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Ser franchisado - Uma opção de vida?
O Boletim Económico de Julho do Banco de Portugal prevê
um crescimento do PIB para 2002 de cerca de 0,5% e um aumento
da taxa de desemprego para 5%.
Tal vem confirmar aquilo que é a percepção
da maioria dos portugueses: "a crise veio para ficar!",
utilizando um velho slôgane de uma marca de automóveis
japonesa.
Isso significa que estamos em época de reduzir o endividamento,
dos particulares e das empresas, o que implica necessariamente
uma redução dos custos mensais. Mas nem sempre
esta política é suficiente, principalmente para
as empresas.
Com efeito, esta crise tem levado a que, mormente na indústria
tradicional, muitas empresas pouco competitivas, que durante
muito tempo sobreviveram apenas graças ao reduzido
custo do factor de produção "mão-de-obra",
sejam obrigadas a encerrar.
Esse fenómeno vai libertar para o mercado de trabalho
muitas pessoas válidas que irão ter de encontrar
um novo rumo para as suas vidas.
De acordo com a nossa experiência recente, não
é invulgar essas pessoas efectuarem uma reflexão,
muitas vezes em família, no sentido de definirem o
seu projecto de vida.
Dada a tradicional falta de mobilidade geográfica
dos portugueses (noutros tempos, a mobilidade era radical,
gerando fortes movimentos emigratórios, que hoje permitem
ajudar a equilibrar a nossa balança de pagamentos),
existe uma forte tendência para procurar soluções
próximas do local da habitação. Essa
tendência está fundamentada no facto de o agregado
familiar possuir, em geral, dois elementos activos profissionalmente
e filhos em idade escolar. Deste modo, quando um dos elementos
tem a percepção de que a empresa onde trabalha
está em dificuldades, inicia o processo de pesquisa.
Ora, dado que todas as cidades possuem, de uma forma mais
ou menos vincada, uma ou mais zonas com vocação
comercial, em muitos casos, a pesquisa passa pela procura
de conceitos de negócio que possam vir a ser competitivos
na zona predefinida. E, regra geral, esses conceitos ou são
criados de raiz ou apenas estão disponíveis
em regime de franchising.
Valerá porventura a pena relembrar um pouco este conceito.
O franchising é uma relação baseada na
confiança mútua: por um lado, o franchisador
tem a capacidade de criar e impor um plano completo de acção
do negócio, estrutura, disciplina, um conjunto de regras
de operação e técnicas de controlo sofisticadas
e uma cobertura e apoios comerciais vastos, que, normalmente,
não estariam ao alcance do dono de uma unidade isolada;
por outro lado, o franchisado é capaz de trazer o espírito
empreendedor, que é o motor do mundo dos negócios,
através da dedicação e da devoção
de longas horas de trabalho à empresa, que dificilmente
o franchisador encontraria nos seus próprios assalariados.
Trata-se também de uma relação simbiótica
entre a companhia mãe e os franchisados, pois o sucesso
destes está intimamente relacionado com o sucesso da
primeira, tendo ambos interesse em aumentar as vendas ao máximo.
Como o franchisado tem de investir os seus próprios
recursos no franchising, fica financeiramente comprometido
com o seu destino. No entanto, o franchising constitui um
óptimo compromisso entre ser dono de uma firma e trabalhar
para uma companhia, uma vez que o apoio fornecido pela firma
mãe lhe permite encarar com relativa tranquilidade
o futuro e o liberta de certas preocupações
quer na fase de montagem do negócio quer na da gestão
quotidiana das operações. Como dizia um consultor
desta área, "o franchising é o american
dream com uma rede de segurança", ou, por outras
palavras, é a venda de um negócio já
testado.
A firma mãe tem como principal vantagem conseguir
um elevado grau de controlo e coordenação dos
canais do distribuição e de gerar elevadas sinergias
publicitárias. Como os recursos próprios investidos
são diminutos, pode conseguir uma expansão muito
rápida e responder com maior celeridade às mudanças
nos mercados.
No entanto, também tem os seus problemas: o controlo
pode tornar-se difícil, especialmente se o número
de franchisados aumentar muito, ou se alguns deles crescerem
muito.
Principais fontes de conflito gerado pelos
franchisadores, de acordo com a percepção
dos franchisados
Principais fontes de conflito gerado pelos
franchisados, de acordo com a percepção
dos franchisadores
· Criação de lojas
próprias.· Redireccionamento/encerramento.
· Compra obrigatória de produtos ao franchisador
mais caros que no mercado.· Uso questionável
das receitas destinadas a publicidade.· Assimetria
do "contrato de adesão".
· Transmissão a terceiros
de informação interna.· Não-pagamento
de royalties, ou falsificação da base de
incidência.· Recusa na adesão prática
às condições contratuais (o que impede
a padronização e afecta a credibilidade
de todo o sistema).
Paulo Lopes Porto
Mestre em Gestão de Empresas (UCP), docente do ensino
superior no IPAM e director-geral da Barbadillo & Asociados
(Portugal).
Fonte: texto adaptado da revista Negocios
& Franchising do IIF-Instituto de Informação
em Franchising.