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Angola na rota do emprego

Angola na rota do emprego

Angola está a conquistar os portugueses, seja como destino provável para o desenvolvimento de uma carreira profissional, seja como rota de internacionalização comercial. O país cresce a um ritmo alucinante e tem ainda falta de recursos humanos qualificados. Mas quem escolhe o país como destino deve acautelar todas as situações, mesmo as mais difíceis de prever, e preparar-se para um país em tudo diferente de Portugal, apesar da proximidade histórica.
29.06.2012 | Por Cátia Mateus


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O Produto Interno Bruto (PIB) angolano deverá crescer entre 8 a 10% até ao final deste ano, segundo as perspetivas do Governo local. Os números espelham a realidade de um país cuja economia é já apontada como uma das mais dinâmicas do mundo, tornando-se um destino apetecível para milhares de profissionais altamente qualificados.

Com a taxa de desemprego a aumentar em Portugal, há uma nova vaga de emigrantes - maioritariamente jovens e altamente qualificados - a rumar a terras angolanas. Angola é já para os portugueses, um dos maiores destinos de emigração, segundo o Observatório da Emigração. Segundo os dados do Consulado Português em Angola, o país tem 91.900 cidadãos lusos registados. Estima-se que semanalmente, cerca de sete mil pessoas viajam entre Portugal e Angola. O país é, e continuará a ser, um dos principais destinos de investimento e expatriação de quadros portugueses, mas desde que a oportunidade foi descoberta muita coisa já mudou, a começar pelos salários praticados.

Em Angola está quase tudo para fazer e há muito trabalho. Ao país faltam engenheiros, advogados, profissionais de saúde, gestores, professores, arquitetos, financeiros e perfis mais técnicos em diversas áreas, mas para Pedro Amorim, national sales director da consultora de recrutamento Hays “Angola é uma terra de oportunidades mas também de grandes desafios para os portugueses”. Diz o especialista que “nos últimos anos temos assistido a um crescimento da economia angolana que patrocinou a contratação de profissionais qualificados e experientes. As empresas têm apostado em Angola para crescerem e continuarão a surgir novas necessidades de recursos humanos. No entanto, temos de ter a noção que o mercado já não paga os salários que pagava há alguns anos atrás”.

Um quadro expatriado em Angola (alguém que já trabalha para uma empresa e é convidado a integrar a sua delegação no país) saí de Portugal, regra geral, com condições acima da média e naturalmente superiores a alguém que seja contratado para trabalhar em Angola. Mas na maioria dos casos, as condições negociadas incluem habitação, carro, viagens a Portugal, seguro internacional e de vida. E é importante negociar bem estes componentes. É que Luanda, por exemplo, é uma das cidades mais caras e onde o arrendamento de um apartamento é largamente mais dispendioso do que em Portugal. A título de exemplo, um estudo recente da consultora Abacus Savills, refere que o arrendamento de um apartamento t2 com 90 m2, nas zonas mais caras de Luanda, pode variar entre 0s 7600 e os 15.200 euros mensais.

Razões que levam Pedro Amorim a considerar que todos os fatores devem ser tidos em conta. “Em alguns casos, de acordo com o nível de senioridade ou responsabilidade do quadro, podem estar incluídos no plano salarial apoios para a educação dos filhos e alargamento dos seguros à família”, explica adiantando que “é importante perceber que Angola já não paga salários com incrementos muito grandes. A lógica da oferta e da procura está ativa e no caso dos portugueses, com o número de pessoas disponíveis, torna-se claro que os valores de salários estão mais baixos”. Pedro Amorim aconselha assim a quem opte por rumar a Angola, que “esteja atento às questões fiscais (descontos), à negociação da casa (em Angola a habitação é um ponto crítico para manter a qualidade de vida), aos seguros de saúde e de vida (é fundamental validar a questão da expatriação em caso de doença grave) e à mobilidade”. Tudo para que, como refere, “não surjam surpresas”.

Apesar deste cuidados, o especialista da Hays reconhece o potencial deste destino para os portugueses e reforça a existência de múltiplas oportunidades no território. “O mercado de trabalho no país é vasto e as oportunidades estão em vários sectores, desde a pujante área das infraestruturas, passando pelos serviços, retalho, telecomunicações, oil & gas, mineração, agricultura e turismo. Há muito investimento a ser realizado e novas oportunidades a surgir”, reforça. Um português que tenha em Angola a sua primeira experiência de trabalho internacional, certamente, sentirá o impacto da diferença. Angola tem os seus ritmos, calor, riscos e um custo de vida muito elevado. Mas tem também as suas oportunidades. Pelo menos até que consiga tornar-se auto-suficiente em termos de mão-de-obra qualificada e trazer de volta ao território todos os profissionais angolanos que foram formar-se noutros países. É que o país é um claro apologista da contratação de recursos humanos angolanos e tende a proteger os seus, encorajando as empresas, mesmo estrangeiras, a recrutar cidadãos nacionais.

Trabalhar em Angola
Angola é e continuará a ser um dos destinos de investimento e emigração de muitos portugueses, sejam eles profissionais mais técnicos ou quadros altamente qualificados. Mas esta incursão por terras angolanas tem as suas regras, para que possa ser bem sucedida. Hermínio Santos, conhece-as bem. O atual diretor do jornal Briefing foi, durante cerca de cinco anos, responsável de comunicação e marketing da Escom (atualmente uma marca da Sonangol). Trabalhou no país, ajudou a fundar lá o semanário Novo Jornal, geriu equipas na mediatização de vários projetos de investimento do grupo Escom em Angola e na República do Congo. Pelo meio escreveu o livro a pensar em todos os portugueses que querem tentar uma oportunidade no país. “Trabalhar em Angola” é uma leitura obrigatória, cheia de dicas úteis para quem se quer adaptar. Conheça algumas.

1. O contrato deve ser negociado ainda em Portugal. Na negociação procure acautelar aspetos mais práticos, como por exemplo perceber se é possível receber parte do salário em euros ou dólares (apesar da moeda nacional ser o kwanza), se as viagens para Portugal fazem parte do pacote salarial e em que moldes. Procure falar com outros quadros portugueses que já trabalhem no território e que o podem ajudar a ter informações sobre as práticas salariais em vigor.

2. Antes de partir confirme bem todos os detalhes do seu contrato. Deve ainda perceber que vacinas deverá tomar para poder estar no território e levar consigo alguns medicamentos mais básicos. O visto e o boletim da febre-amarela são obrigatórios para entrar no país.

3. Não deve descuidar a questão da segurança. Como qualquer grande cidade mundial, Luanda exige alguns cuidados de segurança. Hermínio Santos aconselha a manter as janelas de casa fechadas quando está fora, trancar as portas do carro quando circula e evitar seguir por caminhos que não conhece.

4. Organize bem a ida da família. Se viaja acompanhado pela sua família e se tem filhos, deve acautelar com antecedência as escolas para eles. A maioria dos expatriados optam por colégios privados internacionais. A opção é mais cara, mas permite contornar os problemas próprios do sistema nacional de ensino angolano. O acesso não é automático, nem barato. Nas escolas internacionais os preços variam entre os 25 mil e os 40 mil dólares anuais e na escola portuguesa, em Luanda, terá de pagar cerca de mil euros a cada quatro meses.

5. Tenha em mente que Luanda é das cidades mais caras do mundo. O custo de bens básicos reflete esta realidade. Arrendar um apartamento em Luanda, por exemplo, pode custar entre sete a dez mil euros mensais.



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