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Formação um investimento seguro?



01.01.2000



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Formação um investimento seguro?

António Francisco Saraiva

Muito se fala das questões de avaliação do impacto da formação, acima de tudo em termos do seu ramo comportamental. É o maior desafio colocado aos profissionais de Formação. Se é determinante a formação aparecer como uma necessidade de melhorar competências, e no passado mesmo, muito se associou a um prémio que as Organizações forneciam aos seus Colaboradores, ou até, nos primórdios dos fundos comunitários, como um simples mecanismo de se ir buscar dinheiro.

As novas fórmulas de controlo dos financiamentos, a tão actual propalada globalização, a necessidade cada vez mais ajustada de que cada programa ou acção de formação tenha repercussões no processo produtivo ou no de fornecimento de serviço, leva a que a formação seja equacionada num novo tipo de processo. A nova lógica é muito clara, não nos situamos actualmente na designada Organização Push - Orientação para o Produto, em que se produzem produtos e serviços e se cria o respectivo Mercado para os colocar/vender. Estamos, sim, na época da Organização Pull - Orientação para o Valor de Mercado, em que se escolhe o Valor, cria-se o Valor e comunicamos e entregamos esse Valor.

Sabemos que a diferenciação, hoje, é realizada por mecanismos de avaliação diferentes. Podemos ter dez empresas a produzirem o mesmo produto, no mesmo âmbito de actuação e na mesma área geográfica, mas o que se pede é que entendamos porque é que umas têm mais sucesso que outras. A análise parte sempre de três componentes essenciais: a Organização em si mesma, as Pessoas que a compõem e o Cliente.

A Formação não pode, pois, jamais ser encarada como um mero exercício de faz de conta. É acima de tudo uma questão particularmente séria para ser encarada de forma leve e pouco estruturada. Não basta legislar obrigando as organizações a fornecerem um determinado número de horas de formação aos seus colaboradores. Ela própria não é um contributo puro e simples para a Organização que a promove. É acima de tudo um contributo para a Economia de forma global, mesmo para a sustentabilidade de um determinado País.

Sabe-se que, em Portugal, os níveis de qualificação se encontram deficitários. Se o Estado, como promotor das políticas e linhas de orientação estratégica da Formação Profissional, tem um papel decisivo, assim como no apoio à mesma, quer no âmbito da facilitação como na contribuição financeira, ou mesmo na coordenação de fundos comunitários, não deixa de ser verdade que o sector privado tem as suas responsabilidades. Para se ser ainda mais rigoroso a responsabilidade é de todos os parceiros sociais e mesmo de cada um de nós.

Desta forma, a Formação nunca pode, nem deve, ser encarada como um custo, mas sim como um investimento. Parece consensual… e frase feita. O problema é chegarmos à prática. Por mais que sejam os interesses individuais, organizacionais e corporativos, a realidade diz-nos que temos uma responsabilidade global. Contudo, a própria formação carece muitas vezes dos devidos mecanismos de controlo do seu impacto. Sem dúvida, que as estatísticas divulgadas oficialmente ou através de cada uma das Organizações são importantes.

Sabermos que evoluímos no número de Pessoas que recorrem ou que são direccionadas para Formação, quantas horas de formação foram realizadas, são indicadores importantes. Termos um controlo orçamental do investimento feito em formação também nos parece significativo. Existirem preocupações da qualidade da formação prestada ou de quem a ministra, também. Mas, na realidade, que impacto está a ter a formação no desenvolvimento das Pessoas? Que competências foram reforçadas ou colocadas no desempenho do dia-a-dia e que benefícios se retiraram? Que retorno existiu no investimento realizado em Formação? Como se sabe que a Formação ministrada contribuiu para uma Organização mais eficaz? Que evoluções existem que nos permitem dizer que a nossa Economia cresceu à custa de uma qualificação reforçada, por efeito da Formação?

Na verdade, não se têm respostas fáceis. Se conseguimos perceber já alguns indicadores que vão surgindo, a verdade é que eles surgem muito nas competências ditas mais técnicas e tecnológicas. Conseguimos garantir com alguma fiabilidade que determinada Organização evoluiu numa maior cultura informática, por via de uma maior utilização de meios informáticos e no tipo de respostas com maior eficiência e obtendo uma eficácia mais visível, por via de ter seguido este caminho, por conta de uma formação que ministrou aos seus colaboradores nesta temática. Aqui os dados até podem ser facilmente mensuráveis.

Mas e os tais factores de diferenciação que já foram referidos? O que muitos autores designam como o Factor Humano das Organizações, e que empurra muitas vezes a opção do Cliente. Cada vez mais a Formação Comportamental acaba por estar na origem. O investimento aqui, se bem que ainda não com um significado tão elevado quanto necessário, tem tido evolução significativa nas solicitações que percorrem o Mercado. Mas aqui como se mede o impacto da Formação? Como obtemos o valor do retorno do investimento aqui efectuado?

Na verdade, apesar de muitos trabalhos já realizados, em Portugal e no estrangeiro, ainda não se encontram resultados que identifiquem claramente os níveis de transferência da formação comportamental, nem a sua incorporação no desempenho individual e organizacional. Pelo menos com o grau de fiabilidade que desejaríamos. Se a outros níveis nada é ainda garantido, na Formação Comportamental não existem dados que nos permitam afirmar que esta tem impacto efectivo no desempenho. Temos, muitas vezes, no decurso da actividade desenvolvida, a sensação que ela se repercute positivamente, mas não passa mesmo de aquilo que sentimos quando terminamos um programa formativo.






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