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70 mil empregos podem surgir nas PME exportadoras

70 mil empregos podem surgir nas PME exportadoras

O número causa espanto num país onde o desemprego não tem dado tréguas a quem procura novas oportunidades para entrar ou regressar ao mercado laboral. Mas segundo um estudo do ISCTE, nas pequenas e médias empresas nacionais com potencial exportador, pode estar o tão aguardado antídoto para o desemprego.
05.07.2012 | Por Cátia Mateus


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Ciquenta a 70 mil novos empregos até 2013, é quanto podem gerar as 14 mil pequenas e médias empresas (PME) nacionais que exportam menos de um milhão de euros. O equivalente a 1% do emprego nacional. A conclusão é do investigador e professor do ISCTE, Eurico Dias, autor do estudo “Internacionalização de PME”.
O investigador analisou uma amostra de de 550 PME e concluiu que o número de trabalhadores pode ser aumentado se a aposta nacional se centrar nestas empresas, que são a base do sector exportador. O estudo concluiu que das 550 empresas analisadas, 196 têm potencial para exportar em média 1,8 milhões de euros (49,14% do seu volume de negócios) e 354 poderiam colocar lá fora 3,8 milhões de euros em vendas (54,09% dos negócios). caso os seus planos de internacionalização sejam cumpridos.

O documento revela que os “novos exportadores” emergem, sobretudo, do sector dos serviços e direcionam a sua mira internacional para mercados de proximidade territorial e linguística. Mas a concretização plena do seu potencial de expansão tem, segundo o estudo, entraves. O financiamento das operações é difícil e em muitos casos até impossível.

Uma questão que António Saraiva, presidente da Confederação Empresarial de Portugal (CIP), reconhece. Mais contido, o líder não avança números para o potencial de criação de emprego das empresas exportadoras, reforça a ideia de que “a escalada do desemprego só pode ser estancada eficazmente pela criação de emprego baseada no desempenho do sector exportador” (ver caiva). A CIP e a McKinsey realizaram recentemente um estudo que identifica os sectores com maior potencial de desenvolvimento nacional, sob o ponto de vista da exportação, e os mercados mais competitivos. António Saraiva cita o relatório “Portugal: o imperativo do crescimento” para definir prioridades.

“Há três tipos de sectores que poderão impulsionar o crescimento externo: os sectores exportadores tradicionais (não esquecendo o sector primário e o turismo), cujas capacidades são um dado adquirido na medida em que existe uma tradição empresarial e um know-how relevante acumulado no país; os sectores de serviços especializados (engenharia, arquitetura, serviços jurídicos, integração de sistemas e outros) que se desenvolveram essencialmente num contexto do mercado interno, mas cujas capacidades podem constituir uma importante plataforma de crescimento externo nas economias em desenvolvimento e, os novos cluster sectoriais, alinhados com as grandes tendências mundiais e alavancados em competências distintivas que o país possui ou pode vir a desenvolver (sector da saúde, educação, tecnologia e outros)”.

O poder dos exportadores tradicionais
António Saraiva reconhece que o potencial de crescimento externo, em termos absolutos, está centrado no caso dos designados sectores exportadores tradicionais, mas reforça que “nenhum sector deverá ser excluído da aposta de crescimento orientada para o exterior. Não faz muito sentido classificar sectores como muito ou pouco competitivos, mas sim as empresas que os integram”.

Em matéria de mercados, há claramente mercados a explorar, aqueles onde Portugal tem uma presença muito inferior aos seus congéneres europeus. São disso exemplo a China, os Estados Unidos, a índia, o Brasil, o México, a Rússia e “numa lógica de plataforma regional, o sudeste asiático, onde se incluem a Indonésia, Singapura, a Malásia e outros”, explica. Alemanha, Reino unido, Itália, França Espanha e Angola, são igualmente destinos a considerar. Para António Saraiva, “apostar nos mercados externos implica, em primeiro lugar, ir à procura desses mesmos mercados, aproveitar as oportunidades que encerram. Este é um esforço que, visivelmente, as empresas estão a fazer, ajudadas em muitos casos pelas associações empresariais” explica adiantando que “o sucesso implica também maior competitividade para o que é relevante, a inovação, e a adequada evolução dos custos aos ganhos de produtividade”.

No curto prazo, a contenção de custos será incontornável e as empresas terão de aumentar a produtividade, o que exige uma forte aposta na afirmação das marcas, no design, na inovação, na organização e na capacidade de gestão. “As empresas terão de conseguir massa crítica e de alargar as suas cadeias de valor e adquirir as competências e conhecimentos necessários para conceberem e adequarem, constantemente, de forma inovadora, produtos desejados e reconhecidos pelos mercados, colocando-os nesses mercados de forma a valorizá-los o mais possível”, enfatiza o líder da CIP.De acordo com a AICEP, as exportações de bens e serviços aumentaram 9,7% de janeiro a abril face a igual período de 2011.

 António Saraiva, presidente da CIP

Sector exportador pode travar desemprego

Quantas empresas em Portugal exportam os seus produtos ou serviços?
Em 2011, num universo de cerca de 350 mil sociedades só pouco mais de 20 mil exportaram. Além disso, continuamos a registar uma excessiva concentração das nossas exportações num número reduzido de empresas: as 100 maiores exportadoras são responsáveis por quase metade do total das nossas exportações.

É possível estimar o potencial de criação de emprego que pode resultar de uma aposta na exportação?
Mais importante que estimá-lo é concretizá-lo, sobretudo quando o mercado doméstico está em retração. O que significa que a escalada do desemprego só poderá ser estancada eficazmente pela criação de emprego baseada no desempenho do sector exportador ou, o que será mais difícil na conjuntura atual, pela atração de investimento estrangeiro.

Em que áreas deve o país investir com o objetivo de exportar?
Para além de um plano de ação concertado para os mercados-chave e de planos de atuação setorial, a estratégia de crescimento externo proposta pelo relatório “Portugal: o imperativo do crescimento” contempla um conjunto de políticas e atuações transversais para o reforço e apoio ao tecido empresarial nacional na captura das oportunidades de crescimento nos mercados externos. Destacaria, neste âmbito, a questão do financiamento, que é a que nos preocupa mais por ser neste momento a principal ameaça e o principal bloqueio ao crescimento. Acrescentaria ainda a importância da atração de investimento estrangeiro suscetível de contribuir para o aumento das exportações.

Por onde passa a inversão da tendência crescente de desemprego nacional?
Passa sobretudo, pelo crescimento dos setores produtores de bens e serviços transacionáveis.



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