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A esperança de altos salários

28.11.2003


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Ruben Eiras

Estudo revela que os jovens portugueses são os que esperam obter maiores ganhos salariais com a obtenção de um diploma superior


OS ESTUDANTES universitários portugueses, a par com os alemães, são os que esperam obter maiores ganhos salariais com a educação superior.

Em contraste, os alunos italianos são os mais pessimistas do continente europeu. Estes são alguns dos resultados em destaque de um estudo sobre as expectativas salariais dos estudantes universitários em 10 países europeus.

A investigação foi conduzida por Giorgo Brunello, investigador no Instituto de Estudos do Trabalho (IZA) da Universidade de Bona, e Cláudio Lucifora, da Universidade Católica de Milão. A pesquisa, realizada no ano 2000, cobriu as opiniões de um universo de 5000 estudantes distribuídos por 32 universidades.

A razão apontada no estudo para o nível elevado das expectativas salariais dos estudantes portugueses deve-se ao aumento rápido da produtividade na economia nacional verificado na década de 90. "O aumento da produtividade em países como Portugal tem sido acompanhado por uma acumulação rápida de empregos que exigem qualificação de nível superior. Isto gera perspectivas de salários mais elevados", avança o estudo.

Com efeito, segundo os cálculos do estudo, Portugal é dos países que apresenta uma maior aumento da produtividade no período referido.

Engenharias optimistas no longo prazo

O nível mais elevado de expectativas remuneratórias dos universitários portugueses verifica-se nas áreas de ciências e engenharia.

Todavia, o inquérito constata que, aquando da entrada no mercado de trabalho, os alunos de ciências naturais e engenharias são os mais pessimistas quanto às perspectivas salariais, em contraste com os de economia, gestão e humanidades.

Com efeito, entre o grupo de países estudados, Portugal exibe o maior diferencial entre os valores de regressão obtidos. Por sua vez, na Alemanha, dá-se o inverso: os estudantes de economia, gestão e humanidades são os que esperam salários mais baixos.

Mas quando inquiridos sobre as perspectivas salariais que esperam alcançar 10 anos depois de concluírem a licenciatura, o perfil dos estudantes universitários portugueses sofre uma violenta inversão. Os de economia, gestão e humanidades passam a ser pessimistas e os de ciências naturais e engenharias tornam-se optimistas.

Contudo, o estudo confirma o perpetuar do fosso que separa a universidade do mundo laboral em Portugal. É que o "gap" entre a experiência profissional requisitada no mercado de trabalho e os anos de estudo necessários para concluir a licenciatura é o segundo maior do grupo de países estudado, sendo o "gap" italiano o líder da tabela. Mais um sinal de que o ensino superior português não corresponde às necessidades das empresas.

Fraca aposta na gestão da carreira

A pesquisa também abordou o investimento que os estudantes realizam na gestão da sua carreira e na obtenção de informação sobre o mercado de trabalho.

Neste plano, os alunos portugueses revelam uma má "performance", sendo os que possuem um menor nível de aposta na orientação profissional, na leitura de jornais, de publicações universitárias sobre emprego, na consulta a relatórios especializados sobre o mercado laboral e na utilização de contactos pessoais.

Por outro lado, os universitários portugueses classificam-se em segundo lugar no uso dos serviços de emprego disponibilizados pela universidade e são os que mais trabalham enquanto estudam.

No plano geral, um dos outros resultados do estudo a destacar é que as perspectivas de sucesso profissional são melhores, que os alunos que terminam a licenciatura dentro do número de anos estabelecido para finalizá-la são os que obtêm melhores salários e oportunidades de emprego com melhor qualidade.

Mulheres esperam salários mais baixos


Quanto às diferenças entre sexos, a pesquisa verifica que as mulheres possuem expectativas salariais mais baixas do que os homens.

Quando inquiridos sobre as perspectivas remuneratórias 10 anos mais tarde, o "gap" entre homens e mulheres aumenta, isto porque estas últimas esperam acabar a trabalhar em empregos com um baixo crescimento salarial.

Outra constatação do estudo é que, face aos alunos mais novos, os estudantes mais velhos esperam ganhos remuneratórios menores. Os investigadores explicam este comportamento com base num "efeito de aprendizagem".

Ou seja, ao passo que os estudantes cumprem o currículo do curso, tornam-se mais realistas sobre as perspectivas dos seus futuros rendimentos.

O enquadramento familiar também contribui para o nível das expectativas salariais. Por exemplo, o estudo revela que o facto de a mãe possuir uma formação universitária conduz a um aumento até 4% do salário esperado aquando da entrada no mercado de trabalho.





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