A Maternidade do problema da Educação
(25-05-2006)
Maria Márcia Trigo
Directora da «Business School» da UAL
O Ciclo Virtuoso « Prática, Teoria e Prática »
A minha abordagem, enquanto cientista, professora e gestora, em simultaneidade, reconduz-me diariamente à convicção e à acção de saber, de «ciência feita», que o trilho mais fecundo a privilegiar, em toda a Educação, é partir da prática para a teorização e de novo para a prática, numa espiral de criação e recriação do conhecimento e da aprendizagem.
Este é o caminho e o «aproach» metodológico da criação da ciência que produzimos, conhecemos e ensinamos, sem esquecer que a produção científica, uma vez publicada. se transforma apenas em informação, um bem transacionável, como qualquer outro. E que, como qualquer outro bem ou serviço, tem um ciclo de vida cada vez mais curto, face precisamente à rapidez da criação de nova ciência, isto é, novas leituras e interpretações da realidade, em contínua mudança.
A expressão de que os académicos tanto gostam - não há melhor prática do que uma boa teoria - enraíza, como sabemos, precisamente na ideia original e real de que o conhecimento é construído, a partir da análise da realidade, utilizando as metodologias científicas apropriadas.
Mas de tal forma o ensino – que devia ser sobretudo aprendizagem e investigação de novo conhecimento, com base no já existente e disponível – se transformou em «recitação», pelo professor e alunos, das teorias ou conhecimento já produzido por outrém, que muitos nos esquecemos que a realidade é a mãe de todas as coisas (e também da ciência), acabando por criar um fosso entre o que se faz e aprende na escola e o que a sociedade – empresarial, social ou outra – precisa e espera dessa mesma escola.
Daí o grito de todos: a escola está doente, distanciada da vida e tem de voltar aos seus princípios fundadores que encontram as suas mais legítimas raízes precisamente no «método experimental». As evidências são muitas, sendo uma das mais preocupantes o facto da maioria dos jovens se sentirem rejeitados ou incompreendidos pelo sistema educativo e incapazes de afrontar - técnica e relacionalmente – o mundo do trabalho para o qual é suposto a escola preparar.
São as NEET (Not in Education, Employment or Trayning) que, de uma maneira geral, atacam todos os sistemas de educação e formação, mas em especial os mais teóricos, mais centrados na aprendizagem de volume de informação não relevante, por oposição ao que defendem as novas teorias da aprendizagem que, analisando « como o cérebro aprende », concluem que o ensino não pode ser um processo de transmissão, mas antes um processo de construção , isto é , experimentação própria, pesquisa de informação própria e correspondente transformação em novo conhecimento.
E os professores?
Também eles, na sua maioria, estão em dissonância com a sociedade e por vezes até com a comunidade que a escola serve e mesmo com a própria escola.
Que fazer? Reconversão tecnológica e metodológica é a única solução, em formações que não reproduzam o velho sistema do «aprender ensinado», mas antes aprendam a pensar e a transformar as velhas aulas em experiências de aprendizagem, sem esquecer que, estamos num mundo digital e que, como as neuro-ciências e a neuro-biologia demonstram e evidenciam, o cérebro não para de se reorganizar em resposta aos permanentes estímulos do meio ambiente, uma função designada por neuro-plasticidade que não para de alterar as características físico-químicas dos cérebros que são filhos da era digital, com óbvias consequências nos processos cognitivos e portanto na forma de aprender, comunicar, conviver e trabalhar.
A economia do conhecimento impõe-nos assim um novo paradigma com novas práticas e uma nova leitura da geografia do conhecimento, que deixa definitivamente de estar aprisionado no interior das escolas e universidades para banhar o território todo, transformado numa marca nacional, bandeira da diferença num mundo global.