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Alentejo na rota do emprego

É em sectores como o turismo, a aeronáutica e a agricultura que residem as expectativas de desenvolvimento e criação de emprego no Alentejo. Renasce a esperança numa região onde a taxa de desemprego é uma das mais altas do país
04.07.2008


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Marisa Antunes e Maribela Freitas
Quando a empresa Valnor, Valorização e Tratamento de Resíduos Sólidos abriu as candidaturas para as 55 vagas que vai criar naquela que será a primeira central de compostagem do Alentejo, já sabia que a procura dos candidatos excederia em muito a oferta de empregos. E assim foi. Para os postos de trabalho que vai gerar registou-se uma procura quatro vezes superior tendo a empresa sido inundada com cerca de 200 pedidos. Nada de espantar quando se fala de uma região cronicamente fustigada pela desertificação e pela ausência de dinamismo empresarial. E, consequentemente pelo desemprego, cujos números ascendiam até ao final de Maio a 17.561 pessoas. Neste momento, e apesar do decréscimo ocorrido no primeiro trimestre, a taxa de desemprego situa-se nos 8,3%, um valor superior à média nacional (7,6%).

Apesar de tudo, os tempos são agora de alguma expectativa, como realça a presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo (CCDRA), Maria Leal Monteiro. “A médio prazo, o balanço que fazemos é extremamente positivo. Temos condições para que o Alentejo venha a ser uma região de excelência e depositamos grandes esperanças em três sectores, nomeadamente na aeronáutica, agricultura e turismo”.

Para a aeronáutica, a responsável lembra os vários projectos em curso: a construção do novo aeroporto em Beja, a criação de uma base aérea para acolher aviões de combate aos fogos florestais em Ponte Sor e o projecto Skylander, o avião bimotor, a ser construído em Évora (cujas obras deverão ser lançadas até ao final do ano).

Em relação ao turismo existem vários megaprojectos previstos em curso como o L'And Vineyards, em Montemor, dos grupos Lágrimas Hotels e Cunhal Sendim, o Parque Alqueva, de José Roquette, em Reguengos de Monsaraz ou a Herdade do Barrocal, do grupo Aquapura.

Além das mais-valias no turismo, a Barragem do Alqueva irá trazer grandes benefícios ao sector agrícola, salienta ainda a responsável da CCDRA: “Já se nota na própria paisagem, pois está muito mais verde. Até ao final deste ano e cumprindo o compromisso que existia para uma primeira fase, já temos cerca de 6000 ha de campos regados pelo Alqueva e 20 mil ha com as infra-estruturas já prontas para o regadio”. A previsão é que até 2015 existam mais 110 mil ha de regadio.

Formação precisa-se

O optimismo, ainda que comedido, é também partilhado na Agência para o Desenvolvimento Regional do Alentejo (ADRAL). “Penso que a curto prazo a taxa de desemprego irá estabilizar nos valores existentes. Mas com o surgimento das unidades turísticas de maior dimensão e a valorização das actividades agrícolas poderá até existir uma melhoria nestes números. Isto se a formação profissional dos activos corresponder às necessidades destes sectores. A tendência será para melhorarmos a taxa de actividade e assim diminuirmos o desemprego a nível regional”, sublinha o director executivo da ADRAL, Luís Cavaco.

Encarados com grande expectativa, os grandes projectos turísticos anunciados para a região não são, contudo, a solução milagrosa para o problema do emprego no Alentejo, realça Luís Cavaco. “A existência destas infra-estruturas turísticas trará mais população, permitindo o aparecimento de serviços complementares de satisfação do turista, criando igualmente novos postos de trabalho. Mas o emprego regional não pode depender exclusivamente deste sector, pois o mesmo encerra sazonalidade. Assim, deverão ser dados passos na qualificação da população activa nos sectores agrícolas e agro-industriais, bem como nos serviços ligados a sectores mais avançados que permitirá a ocupação de parte dos nossos licenciados e pessoal mais especializado”, remata o responsável.

Empresas que criam trabalho

A começar a dar cartas no sector agrícola e a criar postos de trabalho está a Quinta de São Vicente com a sua produção de azeite.

Em 2003 começou a tomar forma um projecto na Quinta de São Vicente, em Ferreira do Alentejo, que actualmente é responsável pela contratação de 50 pessoas sazonalmente e 24 a tempo inteiro.

O projecto consiste na produção de azeite numa propriedade que pertence à família Passanha. Para tal, os herdeiros investiram 17 milhões de euros (950 mil euros dos quais comparticipados pela União Europeia) na plantação de 700 hectares de olival, na constituição de um lagar e na criação de uma imagem de marca e distribuição do produto. Em Junho deste ano a ideia esboçada deu fruto e foi lançada a gama de azeites da Quinta de São Vicente.

“O Alentejo tem condições excepcionais para muitos outros tipos de empresas, sejam elas ligadas à agricultura ou ao turismo, por exemplo. É preciso é haver cada vez mais criatividade e empresários a realizarem novos projectos”, frisa João Filipe Passanha, um dos responsáveis por este negócio.

Numa região em que o desemprego grassa, João Filipe Passanha conta que “foi relativamente fácil encontrar mão-de-obra devido ao facto de existir muita falta de emprego na região”.

A contratação de trabalhadores tem sido feita localmente e privilegiam os meios humanos da região com formação realizada no Alentejo. Para o futuro e com o crescimento do negócio, João Filipe Passanha revela que vão necessitar de mais trabalhadores. “Na parte da indústria e comercialização prevemos a criação de mais dez postos fixos e cinco sazonais. Na parte agrícola, mais seis fixos e 40 sazonais”.

Também em Portalegre se relança a esperança para algumas famílias. Com arranque previsto dentro de duas a três semanas (para testes tecnológicos), aquela que vai ser a primeira central de compostagem do Alentejo vai contratar, numa primeira fase 35 pessoas e mais 20 numa segunda.

Pertencendo à empresa multimunicipal, Valnor, esta central vai transformar resíduos biodegradáveis, recolhidos do lixo doméstico, em adubos orgânicos.

"Pretendemos aproveitar cerca de 40% do lixo doméstico do distrito de Portalegre (que totaliza as 75 mil toneladas) e que está actualmente a ser canalizado para o aterro. Cerca de 80% da separação do lixo é feito pelas máquinas e só o tratamento final é feito pelas pessoas. A partir de resíduos como cascas de batata ou espinhas de peixe e após um tratamento biológico, é feita a transformação em adubo orgânico", explica Pinto Rodrigues, administrador-delegado da Valnor, empresa que é ainda responsável pelo tratamento de resíduos sólidos de 19 municípios do Alentejo. Dos cerca de 200 candidatos que surgiram, apenas 55 foram seleccionados, estando o curso de formação em ambiente de trabalho pronto a arrancar a 1 de Agosto para o primeiro grupo de trabalhadores.

"Estes 55 empregos no Alentejo significam, em termos comparativos, cerca de 500 postos de trabalho na zona de Lisboa. Além disso, estamos a apostar na criação de emprego sustentado", reforça ainda o responsável da empresa, lembrando que nos últimos cinco anos a Valnor recrutou cerca de 100 pessoas.





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