Amândio da Fonseca
Administrador do Grupo EGOR
O êxodo de profissionais qualificados para países desenvolvidos constitui um flagelo mundial que contribui decisivamente para perpetuar as situações de subdesenvolvimento dos países economicamente mais débeis e que proporciona aos países receptores dessas correntes migratórias um significativo «gain brain». Em estatísticas relativamente recentes do Banco Mundial, Portugal ocupava o 1º lugar, na Europa dos 15, entre os países exportadores de mão-de-obra qualificada, com 1 em cada 5 portugueses, com formação universitária e técnica, a trabalharem fora do país e o 21º lugar a nível mundial entre países com mais de cinco milhões de habitantes.
Como sempre acontece enquanto uns perdem outros ganham. No caso vertente, os beneficiários do «gain brain» são países como Austrália, o Canadá, a Alemanha, a Áustria ou os Estados Unidos da América que absorvem uma larga maioria de cientistas, informáticos e técnicos altamente especializados de todos os sectores que, na fase mais produtiva da sua vida profissional, abandonam o país natal e que no regresso — quando regressam — têm dificuldade em adaptar-se à realidade.
Estes trabalhadores qualificados são atraídos por melhores condições de vida, mais oportunidades de carreira profissional, maiores facilidades de educação para os filhos, possibilidade de se integrarem em grupos profissionais com qualificações semelhantes além de diferenças de remuneração e níveis de segurança de emprego que constituem vantagens que os países de origem normalmente não oferecem.
Com uma diáspora que abrange 20% dos portugueses mais habilitados e que desfalca as organizações dos talentos indispensáveis para o seu desenvolvimento é urgente que, à semelhança da Irlanda, o país adopte um modelo exigente de desenvolvimento, apoiado em investimentos estruturais e dinamize o empreendedorismo empresarial qualificado. De outra forma será difícil, senão impossível, gerar a cadeia de valor da economia do conhecimento de que precisamos para reduzir a hemorragia suicida dos nossos activos mais valiosos.