Notícias

«Escola perdeu valor educativo do trabalho»

30.05.2003


  PARTILHAR






Ruben Eiras

A ESCOLA perdeu o valor educativo do trabalho segundo Luís Bento, presidente da Federação Internacional das Organizações de Desenvolvimento e Formação


"O nosso sistema educativo não enfatiza a construção da riqueza e de desenvolvimento do indivíduo através da actividade produtiva", afirma Luís Bento, presidente da Federação Internacional de Organizações para a Formação e Desenvolvimento (IFTDO), uma entidade que agrega associações de RH dos quatro cantos do mundo e cujo congresso anual se realizou nesta semana em Lisboa.

De acordo com aquele responsável, o nosso sistema educativo não está centrado em valores, mas sim em temáticas, "muito dispersas e fragmentadas".

Luís Bento advoga que a escola deve transmitir os valores que a família já não tem tempo para transmitir - como o trabalho, por exemplo -, para que esta se focalize no desenvolvimento dos afectos e da emoções.

Como exemplo a seguir neste plano, o presidente da IFTDO sugere que Portugal analise com atenção o sistema de orientação vocacional da África do Sul. Foi criado em conjunto com a Organização Internacional do Trabalho há duas décadas e funciona como um interface entre a escola e a empresa.

Os alunos, durante a formação escolar, frequentam "simuladores" laborais, nos quais se replicam situações do mundo do trabalho em vários sectores. "Isto é que é educar para a vida e para o trabalho", reitera.

Outra nação que, segundo Luís Bento, Portugal deveria tomar como exemplo no campo do investimento no capital humano é Singapura, devido ao seu modelo de gestão RH e formação muito assente nas tecnologias de informação (TI).

"Há 20 anos que Singapura começou a investir maciçamente nas TI e agora possuem a rede de dados com mais alto débito do mundo. O 'e-learning' e a videoconferência já são ferramentas de formação 'corriqueiras'. Por isso conseguiram um desenvolvimento económico com produtos de alto valor acrescentado"
, explica.

Trabalho feliz

Mas para que o país consiga mudar a sua atitude face ao valor do capital humano, o presidente da IFTDO salienta que os gestores de recursos humanos têm que se esforçar para assumirem e se adaptarem às exigência do seu novo papel nas organizações. É que a era do director de RH que só tratava das questões administrativas e legais do pessoal "acabou".

O perfil do novo gestor RH tem que perceber a dinâmica do negócio e desenhar políticas de trabalho e formação que a suportem. "E fazer com que as pessoas sejam felizes a trabalhar na empresa. Isto pode parecer pateta ou estúpido, mas a realidade empírica mostra que trabalhadores mais felizes são mais produtivos", reitera Luís Bento.

A razão prende-se com o facto das pessoas trabalharem "com prazer e gosto" e não se "violentarem a si próprias" durante o processo produtivo. "Há que criar contextos que facilitem a criação de espaços individuais dentro da organização", frisa.

Para tal, o ambiente relacional na organização não deve depender da cadeia hierárquica, mas sim da ligação emocional entre as pessoas. Além disso, as tecnologias têm que ser utilizadas de forma "a que se adaptem às pessoas e não o contrário".

Sobre a sua presidência da IFTDO nestes últimos três anos, Luís Bento reconhece que embora tenha sido pautada pela discrição, foram conseguidas vitórias importantes no reforço da sua representação em organismos internacionais e na aproximação ao continente europeu.

Segundo o dirigente, a IFTDO conta a partir de agora, pela primeira vez, com um representante permanente no ECOSOC, o conselho económico-social da ONU e outro nas Bretton Wodd Organizations, um agrupamento de entidades do mundo financeiro.

"É o representante da gestão das pessoas para equilibrar a visão financeira do planeta que prevalece nestas organizações",
observa. A aproximação à Europa consumou-se com a mudança da sede da IFTDO fodos EUA para os escritórios da OIT em Genebra.





DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS