Formação um investimento seguro?
António Francisco Saraiva
Muito se fala das questões de avaliação
do impacto da formação, acima de tudo em termos do seu ramo
comportamental. É o maior desafio colocado aos profissionais de
Formação. Se é determinante a formação
aparecer como uma necessidade de melhorar competências, e no passado
mesmo, muito se associou a um prémio que as Organizações
forneciam aos seus Colaboradores, ou até, nos primórdios
dos fundos comunitários, como um simples mecanismo de se ir buscar
dinheiro.
As novas fórmulas de controlo dos financiamentos, a tão
actual propalada globalização, a necessidade cada vez mais
ajustada de que cada programa ou acção de formação
tenha repercussões no processo produtivo ou no de fornecimento
de serviço, leva a que a formação seja equacionada
num novo tipo de processo. A nova lógica é muito clara,
não nos situamos actualmente na designada Organização
Push - Orientação para o Produto, em que se produzem produtos
e serviços e se cria o respectivo Mercado para os colocar/vender.
Estamos, sim, na época da Organização Pull - Orientação
para o Valor de Mercado, em que se escolhe o Valor, cria-se o Valor e
comunicamos e entregamos esse Valor.
Sabemos que a diferenciação, hoje, é realizada por
mecanismos de avaliação diferentes. Podemos ter dez empresas
a produzirem o mesmo produto, no mesmo âmbito de actuação
e na mesma área geográfica, mas o que se pede é que
entendamos porque é que umas têm mais sucesso que outras.
A análise parte sempre de três componentes essenciais: a
Organização em si mesma, as Pessoas que a compõem
e o Cliente.
A Formação não pode, pois, jamais ser encarada como
um mero exercício de faz de conta. É acima de tudo uma questão
particularmente séria para ser encarada de forma leve e pouco estruturada.
Não basta legislar obrigando as organizações a fornecerem
um determinado número de horas de formação aos seus
colaboradores. Ela própria não é um contributo puro
e simples para a Organização que a promove. É acima
de tudo um contributo para a Economia de forma global, mesmo para a sustentabilidade
de um determinado País.
Sabe-se que, em Portugal, os níveis de qualificação
se encontram deficitários. Se o Estado, como promotor das políticas
e linhas de orientação estratégica da Formação
Profissional, tem um papel decisivo, assim como no apoio à mesma,
quer no âmbito da facilitação como na contribuição
financeira, ou mesmo na coordenação de fundos comunitários,
não deixa de ser verdade que o sector privado tem as suas responsabilidades.
Para se ser ainda mais rigoroso a responsabilidade é de todos os
parceiros sociais e mesmo de cada um de nós.
Desta forma, a Formação nunca pode, nem deve, ser encarada
como um custo, mas sim como um investimento. Parece consensual
e
frase feita. O problema é chegarmos à prática. Por
mais que sejam os interesses individuais, organizacionais e corporativos,
a realidade diz-nos que temos uma responsabilidade global. Contudo, a
própria formação carece muitas vezes dos devidos
mecanismos de controlo do seu impacto. Sem dúvida, que as estatísticas
divulgadas oficialmente ou através de cada uma das Organizações
são importantes.
Sabermos que evoluímos no número de Pessoas que recorrem
ou que são direccionadas para Formação, quantas horas
de formação foram realizadas, são indicadores importantes.
Termos um controlo orçamental do investimento feito em formação
também nos parece significativo. Existirem preocupações
da qualidade da formação prestada ou de quem a ministra,
também. Mas, na realidade, que impacto está a ter a formação
no desenvolvimento das Pessoas? Que competências foram reforçadas
ou colocadas no desempenho do dia-a-dia e que benefícios se retiraram?
Que retorno existiu no investimento realizado em Formação?
Como se sabe que a Formação ministrada contribuiu para uma
Organização mais eficaz? Que evoluções existem
que nos permitem dizer que a nossa Economia cresceu à custa de
uma qualificação reforçada, por efeito da Formação?
Na verdade, não se têm respostas fáceis. Se conseguimos
perceber já alguns indicadores que vão surgindo, a verdade
é que eles surgem muito nas competências ditas mais técnicas
e tecnológicas. Conseguimos garantir com alguma fiabilidade que
determinada Organização evoluiu numa maior cultura informática,
por via de uma maior utilização de meios informáticos
e no tipo de respostas com maior eficiência e obtendo uma eficácia
mais visível, por via de ter seguido este caminho, por conta de
uma formação que ministrou aos seus colaboradores nesta
temática. Aqui os dados até podem ser facilmente mensuráveis.
Mas e os tais factores de diferenciação que já foram
referidos? O que muitos autores designam como o Factor Humano das Organizações,
e que empurra muitas vezes a opção do Cliente. Cada vez
mais a Formação Comportamental acaba por estar na origem.
O investimento aqui, se bem que ainda não com um significado tão
elevado quanto necessário, tem tido evolução significativa
nas solicitações que percorrem o Mercado. Mas aqui como
se mede o impacto da Formação? Como obtemos o valor do retorno
do investimento aqui efectuado?
Na verdade, apesar de muitos trabalhos já realizados, em Portugal
e no estrangeiro, ainda não se encontram resultados que identifiquem
claramente os níveis de transferência da formação
comportamental, nem a sua incorporação no desempenho individual
e organizacional. Pelo menos com o grau de fiabilidade que desejaríamos.
Se a outros níveis nada é ainda garantido, na Formação
Comportamental não existem dados que nos permitam afirmar que esta
tem impacto efectivo no desempenho. Temos, muitas vezes, no decurso da
actividade desenvolvida, a sensação que ela se repercute
positivamente, mas não passa mesmo de aquilo que sentimos quando
terminamos um programa formativo.