Carreiras

ExpressoEmprego - Barómetro RH - Mário Costa



01.01.2000



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Mário Costa
Presidente do Grupo Select/Vedior



Responsáveis da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC) afirmaram, em Julho de 2006, que “mais de 20% dos quadros qualificados portugueses” abandonam o país para procurar no estrangeiro “um emprego com salário digno, compatível com as suas habilitações”; que alguns quadros vão para o estrangeiro porque ”querem fazer carreira lá fora”, mas a maioria “é obrigada a partir por falta de condições em Portugal”.


O presidente da Comissão Europeia e a própria Comissão têm alertado para a “fuga de cérebros” europeus para outras regiões do mundo, como os países das designadas economias emergentes. Justamente também com o objectivo de travar essa fuga e, se possível, fazer regressar os que já saíram, a Comissão propôs aos Estados-membros um novo projecto de desenvolvimento, na linha da Agenda de Lisboa. Enquanto isto, o ministro português da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior afirmou que não existe em Portugal um problema de “fuga de cérebros”. Tem razão. Todavia, a razão que lhe assiste não é a que com essa afirmação pretende significar. Ou seja: é público e notório que muitos gestores, cientistas e técnicos portugueses rumam para outras paragens apenas porque aí podem melhor desenvolver as suas carreiras e capacidades. Também é certo que outros, muito menos, escolhem Portugal. Mas aqui encontramos outras motivações: clima, hospitalidade, gastronomia, segurança, etc.

Pois é: o sr. ministro tem razão, mas não a que pretende: não vale a pena pensar que Portugal pode evitar a fuga de cérebros, nos termos em que este problema tem sido comummente colocado. Nunca fomos, não somos e, atendendo à nossa idiossincrasia, jamais seremos um país com capacidade para competir na área da ciência e da investigação científica.

As parcerias com instituições estrangeiras (como a recentemente criada entre algumas das nossas universidades e o MIT — Instituto de Tecnologia do Massachusetts) são bem- -vindas. Mas despender somas astronómicas em “choques tecnológicos” e “novas oportunidades”, como vem sucedendo, é uma inutilidade e um erro estratégico.

Ponhamos, primeiro, ordem na casa, criemos uma cultura de trabalho, aprendizagem, responsabilidade e transparência. Apostemos no turismo, na agricultura de qualidade, na preservação dos recursos naturais, na promoção e exportação dos nossos produtos de excelência, e noutras áreas para as quais temos especial aptidão e capacidade.

Apostemos na nossa tradicional capacidade de relacionamento com outros povos e culturas, para daí retirar proveito através do investimento externo e de criação de parcerias. Apostemos numa formação profissional orientada para aqueles desideratos. Criemos riqueza e valores éticos pela forma e onde eles podem ser gerados em Portugal. Com isso virá o resto: podem sair “cérebros”, mas entrarão outros recursos. Acabemos com a “obsessão pombalina” de copiar — não temos uma vocação tecnológica (as excepções só confirmam a regra).

Tem razão o sr. ministro: a fuga de cérebros não deve ser um problema para Portugal. Os verdadeiros problemas são outros e de outra natureza. Felizmente, a consciência colectiva vai despertando para eles, apesar dos esforços de alguns para a adormecer.






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