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Expresso Emprego - Barómetro RH - Ana Loya



01.01.2000



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Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital



Desde há muitos anos que estou afastada do aparecimento de novos cursos na actividade prolífera do Ministério que os aprova. Hoje em dia não me atrevia a fazer uma Orientação Vocacional a um Jovem, porque ignoro como está organizado o nosso Sistema Educativo ou que licenciaturas existem. Consigo imaginar — ou pelo penso ter uma opinião — pelos frutos do mesmo sistema: os nossos licenciados, a inexistência de técnicos e o crescimento dos indiferenciados.


No entanto, nos projectos de recrutamento de recém-licenciados que frequentemente realizamos é frequente fazerem-se estatísticas por áreas de formação, por anos de formação, etc. Ultimamente revelou-se muito difícil criar categorias porque em Portugal existem miríades de licenciaturas. Basta procurar no ‘Diário da República' para perceber como os jovens de hoje em dia têm uma tarefa hercúlea para decidir qual a sua ‘vocação'. Em 2005 fui convidada para fazer parte da Comissão de Avaliação Externa das Licenciaturas de Psicologia em Portugal na qualidade de membro consultivo quanto à empregabilidade dos licenciados.

Comecei por pasmar ao saber que, na altura, existiam em Portugal 32 licenciaturas em Psicologia! Destas apenas 16 já tinham licenciados, o que significa que as outras 16 teriam sido aprovadas e iniciadas já após o ano 2000. Independentemente da qualidade que cada curso possa ter, ficou-me a certeza de que uma grande parte daqueles jovens estava votada a uma carreira externa a qualquer área de psicologia, já que o país não tem capacidade (nem necessidade) de tantos licenciados nesta área.

Ao fazer uma pequena investigação sobre as Comissões de Avaliação de outras áreas, rapidamente percebi que o mal era bastante mais generalizado que só à Psicologia. Estende-se a várias áreas. Não opinando sobre os critérios subjacentes ao aval do Ministério a esta proliferação de cursos, pergunto-me qual a relação entre as saídas académicas e as necessidades do país. Os nossos hospitais estão cheios de profissionais de saúde estrangeiros, devido à escassez de médicos e enfermeiros em Portugal. No entanto, todos conhecemos pessoas que, apesar da sua média de 17 não puderam fazer um curso de Medicina e no curso que tiraram (e tiraram certamente porque 17 é média de um óptimo aluno!) podem ter originado um veterinário infeliz. A formação técnica continua a ser deficitária e, infelizmente, desvalorizada. Quer pela sociedade quer pelos encarregados de educação e, também pelos próprios jovens que aprenderam que por cá ou se é licenciado ou indiferenciado. Agora, com Bolonha, as coisas ainda se complicam mais.

Uma análise aos diferentes sistemas educativos europeus (que são bem diferentes entre si) poderia ser suficiente para retirar algumas boas práticas. O investimento na Educação não é uma filantropia. É uma perspectiva económica! Os países com economias mais florescentes são aqueles que no passado recente fizeram investimentos significativos na educação. Hoje em dia, não só colhem esse fruto, como a semente ficou lançada. E quem semeia colhe em função do que semeia.





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