Maribela Freitas
FOI em plena lua-de-mel na Tailândia que João
e Delfina Viegas decidiram criar uma empresa que se dedicasse a importar
artigos exóticos, nomeadamente artesanato. Voltaram para Portugal,
meteram "mãos à obra" e deixaram os empregos estáveis
que tinham, para se dedicarem a tempo inteiro ao desejo de ter um projecto
seu.
Conselhos práticos para o 'franchising'
Tudo isto aconteceu há dez anos, altura em que
deram início à empresa Mercado dos Sonhos, sedeada no Feijó.
A empresa cresceu, extravasou a importação e hoje dedica-se
à criação, desenvolvimento e gestão de redes
de "franchising", em áreas como o mobiliário,
decoração e acessórios. O que vem provar que é
possível realizar os sonhos e que, por vezes, tomam proporções
que à partida seria difícil idealizar.
"A mercado dos sonhos começou como uma empresa de importação.
Na altura em que estávamos à procura de um espaço
para localizar o escritório e armazém, encontrámos
um local onde, além dessas valências, poderíamos juntar
uma loja. Foi aí que abrimos a Loja das Viagens, que vendia artesanato,
acessórios de decoração e mobiliário rústico",
explica João Viegas.
O conceito subjacente a esta loja foi um sucesso e constituiu a primeira
marca criada por estes empreendedores. "A Loja das Viagens tinha
todas as condições para ser franchisada, pois tinha um conceito,
embalagem e 'design' próprios, bem como toda uma filosofia empresarial
por trás. Muito rapidamente acabámos por criar uma cadeia
destas lojas", recorda o empresário.
Mas, com todas as lojas que abriram posteriormente no país com
conceitos muito semelhantes ao desenvolvido na Loja das Viagens, "o
conceito gastou-se", explicam estes empreendedores. "Estamos
agora numa fase de remodelação das lojas e de busca de novos
mercados".
Há cerca de três anos, João e Delfina Viegas criaram
uma nova marca, a Lune Bleu, dedicada ao ramo dos acessórios de
moda. Analisaram o mercado, verificaram o que já existia neste
sector e desenvolveram o seu próprio conceito.
"As lojas da Lune Bleu foram desenvolvidas com uma imagem de decoração
gráfica, embalagens próprias, etc., de forma a não
permitir confusões entre o nosso espaço e o de outras redes
a actuar no mercado", salienta João Viegas. Mais uma vez
esta marca foi um sucesso - neste momento contam já com cerca de
40 franchisados.
Quando decidiram criar um negócio próprio, João e
Delfina Viegas optaram por se entregar de corpo e alma ao projecto. Deixaram
os empregos, de director criativo e "account", respectivamente,
na área da publicidade, e embarcaram na aventura de criar uma empresa.
"Tínhamos um grande desejo de mudar de vida",
explicam, e foi o que fizeram.
Para avançarem com o projecto empresarial recorreram a capitais
próprios. Actualmente possuem sete lojas suas e dão emprego
a 40 pessoas. E mantêm o entusiasmo inicial, confessando que a actividade
profissional que abraçaram "é muito gratificante".
Além das lojas já desenvolvidas em Portugal, a Mercado dos
Sonhos está a passar por uma fase de internacionalização
dos seus "franchisings". "Muitas vezes as oportunidades
surgem por acaso. Há que ter rapidez em analisá-las, para
ver se são ou não interessantes, e só depois avançar",
salienta João Viegas.
Neste momento, a Mercado dos Sonhos abriu duas lojas da Lune Bleu em Angola,
uma outra em Ayamonte, e prepara-se para continuar a investir em Espanha.
Em breve abrirá novos espaços na Suécia e na Dinamarca.
O segredo está "na adaptação aos mercados
onde se implanta os espaços comerciais", comenta o empreendedor.
No futuro, João e Delfina Viegas, com 57 e 39 anos, respectivamente,
querem ainda desenvolver mais uma marca, numa área diferente. Abriram
já uma loja-piloto - Mente sã, aromas e bem-estar - na área
da aromoterapia, que estão neste momento a testar para avaliar
a viabilidade.
Quanto à Lune Bleu, querem aumentar a implantação
em Portugal, apostar noutras localizações e "continuar
a desenvolver produtos próprios e diferenciados", salienta
João Viegas.
Conselhos práticos para o 'franchising'
CRIAR um negócio na área da decoração
e dos acessórios de moda, seja como franchisador ou franchisado,
não é tão fácil como pode parecer à
primeira vista.
É por isso que João Viegas deixa alguns concelhos a quem
quer investir nesta área. "O empresário que queira
criar um 'franchising', tem primeiro de verificar se o seu negócio
tem características ímpares e diferenciadoras",
explica.
Na prática, há que criar algo que diferencie esse negócio
e que seja de fácil memorização para o público,
por isso este empreendedor considera que "o nome e a marca, são
muito importantes". De seguida e depois destes primeiros passos,
João Viegas aconselha a que a imagem do "franchising"
que se está a criar, desde a embalagem até à marca,
seja entregue a profissionais, pois todos os pormenores são importantes,
na medida em que muitas vezes são eles que fazem a diferença
num negócio.
Acrescenta ainda que "o empresário tem também de
perceber se o negócio funciona, se depois de franchisado se consegue
manter a mesma qualidade e características do produto e se o conceito
pode ser implantado em qualquer zona do país".
Para os futuros franchisados, João Viegas deixa também alguns
conselhos.
"Antes de apostar num negócio destes o investidor tem de
perceber que ganha por pertencer a uma rede mas também perde. Por
isso, é necessário que o futuro empreendedor analise o seu
temperamento, para saber se se adapta a esta situação. Como
mais-valias de apostar num 'franchising', o empresário ganha um
bom conhecimento do mercado, uma mais fácil implantação,
mas perde a sua liberdade. Há que analisar bem a situação
antes de se avançar para ela", finaliza João Viegas.