Afonso Batista
Presidente do Conselho de Administração da Multipessoal, SA
O problema da adequação do ensino superior às necessidades das empresas no sentido de produzir Recursos Humanos com as qualificações e as competências necessárias para se integrarem, rapidamente, no permanente clima de mudança, competitividade e inovação que se coloca às nossas empresas é, provavelmente, um dos aspectos estruturantes mais importantes com que o país se debate.
A liberalização do Ensino Superior com o aparecimento de várias universidades privadas que vieram injectar no mercado dezenas de cursos de difícil adaptação à realidade empresarial, associada à complexa inoperância das reformas do ensino, deixadas ao sabor das prioridades partidárias dos governos, tornaram cada vez mais difícil a opção por uma estratégia estável de ensino e formação, alinhada com as prioridades da evolução e crescimento económico, cultural e social do pais.
Assistimos todos os anos à chegada ao mercado de trabalho de milhares de jovens com formação universitária em cursos que pouco tem a ver com as necessidades das Empresas, servindo somente para aumentar o já alarmante desemprego que se vive nesse sector (jovens licenciados). Por outro lado, assiste-se à falta de pessoas formadas, essencialmente nas áreas técnicas com relevo para as Engenharias.
Um curso resulta sempre de um forte investimento financeiro e de trabalho, e deve ser entendido como uma ferramenta geradora de valor, tanto para o utente como para as empresas futuras empregadoras e para o país em geral. Se estes pressupostos não se verificam estamos perante um modelo inadequado.
Esta situação é geradora de frustrações, desperdícios, ineficácia da aplicação dos dinheiros públicos, etc,.. devendo, do nosso ponto de vista, não colocar o acento nos ‘Cursos sem Saída' (a realidade é bem demonstrativa de quais são) mas para a urgência de se alterar as políticas que permitem disponibilizar essas dezenas e dezenas de cursos onde se se enfatiza o conhecimento especializado, não se fornece, todavia, soluções de empregabilidade.
Importa referir, também, que tanto ou mais importante que o currículo académico dos diferentes cursos é importante e vital para as empresas a preparação e o treino das competências ‘chave' no domínio das atitudes e comportamentos.
Flexibilidade, polivalência, fácil adaptação a climas de mudança, iniciativa e empreendorismo, orientação e resultados, ética, inovação, maturidade emocional, etc... São alguns dos «skills» fundamentais para se ter sucesso numa carreira, face às contingências de um mundo globalizado e em permanente mudança.