Ruben Eiras
Cerca de 80% da força laboral da LG Electronics em Portugal é
recrutada através de trabalho temporário (TT). Quem o revela
é Sofia Delicado, responsável pela gestão de recursos
humanos daquela multinacional.
Segundo aquela responsável, o TT é uma óptima ferramenta
para aumentar a eficácia do processo de recrutamento, dada a possibilidade
de "prolongar" o período experimental do trabalhador.
Confrontada com a questão desta prática laboral implicar
uma exploração do trabalhador, Sofia Delicado assegura que
"logo no início, esclarecemos todo o processo com os candidatos.
Temos uma política muito clara, transparente e focada no desempenho".
O método de recrutamento seguido pela LG consiste em três
fases. Na primeira, os colaboradores são contratados em regime
de trabalho temporário durante três meses, findo o qual são
sujeitos a uma avaliação de desempenho. Se o resultado for
satisfatório, os trabalhadores passam para o regime de contrato
a termo durante seis meses. Consumada esta etapa, se a avaliação
de desempenho for tida com positiva, o colaborador transita para os quadros
da empresa.
Sofia Delicado salienta que esta forma de utilização do
TT é uma óptima via para conciliar os interesses da empresa
e do trabalhador. "Fica a empresa a ganhar porque consegue recrutar
o trabalhador certo e ganha o colaborador, porque ao sentir que a empresa
foi justa e recompensou o seu esforço, trabalha com mais motivação",
explica.
Além de cortar custos no processo de recrutamento e de transformar
custos fixos em variáveis, a directora de recursos humanos da LG
opta pelo trabalho temporário devido à maior facilidade
de triagem dos currículos. "Se colocamos um anúncio
no jornal, surgem-nos 500 currículos que temos de analisar, o que
consome imenso tempo. E muitos dos que são enviados não
correspondem a nada do que pretendemos", observa.
Uma limitação que é eliminada pelos serviços
de "outsourcing" proporcionados pelo TT. "As empresas
enviam-nos um pacote, por exemplo, de cinco currículos escolhidos
de acordo com o que pretendemos e assim podemos focalizarmo-nos no essencial,
que é a análise o mais rigorosa possível das entrevistas
aos candidatos. Na maior parte das vezes, acertamos na escolha, reduzindo
assim os custos de rotatividade no longo prazo", advoga.
Embora a LG utilize os serviços do trabalho temporário para
recrutar funções administrativas e comerciais de nível
operacional, Sofia Delicado avança que já é possível
"caçar" currículos qualificados, de quadros médios
e pontualmente, até de quadros de topo. "Há cinco
anos atrás ninguém com licenciatura entraria no mercado
por via do TT. Mas isso já está a mudar e bastante. É
que sai muito mais barato recrutar um quadro médio neste serviço
do que através do 'executive search'", analisa.
Para a responsável da gestão das pessoas da multinacional
sul-coreana, o mercado de trabalho português já entrou numa
rota de flexibilização sem retorno, dada a mudança
de mentalidade que está a ocorrer na sociedade. "Por isso,
neste campo, o Código do Trabalho não vai alterar tanta
coisa quanto se pensa. O mercado já está a flexibilizar-se
por si mesmo", salienta. "Mas concordo com a ideia de
se premiar as pessoas com mais férias que demonstrem um menor absentismo",
remata.