Carreiras

Júlia Costa



01.01.2000



  PARTILHAR




Júlia Costa
Uma vida de microscópios e tubos de ensaio

Júlia Costa é uma cientista portuguesa que, aos 30 anos, viu o seu projecto aprovado e começou a dirigir o laboratório de Glicobiologia, no Instituto de Tecnologia de Química e Biologia (ITQB). Enquanto fala, torna-se visível a importância da ciência na sua vida a par de um outro sonho que vai alimentando: ser escritora.

O que há de fascinante em trabalhar num laboratório?
É poder descobrir coisas. É poder fazer um trabalho que não é monótono porque, à medida que o trabalho vai evoluindo, vão-se fazendo coisas diferentes, não só a nível técnico, mas também a nível de ideias que vão sendo exploradas.
É poder construir histórias, tentando explicar coisas que se passam e para as quais ainda não há explicação.

Como foi o seu percurso profissional?
Fiz a licenciatura em Bioquímica, na Faculdade de Ciências de Lisboa. Depois fiz o doutoramento no ITQB, durante o qual tive deslocações à Universidade de Oxford. Foi nessa altura que comecei a dedicar-me a aspectos relacionados com a glicobiologia que não estavam explorados cá, em Portugal.
Mais tarde, fiz o pós-doutoramento, continuando ligada ao ITQB, mas tendo sempre deslocações para o estrangeiro. Quando voltei definitivamente, fiquei responsável pelo laboratório de Glicobiologia no ITQB.

Há muitas pessoas a fazerem o doutoramento lá fora...
Sim. Eu tive um percurso sempre de colaboração, mantendo uma ligação ao instituto e saindo apenas temporariamente. Foi, de facto, uma opção que fiz.
Se o nosso país está atrasado, em termos de investigação, precisamos de aprender lá fora para depois ajudar a evoluir aqui. Neste sentido é importante que as pessoas voltem para o nosso país e estabeleçam aqui competências.

O que acha da investigação em Portugal?
A tradição da investigação em Portugal é muito recente. Só a partir de 89 ou 90, quando comecei o doutoramento, é que surgiram os programas de ciências e um apoio à investigação promovendo a formação para as pessoas.
Mas existe o problema, até a nível europeu, de a maior parte das pessoas seguirem a via de ensino. Assim, os investigadores e os técnicos são poucos.
Além disso, o que acontece em Portugal é que as pessoas vão para o estrangeiro aperfeiçoar os conhecimentos e acabam por desenvolver técnicas excelentes que são uma mais valia. Depois, não há é possibilidade de manter essa pessoa connosco se não lhe podemos oferecer as condições de trabalho.

Como é que se pode incentivar os jovens cientistas?
Aqui no Instituto, os licenciados que chegam têm um projecto para desenvolver. Há um acompanhamento, mas o trabalho e os resultados são deles. É, no fundo, um projecto pessoal que a pessoa tem de desenvolver, por um lado. Por outro, é importante uma pessoa estar integrado numa coisa que tem um interesse e objectivo definido. É também fundamental perceber os interesses de cada um para saber onde melhor podem ser aproveitados.

E a nível de formação, é necessário existir?
Há várias coisas que eu acho fundamental, como a formação. Por exemplo, é essencial as pessoas irem a cursos ou congressos, pelo menos, uma vez por ano. É importante estar em contacto e discutir com outras pessoas.
Também é importantíssimo estadas temporárias em laboratórios estrangeiros. Isso tem de acontecer.

Quais são os próximos passos?
Continuar a dirigir o laboratório e ter projectos cada vez mais ambiciosos em termos das respostas que eu quero obter. Fazer cada vez mais e melhor.

Se não fosse bioquímica...
Podia ser escritora.



TP






DEIXE O SEU COMENTÁRIO





ÚLTIMOS EMPREGOS