Vítor Matos
QUANDO uma recessão económica
se anuncia, as empresas fazem "dieta" para eliminar
"gorduras" nos recursos humanos. É em fases
como a actual que os processos de "downsizing" atiram
até os profissionais mais qualificados para o desemprego.
No entanto, há empresas a dar sinais contraditórios,
despedindo de um lado para contratar do outro.
Procurar trabalho é um emprego
China Gorman, CEO da multinacional de "outplacement"
Lee Hecht Harrison (LHH), esteve em Lisboa a dar pistas para lidar
com este paradoxo: "Em todo o mundo é habitual ver
títulos nos jornais a dizerem que uma empresa vai despedir
mil empregados, quando nas mesmas páginas surgem anúncios
dessa companhia para contratar profissionais", explicou
Gorman numa conversa com o EXPRESSO.
É uma situação contraditória, que a
executiva norte-americana entende poder ser atenuada com programas
de "outplacement" - em que uma empresa especializada,
como a LHH, é contratada para recolocar os colaboradores
dispensados.
Embora seja uma prática mais desenvolvida no mundo anglo-saxónico,
a LHH (que também faz gestão de carreiras, "coaching"
e desenvolvimento de liderança) está presente em Portugal
há pouco mais de um ano, como filial do grupo Addeco.
Segundo China Gorman, a situação de empresas que despedem
pessoas para contratarem outras deve ser encarada como normal. "Acontece
em organizações que precisam de mobilidade. Quando
a tecnologia influencia um processo de fabrico, pode ser necessário
reduzir uma parte da força de trabalho, mas ao mesmo tempo
ser preciso investir noutras áreas de negócios e contratar
pessoas com capacidades mais apropriadas".
Se a situação é difícil para os que
são despedidos, também não é fácil
para os trabalhadores que ficam na empresa e percebem que podem
ir para a rua a qualquer momento. A sensação de instabilidade
e de falta de recompensa pelo esforço pode afectar a motivação,
dedicação e produtividade dos que não são
dispensados.
Assim, além de ajudarem os colaboradores despedidos a regressar
ao activo, China Gorman defende que, contratando serviços
de "outplacement", as empresas dão um sinal positivo
às pessoas que permanecem na organização: "Passam
a saber que se a empresa tiver de tomar uma decisão difícil,
não o fará sem cuidar delas, dando-lhes suporte para
encontrarem uma nova carreira".
As estatísticas de 2002 do Instituto do Emprego e Formação
Profissional mostram que o número de portugueses desempregados
com cargos de direcção aumentou pelo menos 16% durante
o ano. Em Outubro passado havia quase cinco mil antigos directores
inscritos no Fundo de Desemprego (mais 800 do que no ano anterior),
e quase metade estava nessa situação há pelo
menos um ano.
Apesar do quadro ser negro, China Gorman garante que se as empresas
onde trabalhavam estes executivos tivessem negociado um pacote de
"outplacement", eles "voltariam mais depressa
ao trabalho".
Contrariando outras fontes do mercado português que dizem
preparar os profissionais desempregados para passarem seis meses
a um ano em fase de transição, a CEO da LHH fala em
apenas "três a quatro meses". E justifica:
"As nossas estatísticas em todo o mundo mostram que
as pessoas que trabalham connosco voltam ao mercado com maior rapidez.
A maioria não monta negócios próprios, não
volta à escola, nem se reforma antecipadamente: 65% passam
a ganhar mais dinheiro do que no emprego anterior".
Os serviços de "outplacement" são sempre
pagos pela empresa que procede ao despedimento e nunca pelo visado.
No entanto, em Portugal há companhias que descontam o valor
do programa de "outplacement" no total do pacote financeiro
oferecido para o colaborador se ir embora.
Pelo contrário, Yves Turquin, director da LHH em Portugal,
recomenda que o modo mais correcto de proceder não é
esse. As empresas devem, por norma, oferecer o "outplacement"
sem descontar esse valor na indemnização do empregado.
"É uma boa maneira de evitar conflitos laborais e
facilitar as negociações. Não é perder
dinheiro".
China Gorman acrescenta: "O 'outplacement' também
melhora a imagem das empresas na comunidade, porque ficam conhecidas
por terem boas práticas éticas e isso afecta positivamente
a marca", conclui.
Procurar trabalho é um emprego
O DESPEDIMENTO e o desemprego podem desencadear
uma das piores fases por que alguém passa na vida. A maioria
dos visados, sejam operários ou executivos de topo, ficam
muitas vezes desorientados sobre o que fazer.
Receiam o futuro: se um operário tem nas baixas qualificações
o seu maior problema, um gestor teme, acima de tudo, que o estigma
do desemprego afecte a sua imagem. Para quem tenha uma elevada auto-estima,
é um momento onde pode começar a desenhar-se uma depressão...
"Acontecem duas coisas em simultâneo", diz
China Gorman. "Primeiro, essas pessoas devem prestar atenção
ao lado emocional de serem rejeitados. Ninguém gosta de o
ser, seja qual for o nível que ocupe na empresa. Isso magoa.
Em segundo lugar", acrescenta, através do "outplacement",
procura-se levar essas pessoas a perceberem que "procurar
trabalho é um trabalho". Ou seja, os profissionais
devem encarar a fase transição como se estivessem
numa empresa, mas desta vez a marca que vendem é o seu próprio
nome. "Não é, na essência, um problema
psicológico ou emocional", sustenta China Gorman.
"A nossa metodologia passa por criar um processo de negócio
com modelos e objectivos a alcançar. Há treino envolvido,
consultoria de peritos, e ferramentas tecnológicas para reunir
informação e disseminá-la. Temos uma estrutura
forte para substituir a que eles perderam no seu trabalho",
explica.