Marisa Antunes
Ditam as estatísticas mundiais que 40% das PME abrem falência no primeiro ano de actividade. Das sobreviventes, cerca de 80% acabam por sucumbir antes de perfazer cinco anos no mercado. Cientes da sua vulnerabilidade são muitos os empresários portugueses que estão a descobrir o «business coaching», que permite potenciar as capacidades de gestão e a investir fundo no desenvolvimento pessoal de cada um, ferramentas fundamentais para o caminho do sucesso.
É exactamente isso que a equipa feminina da Action Coach faz. Experientes, polivalentes e também elas com um aguçado espírito empreendedor, as quatro mulheres da Action orientam, aconselham e ajudam, através dos métodos utilizados pela multinacional de «coaching», numa multiplicidade de áreas. “As questões que nos colocam são várias, desde a forma como se deve lidar com os clientes às parcerias estratégicas com alguns fornecedores, ou se será boa ideia apostar numa determinada campanha de «marketing»”, resume Susana Mendo, que é também a «coach» dos 21 «coachers» da equipa Action.
“Acima de tudo, querem traçar o rumo da empresa e pedem a visão de alguém de fora, pois eles estão emocionalmente ligados à organização, muitas vezes, como se fosse mais um filho, o que os impede de ter o distanciamento necessário. Frequentemente existe uma estratégia empresarial, mas falta o plano para chegar lá. O GPS que lhes permite atingir os objectivos", reforça Maria Augusta Vieira, que trabalhou quase uma década para a companhia Johnson & Johnson.
Com 80% de clientes homens e 20% de mulheres, as «business coachers», ou, à portuguesa, as treinadoras de empresas, tornam-se confidentes dos empresários, que na sua grande maioria, mais especificamente 86%, acabam por prolongar por mais tempo a consultoria inicial cuja duração média ronda um ano. “Tem a ver com o programa pretendido… Questões de liderança ou de crescimento sustentado da equipa de trabalho passa, muitas vezes, pelo desenvolvimento interno da pessoa”, lembra Teresa Botelho, que foi para a Action Coach após uma longa experiência na direcção comercial de empresas como a Mary Kay, a Guerlain ou a Playtex Espãna.
Cristina Almeida, outra especialista em «coaching», reforça: “Existe uma componente psicológica muito grande em todo este processo de consultoria. Os empresários estão muito sozinhos e sentem-se aliviados quando são ajudados. Não somos os sócios que também têm uma quota-parte do lucro da empresa ou a mulher que reivindica mais tempo para a família. Somos isentas e isso facilita muito”.
A gestão da agenda profissional e pessoal, aliás, é uma das questões recorrentes. “São muitas as mulheres empresárias ou com lugares de chefia que se queixam de falta de tempo para investir no «networking» e na impossibilidade de comparecerem a jantares de negócios, por exemplo. Uma boa parte passou por maternidades tardias e agora já com filhos, tentam conciliar, da melhor forma possível, a educação das crianças com o trabalho”, acrescenta ainda Cristina Almeida, que pertenceu aos quadros da Hewlett-Packard Portugal.
São também muitos aqueles que não conseguem evitar que a sua vida profissional tome conta da pessoal. “Neste caso, aconselhamos a fazer a sistematização das tarefas dentro da empresa. É possível criar procedimentos escritos de forma a que se a empresária, ou o empresário, (pois eles são igualmente sensíveis à questão familiar) tiver de sair cedo para ir buscar os filhos à escola, alguém consiga resolver a tarefa. Delegar é fundamental”, acrescenta Cristina Almeida.
As «coachers» lembram que a capacidade de liderança é outra das principais características a aperfeiçoar pelas mulheres, e que será uma mais-valia para conquistar terreno no campo do empreendedorismo de sucesso, onde já representam um terço do total de empresários. Segundo o estudo desenvolvido pelo IAPMEI, em 2006, no Observatório da Criação de Empresas, essa proporção aumenta para 40% na faixa etária entre os 25 e os 35 anos.
“Muitas mulheres têm medo de liderar e de passar aquela imagem de ‘mandona‘. Ao serem mais compreensivas, acabam por se envolver com os colaboradores. Os homens são mais imparciais”, realça Maria Vieira. Apesar de tudo, este envolvimento com a equipa que chefia acaba por ter algumas vantagens para a mulher empresária quando está sob pressão. “Os homens, em situações de stresse acabam por se isolar, recolhem-se em silêncio”, reforça Susana Mendo.
Teresa Botelho sintetiza ainda outras diferenças que separam os sexos na hora de tomar decisões. "Quando algo corre menos bem e é necessário redimensionar a acção, os homens analisam e agem. Passam à etapa seguinte de forma mais rápida. As mulheres, por vezes, hesitam. Funcionam muito por intuição. Mas têm uma força interior muito grande pois para chegar onde chegaram tiveram de provar a elas próprias, aos pais, aos maridos, aos filhos, aos colegas, que eram boas naquilo que faziam. E quando chegam ao topo é porque são mesmo muito boas, as melhores”, conclui a «business coach».