Ruben Eiras
Estudo revela que os jovens portugueses são os que
esperam obter maiores ganhos salariais com a obtenção de
um diploma superior
OS ESTUDANTES universitários portugueses, a par com os alemães,
são os que esperam obter maiores ganhos salariais com a educação
superior.
Em contraste, os alunos italianos são os mais pessimistas do
continente europeu. Estes são alguns dos resultados em destaque
de um estudo sobre as expectativas salariais dos estudantes universitários
em 10 países europeus.
A investigação foi conduzida por Giorgo Brunello, investigador
no Instituto de Estudos do Trabalho (IZA) da Universidade de Bona, e
Cláudio Lucifora, da Universidade Católica de Milão.
A pesquisa, realizada no ano 2000, cobriu as opiniões de um universo
de 5000 estudantes distribuídos por 32 universidades.
A razão apontada no estudo para o nível elevado das expectativas
salariais dos estudantes portugueses deve-se ao aumento rápido
da produtividade na economia nacional verificado na década de
90. "O aumento da produtividade em países como Portugal
tem sido acompanhado por uma acumulação rápida
de empregos que exigem qualificação de nível superior.
Isto gera perspectivas de salários mais elevados", avança
o estudo.
Com efeito, segundo os cálculos do estudo, Portugal é
dos países que apresenta uma maior aumento da produtividade no
período referido.
Engenharias optimistas no longo prazo
O nível mais elevado de expectativas remuneratórias dos
universitários portugueses verifica-se nas áreas de ciências
e engenharia.
Todavia, o inquérito constata que, aquando da entrada no mercado
de trabalho, os alunos de ciências naturais e engenharias são
os mais pessimistas quanto às perspectivas salariais, em contraste
com os de economia, gestão e humanidades.
Com efeito, entre o grupo de países estudados, Portugal exibe
o maior diferencial entre os valores de regressão obtidos. Por
sua vez, na Alemanha, dá-se o inverso: os estudantes de economia,
gestão e humanidades são os que esperam salários
mais baixos.
Mas quando inquiridos sobre as perspectivas salariais que esperam alcançar
10 anos depois de concluírem a licenciatura, o perfil dos estudantes
universitários portugueses sofre uma violenta inversão.
Os de economia, gestão e humanidades passam a ser pessimistas
e os de ciências naturais e engenharias tornam-se optimistas.
Contudo, o estudo confirma o perpetuar do fosso que separa a universidade
do mundo laboral em Portugal. É que o "gap" entre a
experiência profissional requisitada no mercado de trabalho e
os anos de estudo necessários para concluir a licenciatura é
o segundo maior do grupo de países estudado, sendo o "gap"
italiano o líder da tabela. Mais um sinal de que o ensino superior
português não corresponde às necessidades das empresas.
Fraca aposta na gestão da carreira
A pesquisa também abordou o investimento que os estudantes realizam
na gestão da sua carreira e na obtenção de informação
sobre o mercado de trabalho.
Neste plano, os alunos portugueses revelam uma má "performance",
sendo os que possuem um menor nível de aposta na orientação
profissional, na leitura de jornais, de publicações universitárias
sobre emprego, na consulta a relatórios especializados sobre
o mercado laboral e na utilização de contactos pessoais.
Por outro lado, os universitários portugueses classificam-se
em segundo lugar no uso dos serviços de emprego disponibilizados
pela universidade e são os que mais trabalham enquanto estudam.
No plano geral, um dos outros resultados do estudo a destacar é
que as perspectivas de sucesso profissional são melhores, que
os alunos que terminam a licenciatura dentro do número de anos
estabelecido para finalizá-la são os que obtêm melhores
salários e oportunidades de emprego com melhor qualidade.
Mulheres esperam salários mais baixos
Quanto às diferenças entre sexos, a pesquisa verifica
que as mulheres possuem expectativas salariais mais baixas do que os
homens.
Quando inquiridos sobre as perspectivas remuneratórias 10 anos
mais tarde, o "gap" entre homens e mulheres aumenta, isto
porque estas últimas esperam acabar a trabalhar em empregos com
um baixo crescimento salarial.
Outra constatação do estudo é que, face aos alunos
mais novos, os estudantes mais velhos esperam ganhos remuneratórios
menores. Os investigadores explicam este comportamento com base num
"efeito de aprendizagem".
Ou seja, ao passo que os estudantes cumprem o currículo do curso,
tornam-se mais realistas sobre as perspectivas dos seus futuros rendimentos.
O enquadramento familiar também contribui para o nível
das expectativas salariais. Por exemplo, o estudo revela que o facto
de a mãe possuir uma formação universitária
conduz a um aumento até 4% do salário esperado aquando
da entrada no mercado de trabalho.