Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
De acordo com um estudo recentemente divulgado — que confesso ainda não analisei devidamente — a conclusão aponta para que os portugueses na faixa dos 25 aos 34 anos são dos mais qualificados na Europa. Devo dizer que tal não me surpreende, embora se me apresente desconcertante. É importante perceber o que se entende por ‘qualificado'. Presumo que falemos de nível de habilitações e, por esse critério, todos sabemos que somos um país de doutores. Se entendermos ‘qualificado' enquanto ‘adequadamente necessário' então a história já é outra.
Sabemos que também os países da Europa de Leste detêm um elevado número de licenciados e, nesta mesma linha, de qualificados. Não obstante este facto, também eles se deparam com o desemprego e a necessidade de emigrar para desenvolver trabalhos muito abaixo das suas qualificações.
A qualificação excessiva e desajustada é como o açúcar em excesso. Não adoça. Passam pela nossa empresa todos os anos milhares de jovens licenciados e, nesta ordem de ideias, qualificados, que na realidade são vistos como indiferenciados. É injusto, frustrante e, do ponto de vista social parece-me dramático.
Se por um lado nos faltam profissionais qualificados em áreas-chave da nossa economia e da nossa sociedade, por outro lado, sobram e sobram pessoas com formações superiores não necessárias e portanto excedentárias na nossa sociedade. Uma recente reportagem numa revista conhecida falava deste tema: os desempregados de luxo. Não é um motivo para um país se orgulhar a dificuldade suprema do ingresso destes jovens no mercado de trabalho. Tão pouco é o facto de muitos deles se empregarem abaixo das suas qualificações.
É fácil dizer que a responsabilidade é da publicidade enquanto construtora de sonhos e de estilos de vida. Mas não chega. A publicidade bem feita só faz o seu papel. Não somos obrigados a comprar. As empresas não vão mudar as suas estratégias, os seus objectos sociais e as suas necessidades para se substituírem ao sistema educativo deficiente ou pelo menos desajustado às reais necessidades do país — que eu saiba, é um lugar comum desde há, pelo menos, 30 anos. Escolas que qualifiquem profissionalmente continuam a ser escassas, pouco conhecidas, pouco reconhecidas e pouco apetecíveis. No entanto, licenciaturas inúteis continuam a proliferar.
Deve ser desnorteante para os jovens. A pressão à sua volta e, em simultâneo, a fraqueza estrutural de alguns — de que pode ser ilustrativo a já famosa ‘cena do telemóvel na escola' — leva estes cidadãos a uma desorientação e falta de criatividade na procura de alternativas de futuro.