João Barreiros
A COVILHÃ está empenhada em tornar-se um
pólo de atracção de investimentos na área
do cinema, procurando contrariar a tendência de os produtores se
concentrarem nas grandes cidades do litoral, nomeadamente em Lisboa e
no Porto.
Um dos instrumentos que serão utilizados para concretizar esta
estratégia é a licenciatura em cinema, que arranca no próximo
ano lectivo, na Universidade da Beira Interior (UBI).
Trata-se de uma aposta da Faculdade de Artes e Letras, aproveitando as
suas capacidades instaladas no tratamento do audiovisual e os conhecimentos
teóricos de alguns dos seus docentes.
Com esta iniciativa, a UBI torna-se a primeira escola pública portuguesa
a possuir uma licenciatura deste tipo, apesar do interesse que outras
instituições têm demonstrado pelos estudos nesta área.
O curso tem cadeiras comuns a outras licenciaturas, dividindo-se posteriormente
em três grandes áreas: realização, guionismo,
edição e sonoplastia, que corresponderão, de alguma
forma, aos principais interesses do mercado, facilitando a colocação
dos alunos em postos de trabalho deste sector.
São vários os objectivos do curso, desde logo formar profissionais
com competências teóricas e técnicas nesta área,
"contribuir para o desenvolvimento do cinema português e consequente
afirmação da identidade nacional" e "formar
investigadores e críticos cinematográficos capazes de pensar
o cinema na sua autonomia e respectivas intervenções no
espaço cultural".
As saídas profissionais incluem, além das empresas do audiovisual,
o ensino, a investigação e a consultadoria nesta área,
estando os alunos particularmente habilitados para exercer funções
de análise e de crítica cinematográfica, pelos conhecimentos
técnicos e teóricos disponibilizados pelo curso.
Nesta altura ainda não é conhecido o número de vagas
para o primeiro ano, uma vez que o Governo solicitou às universidades
que reduzissem globalmente a sua oferta em cerca de dez por cento, como
forma de equilibrar as contas e de diminuir os cursos com poucos alunos.
Por essa razão a Universidade da Beira Interior está ainda
a tentar estabelecer com o Ministério da Ciência e do Ensino
Superior um número razoável de vagas para esta licenciatura.
Recorde-se que a Covilhã tem uma afinidade bastante grande com
o cinema, ali existindo uma das mais conhecidas associações
cinematográficas do país, o Cine Clube da Beira Interior.
Qualificar o ensino
Para o presidente desta instituição, "nunca foi
prestada a devida atenção ao ensino do cinema em Portugal,
ao contrário do que acontece em Espanha, onde há grande
dinamismo em torno dos cursos superiores de cinema, com resultados visíveis".
Frederico Lopes, que é também docente da UBI e um dos entusiastas
desta iniciativa da universidade, sustenta que a reflexão e a crítica
sobre o cinema são essenciais para o desenvolvimento das competências
de quem trabalha no sector, "apesar de os bons realizadores se
poderem formar vendo filmes e lendo sobre as questões do cinema".
O presidente do Cine Clube da Beira Interior espera que a licenciatura
em cinema possa captar investimentos, não apenas de Portugal mas
também do estrangeiro, e admite que, no médio prazo, "possam
partir da Covilhã técnicos especializados para outros mercados".
Essencial, na opinião de Frederico Lopes, é garantir que
os alunos tenham as condições de trabalho mínimas
à realização deste curso, sabendo-se que, em termos
financeiros, a criação de uma licenciatura em cinema é
relativamente exigente.