Ruben Eiras
A ESCOLA perdeu o valor educativo do trabalho segundo Luís
Bento, presidente da Federação Internacional das Organizações
de Desenvolvimento e Formação
"O nosso sistema educativo não enfatiza a construção
da riqueza e de desenvolvimento do indivíduo através da
actividade produtiva", afirma Luís Bento, presidente da
Federação Internacional de Organizações para
a Formação e Desenvolvimento (IFTDO), uma entidade que agrega
associações de RH dos quatro cantos do mundo e cujo congresso
anual se realizou nesta semana em Lisboa.
De acordo com aquele responsável, o nosso sistema
educativo não está centrado em valores, mas sim em temáticas,
"muito dispersas e fragmentadas".
Luís Bento advoga que a escola deve transmitir os valores que a
família já não tem tempo para transmitir - como o
trabalho, por exemplo -, para que esta se focalize no desenvolvimento
dos afectos e da emoções.
Como exemplo a seguir neste plano, o presidente da IFTDO sugere que Portugal
analise com atenção o sistema de orientação
vocacional da África do Sul. Foi criado em conjunto com a Organização
Internacional do Trabalho há duas décadas e funciona como
um interface entre a escola e a empresa.
Os alunos, durante a formação escolar, frequentam "simuladores"
laborais, nos quais se replicam situações do mundo do trabalho
em vários sectores. "Isto é que é educar
para a vida e para o trabalho", reitera.
Outra nação que, segundo Luís Bento, Portugal deveria
tomar como exemplo no campo do investimento no capital humano é
Singapura, devido ao seu modelo de gestão RH e formação
muito assente nas tecnologias de informação (TI).
"Há 20 anos que Singapura começou a investir maciçamente
nas TI e agora possuem a rede de dados com mais alto débito do
mundo. O 'e-learning' e a videoconferência já são
ferramentas de formação 'corriqueiras'. Por isso conseguiram
um desenvolvimento económico com produtos de alto valor acrescentado",
explica.
Trabalho feliz
Mas para que o país consiga mudar a sua atitude face ao valor do
capital humano, o presidente da IFTDO salienta que os gestores de recursos
humanos têm que se esforçar para assumirem e se adaptarem
às exigência do seu novo papel nas organizações.
É que a era do director de RH que só tratava das questões
administrativas e legais do pessoal "acabou".
O perfil do novo gestor RH tem que perceber a dinâmica do negócio
e desenhar políticas de trabalho e formação que a
suportem. "E fazer com que as pessoas sejam felizes a trabalhar
na empresa. Isto pode parecer pateta ou estúpido, mas a realidade
empírica mostra que trabalhadores mais felizes são mais
produtivos", reitera Luís Bento.
A razão prende-se com o facto das pessoas trabalharem "com
prazer e gosto" e não se "violentarem a si próprias"
durante o processo produtivo. "Há que criar contextos que
facilitem a criação de espaços individuais dentro
da organização", frisa.
Para tal, o ambiente relacional na organização não
deve depender da cadeia hierárquica, mas sim da ligação
emocional entre as pessoas. Além disso, as tecnologias têm
que ser utilizadas de forma "a que se adaptem às pessoas
e não o contrário".
Sobre a sua presidência da IFTDO nestes últimos três
anos, Luís Bento reconhece que embora tenha sido pautada pela discrição,
foram conseguidas vitórias importantes no reforço da sua
representação em organismos internacionais e na aproximação
ao continente europeu.
Segundo o dirigente, a IFTDO conta a partir de agora, pela primeira vez,
com um representante permanente no ECOSOC, o conselho económico-social
da ONU e outro nas Bretton Wodd Organizations, um agrupamento de entidades
do mundo financeiro.
"É o representante da gestão das pessoas para equilibrar
a visão financeira do planeta que prevalece nestas organizações",
observa. A aproximação à Europa consumou-se com
a mudança da sede da IFTDO fodos EUA para os escritórios
da OIT em Genebra.