS DESEMPREGADOS de longa duração (DLD) e
os jovens à procura do primeiro emprego consideram a actuação
dos centros de emprego (CE) do Instituto de Emprego e Formação
Profissional (IEFP) pouco eficaz na superação da sua situação
de desemprego.
Esta é uma das principais conclusões de um estudo qualitativo
sobre a avaliação do impacto da estratégia europeia
de emprego no mercado de trabalho português, elaborado recentemente
pelo Departamento de Estudos, Prospectiva e Planeamento do Ministério
da Segurança Social e do Trabalho.
Os resultados reportam-se a uma sondagem efectuada no final de 2001
a cerca de 1212 jovens à procura do primeiro emprego e de 1284
DLD.
Dentro da eficácia das estratégias de procura de emprego
utilizadas por estes segmentos da população activa, a
pesquisa mostra avaliações tendencialmente menos positivas
para os centros de emprego face aos amigos, à consulta de jornais,
ao envio de currículos a empresas listadas nas Páginas
Amarelas, ao accionamento de redes pessoais de contactos e à
internet.
Por exemplo, cerca de 40% dos jovens à procura do primeiro emprego
consideram "pouco eficaz" a acção dos
centros de emprego e perto de 55% dos DLD avaliam como sendo "nada
eficaz".
O estudo, porém, faz a ressalva de que devido à forte
presença que os centros de emprego detêm a nível
do mercado de trabalho, tendo conseguido elevados níveis de imagem
de marca, estes são "mais facilmente alvo de críticas
e avaliações".
Um dos indicadores dessa imagem de marca é o nível de
utilização por parte dos jovens deste instrumento de procura
de emprego: 97% dos inquiridos, sobretudo as pessoas com o 2º e
3º ciclos de escolaridade e com o ensino secundário (34%),
recorrem aos CE. Os amigos e a consulta de jornais vêm a seguir.
A internet como meio de encontrar trabalho conta só com 13,6%
neste segmento populacional.
Além disso, o estudo mostra que os centros de emprego posicionam-se
à frente das empresas de trabalho temporário em ambos
os universos como meio mais utilizado. Isto denota, segundo a pesquisa,
que não se trata de uma avaliação negativa no seu
todo, mas de alguns aspectos que afectam o processo.
Por exemplo, o grupo de jovens à procura do primeiro emprego
menciona que os centros de emprego provocam atrasos na apresentação
dos candidatos às empresas, devido à lentidão do
seu trabalho, produzindo assim um "gap" de tempo entre
o CE e o mercado. Um dos depoimentos de jovens contidos no estudo confirma
esta realidade: "Mandavam-me cartas, e quando eu ia lá
(empresa), a vaga já estava preenchida...".
Mário Caldeira Dias, presidente do IEFP, em resposta por escrito
ao EXPRESSO, salienta que as "análises qualitativas baseadas
em declarações individuais, podem ser ilustrativas mas
não podem, por definição, ser generalizadas para
o universo". E acrescenta que "podem dirigir-se num
único dia aos Centros de Emprego à volta de 5000 pessoas
pelo que as questão da representatividade de qualquer declaração
individual é irrisória. Foram registadas 4872 pessoas
em 16 de Maio de 2001 a propósito de um inquérito ao atendimento".
Mas os números no estudo do MSST são claros. Na sondagem,
cerca de 35% dos jovens concordam parcialmente que os centros de emprego
são desorganizados e lentos e 25% concordam totalmente. No entanto,
os autores do estudo referem que a investigação não
confirmou a existência de uma clara associação da
lentidão "a uma desorganização generalizada
dos centros de emprego".
Além disso, os jovens inquiridos também mencionaram que
predomina a falta de objectividade na sua relação com
os CE. Cerca de 20% discordam totalmente e 30% discordam parcialmente
de que o centro de emprego só os contacta "quando é
importante".
Os candidatos jovens também referem a falta e a deficiente actualização
dos dados dos candidatos, quando os CE respondem a pedidos de emprego
que entretanto já foram alterados pelos candidatos, especialmente
quando aumentam as qualificações.
Um dos jovens inquiridos deixou este depoimento: "Eu inscrevi-me
quando tinha o 12º ano para um trabalho de escritório, mas
nada... Quando era finalista fui lá para um estágio e
actualizei a minha ficha... Recebi uma carta em casa para um emprego
como telefonista... Conclusão, eles estavam a responder à
minha primeira candidatura".
A este respeito, o presidente do IEFP sublinha que "há
que ter em conta o enorme esforço que o aumento do desemprego
e a obrigação de atender todos os desempregados jovens
e DLD no âmbito das metodologias PNE, está a exigir dos
CE, com recursos limitados". O dirigente acrescenta ainda que
o número de pessoas "enviadas a uma oferta pode chegar
aos cinco candidatos como forma de procurar uma satisfação
respectiva da oferta".
Mário Caldeira Dias avança também que o IEFP realizou
quatro inquéritos ao atendimento nos CE desde Maio de 2000 sendo
os primeiros realizados pelo Departamento de Estatística do então
Ministério do Trabalho e Solidariedade. Aquele responsável
garante que "o último inquérito (realizado em
Junho de 2003) pela Direcção de Serviços de Estudos
do IEFP", mostra "resultados perfeitamente consistentes
com os dos três primeiros".
Esta pesquisa constata que 70% dos utentes consideram o tempo de espera
adequado embora este indicador fosse melhor com o desemprego menos elevado
(77,7% em Maio de 2000). O tempo de espera foi inferior a 30 minutos
para 80,2% dos utentes.
Quanto aos desempregados de longa duração, 60% destes
inquiridos confirmam a percepção da influência de
terceiros - vulgo "cunhas" - para conseguirem contornar
a excessiva burocracia dos centros de emprego. Face a este facto, Mário
Caldeira Dias refere que as "cunhas" "não se
relacionam, naturalmente, com os CE, mas decorrem antes como um factor
de relevo em todos os estudos sociológicos voltados para a problemática
da inserção".
Por outro lado, os próprios DLD reconhecem que instrumentalizam
os recursos públicos a seu favor, ou seja, preferem receber o
subsídio de desemprego a trabalhar. Uns significativos 35% concordam
em parte que os "CE são bons para quem não quer
trabalhar e quer ter subsídios" e 25% concordam totalmente
com esta afirmação.