Cátia Mateus
JÁ IMAGINOU o que é
criar um negócio por acidente? Parece-lhe uma hipótese
pouco plausível? Pois saiba que em Portugal há
pelo menos uma empresa que resultou de um acidente de trânsito.
Chama-se Helisafe e consiste num sistema de recolha e análise
de dados de sinistros automóveis, com recurso a uma
fotografia tirada a partir do ar por helicópetros radiocontrolados.
A ideia inovadora não mais é do que um produto
da mente de três jovens empreendedores: Luís
Grilo, Ana Costa e Jorge Tristany.
É uma realidade que provar a inocência
de um automobilista num acidente nem sempre é fácil.
As testemunhas regra geral não estão onde deviam,
e muitas vezes não é fácil ter a uma primeira
vista a percepção correcta de quem causou o sinistro.
Que o diga Luís Grilo, um engenheiro mecânico de 31
anos. Foram as dificuldades sentidas por este empreendedor na resolução
de um acidente de viação que o levaram a delinear
um "produto" que pudesse celerizar o processo de recolha
de provas para peritagem. A necessidade gerou o projecto. Luís
Grilo rodeou-se da equipa certa e em conjunto com Ana Costa e Jorge
Tristany, uma gestora e um engenheiro mecânico, tornou real
o projecto Helisafe.
Na sua essência, "o Helisafe consiste num sistema
de recolha e análise de dados de um sinistro automóvel
feito por um helicóptero à escala, radiocontrolado,
que vai fotografar o acidente e tratar informaticamente os dados
recolhidos para a peritagem", explicam os empreendedores.
Luís Grilo, Ana Costa e Jorge Tristany não têm
quaisquer dúvidas de que "este sistema permite uma
análise bastante mais rápida, detalhada e precisa".
E na realidade, foi esta certeza que motivou a criação
da Helisafe. Para Ana Costa, "na sua essência, a Helisafe
era um projecto e não uma empresa. O projecto existia e a
empresa foi apenas uma consequência desse projecto".
Uma ideia também corroborada por Luís Grilo e Jorge
Tristany que acreditam que "uma empresa sem projecto tem
muita dificuldade em sobreviver".
Com um projecto na mão e decididos a "agarrar"
a oportunidade que o mercado lhes estava a dar, os três empreendedores
lançaram-se no desenvolvimento do protótipo. Foi alías
aqui que se concentrou o maior esforço da equipa. "O
protótipo está avaliado em 40 mil euros e foram necessárias
centenas de horas de investigação para ultrapassar
as barreiras entretanto surgiram".
Contudo, a equipa estima que no final o investimento global ronde
os 450 mil euros, "que serão alvo de candidatura
em Bruxelas, ao fundo europeu na vertente de investigação,
ciência e tecnologia", explicam. Neste momento, a
equipa está a testar e optimizar o desempenho e dimensão
as tecnologias a serem aplicadas. O "software" de análise
de dados também se encontra em estudo e os três empreendedores
esperam ter todas as componentes operacionais antes do final do
primeiro semestre do corrente ano.
Mas apesar do mérito da Helisafe ter sido reconhecido a nível
nacional e internacional - "o projecto foi apresentado num
concurso nacional para jovens empreendedores e seleccionado para
representar o país num certame em Bruxelas" - os
três empreendedores não tiveram a vida facilitada na
fase de lançamento do seu negócio. É certo
que a empresa, pelo seu conceito inovador, não conta com
qualquer concorrência directa ou indirecta no mercado, mas
a implementação da ideia não foi fácil.
Segundo Jorge Tristany, "ao contrário das expectativas,
encontrámos várias dificuldades na implementação
da ideia, mas uma vez transpostas todo o processo têm-se revelado
célere, apesar da sua complexidade".
De facto, aquela que os empreendedores esperavam ser a maior dificuldade
estrutural - a obtenção de investimento - "foi
rapidamente solucionada com o interesse de várias entidades
e investidores estrangeiros que após a apresentação
do projecto na cerimónia dos Eurowards em Bruxelas nos contactaram
para parcerias", explicam.
Para já as prioridades da equipa centram-se na divulgação
do projecto junto do meracdo e no aperfeiçoamento do protótipo.
Mas adiantam que "face às caracteristicas inovadoras
do projecto, antevê-se uma elevada aceitação
do mercado e um crescimento sustentável". Neste
momento a empresa ainda se encontra em fase de implementação.
Os empreendedores mostram-se conscientes de que o segmento de mercado
onde pretendem actuar se encontra "estagnado em termos tecnológicos
e por isso, o aparecimento do projecto Helisafe será revolucionários
em vários níveis, nomeadamente na rapidez de resolução
dos processos judiciais".
Além de registar e controlar de forma imediata os acidentes
de trânsito, a Helisafe está ainda apta a aplicar os
seus serviços ao controle de fogos, tráfego e outras
situações.
Para Ana Costa, Luís Grilo e Jorge Tristany, "ser
empreendedor em Portugal é uma missão quase impossível".
Os três empresários explicam que "se antes
do 11 de Setembro já era difícil a obtenção
de fundos de investimento, com a descida dos lucros das grandes
empresas e grupos a operar em Portugal, tornou-se ainda mais complicado".
Por isso, aconselham a que qualquer potencial empreendedor se prepare
sempre para o pior, se mentalize que terá pela frente "longos
meses de negociação, inúmeras apresentações
do projecto e várias recusas dos investidores".
Desta forma, as pequenas vitórias serão sem dúvida
um grande corta-mato na implementação do seu negócio.