Júlia Costa
Uma vida de microscópios e tubos de ensaio
Júlia Costa é uma cientista portuguesa que,
aos 30 anos, viu o seu projecto aprovado e começou a dirigir o laboratório
de Glicobiologia, no Instituto de Tecnologia de Química e Biologia (ITQB).
Enquanto fala, torna-se visível a importância da ciência na sua vida a
par de um outro sonho que vai alimentando: ser escritora.
O que há de fascinante
em trabalhar num laboratório?
É poder descobrir coisas. É poder fazer um trabalho que
não é monótono porque, à medida que o trabalho
vai evoluindo, vão-se fazendo coisas diferentes, não só
a nível técnico, mas também a nível de ideias
que vão sendo exploradas.
É poder construir histórias, tentando explicar coisas que
se passam e para as quais ainda não há explicação.
Como foi o seu percurso profissional?
Fiz a licenciatura em Bioquímica, na Faculdade de Ciências
de Lisboa. Depois fiz o doutoramento no ITQB, durante o qual tive deslocações
à Universidade de Oxford. Foi nessa altura que comecei a dedicar-me
a aspectos relacionados com a glicobiologia que não estavam explorados
cá, em Portugal.
Mais tarde, fiz o pós-doutoramento, continuando ligada ao ITQB,
mas tendo sempre deslocações para o estrangeiro. Quando
voltei definitivamente, fiquei responsável pelo laboratório
de Glicobiologia no ITQB.
Há muitas pessoas a fazerem o doutoramento
lá fora...
Sim. Eu tive um percurso sempre de colaboração, mantendo
uma ligação ao instituto e saindo apenas temporariamente.
Foi, de facto, uma opção que fiz.
Se o nosso país está atrasado, em termos de investigação,
precisamos de aprender lá fora para depois ajudar a evoluir aqui.
Neste sentido é importante que as pessoas voltem para o nosso país
e estabeleçam aqui competências.
O que acha da investigação em Portugal?
A tradição da investigação em Portugal é
muito recente. Só a partir de 89 ou 90, quando comecei o doutoramento,
é que surgiram os programas de ciências e um apoio à
investigação promovendo a formação para as
pessoas.
Mas existe o problema, até a nível europeu, de a maior parte
das pessoas seguirem a via de ensino. Assim, os investigadores e os técnicos
são poucos.
Além disso, o que acontece em Portugal é que as pessoas
vão para o estrangeiro aperfeiçoar os conhecimentos e acabam
por desenvolver técnicas excelentes que são uma mais valia.
Depois, não há é possibilidade de manter essa pessoa
connosco se não lhe podemos oferecer as condições
de trabalho.
Como é que se pode incentivar os jovens
cientistas?
Aqui no Instituto, os licenciados que chegam têm um projecto para
desenvolver. Há um acompanhamento, mas o trabalho e os resultados
são deles. É, no fundo, um projecto pessoal que a pessoa
tem de desenvolver, por um lado. Por outro, é importante uma pessoa
estar integrado numa coisa que tem um interesse e objectivo definido.
É também fundamental perceber os interesses de cada um para
saber onde melhor podem ser aproveitados.
E a nível de formação, é
necessário existir?
Há várias coisas que eu acho fundamental, como a formação.
Por exemplo, é essencial as pessoas irem a cursos ou congressos,
pelo menos, uma vez por ano. É importante estar em contacto e discutir
com outras pessoas.
Também é importantíssimo estadas temporárias
em laboratórios estrangeiros. Isso tem de acontecer.
Quais são os próximos passos?
Continuar a dirigir o laboratório e ter projectos cada vez mais
ambiciosos em termos das respostas que eu quero obter. Fazer cada vez
mais e melhor.
Se não fosse bioquímica...
Podia ser escritora.
TP