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01.01.2000



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O "número um na área biofarmacêutica"

Número 1 e único porque não há mais ninguém a fazer o que a Biotecnol faz. Pedro de Noronha Pissarra tem 34 anos e um currículo invejável. Pode ser um terror dentro de um laboratório, mas é óptimo a elaborar e a realizar projectos. Agora, aplica a sua experiência numa verdadeira batalha pelo reconhecimento da biotecnologia em Portugal.
Fundou, em finais de 1996, a Biotecnol e acredita que reconhecendo a biotecnologia como indústria, com investimento e inovação, esta área tem potencial para se desenvolver.

Desde quando é que surgiu o interesse pela biotecnologia?
Desde que eu me lembro, sempre quis ser bioquímico e nem sabia, mais ou menos, o que isso era. Lembro-me que me deram, uma vez, um "kit" de química pelo Natal. Eu tinha um fascínio por aquilo; gostava de misturar e de fazer saturações na água.
A minha maior frustração foi querer fazer um tira-nódoas para a minha mãe e não saber o trabalho científico - fiquei irritadíssimo por não perceber o que é que estava no tira-nódoas. Então misturava sabão e outras coisas lá dentro...
Sempre tive esta vertente por querer descobrir coisas. Mas o que me fascina nisto e o interesse que eu tive nesta carreira foi, essencialmente, em produzir qualquer coisa; ter uma actividade integrada - pôr produtos no mercado.
Hoje em dia, eles nem me deixam chegar dentro dos laboratórios porque eu não tenho jeito nenhum. A minha carreira científica foi sempre baseada em bioquímica teórica. Tudo dentro de uma vertente computacional e teórica, o que não requer trabalho de laboratório. O meu interesse, desde início, foi que queria fazer qualquer coisa. Não sabia o quê, mas tinha de ter uma capacidade produtiva.

Direccionava-se mais para o desenvolvimento de projectos?
Exactamente. Mesmo na universidade, as minhas melhores notas eram nas cadeiras de projectos. Tudo o que fosse mais aplicado era onde eu me safava pior.

Acha que teve sorte na sua carreira ou fez por apostar nela?
Tive imensa sorte em ter a oportunidade em ir para o Kings College. Se considerarmos sorte como o aparecimento das oportunidades ou como a criação das nossas oportunidades, execução e aproveitamento delas, acho que tive um bocadinho de ambas.
Acho que tive a sorte de ter uns pais que acreditaram em mim e patrocinaram os meus estudos, o que não foi barato. E eu tirei o meu melhor disso. Depois, foram aparecendo, ao longo da minha vida uma série de oportunidades que aproveitei.

Estudou em Londres. Fez investigação como cientista convidado na área da Engenharia Metabólica no MIT - Massachusetts Institute of Tecnology - (EUA) e na Universidade Técnica da Dinamarca. Decidiu voltar a Portugal, porquê?
Estava farto de estar lá fora. Estava lá há dez anos.

Mas sentiu que aqui as oportunidades na sua área eram muito escassas...
Totalmente. Quando eu cheguei a Portugal, a nível da biotecnologia, não havia nada, zero. E ainda hoje, é um assunto muito polémico.
Eu acho que a biotecnologia não é uma ciência, é uma indústria. Existe boa ciência em Portugal e bons recursos humanos. Agora, a integração de tudo isso é péssima. Nessa altura, nem sequer havia, nem se falava no assunto. A biotecnologia estava conotada como investigação nas universidades.
Eu vim para Portugal de férias, no fim do meu doutoramento. Quando cheguei cá, houve um senhor de uma empresa farmacêutica que me telefonou e me disse se eu gostava de lhes dar consultoria para um projecto. Eu aceitei e, por assim dizer, comecei a criar a Biotecnol. Depois, apareceu-me uma oportunidade no Instituto Superior Técnico e eu aceitei.
Portanto, eu vim para Portugal porque estava farto de estar lá fora, mas estava iludido que, cá, a indústria teria as mesmas saídas que encontrei lá fora.

O que é que se pode fazer para modificar esse cenário?
Tem de se fazer muita coisa. Ter criado a Biotecnol, para mim, foi uma experiência fantástica e eu fico contente por saber que nós somos um caso de referência para as pessoas que saem da universidade. As pessoas olham para nós e identificam na Biotecnol uma oportunidade de trabalho.
Agora, pode-se começar por estabelecer um bocadinho melhor as prioridades de desenvolvimento desta área em Portugal. Se é uma área que interessa a Portugal, então eu acho que o próprio Estado tem que apostar nela e tem que formar pessoas que sejam capazes de avaliar esta área como sendo uma área de reconhecimento.
Se é uma área que é reconhecida com elevado potencial para criar empregos altamente qualificados, então, há disponibilização de verbas (públicas ou privadas).
Portanto, primeiro tem que se apostar em pessoas que tenham capacidade de interpretar esta área. Por exemplo, nós estamos constantemente em Tribunal Europeu porque o nosso cenário legislativo em Portugal não está implementado porque não há pessoas que consigam transpor as directivas dentro de um contexto industrial em Portugal.
Se se acredita que a biotecnologia tem um futuro em Portugal, tem de se investir em inovação, e em empresas como a nossa, e não em modelos de negócio completamente ultrapassados. É necessário dinamizar a esfera de investimento para criar condições para as empresas crescerem.

Os atentados terroristas ocorridos a 11 de Setembro fizeram com que se apostasse mais nas empresas de biotecnologia.
Sim, isso é verdade. O armamento e a farmacêutica são das áreas que, no caso de existir uma guerra, têm sempre sucesso. O índex das biotecnologias, depois dos atentados, tem vindo sempre a subir e isso tem como origem o desenvolvimento do sector.

Projectos futuros? Continuar na Biotecnol?
A Biotecnol é a minha vida, para já.


TP




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