Ana Loya
Administradora e directora-geral da Ray Human Capital
Há qualquer coisa nesta altura do ano que nos leva, de modo especial, a parar para pensar. O tempo sempre ocupou grandes pensadores e sabemos, mesmo de modo mais superficial que Einstein ou Agostinho de Hipona, que o tempo é relativo. Mas, mesmo assim, nesta altura do ano, precisamos de fazer balanços, como se o tempo pudesse de facto ser medido por cronómetros e às zero horas do dia 1 de Janeiro pudéssemos começar tudo a partir do zero.
Quando digo tudo, é mesmo tudo: novas mentalidades, novas atitudes, novos projectos, novos tudo, como se pudéssemos fazer um «refresh» num computador. Em apenas uma fracção de segundo o ano muda. 2006 é passado. 2007 é ano novo. Ao fazer um balanço é importante lembrar que quase tudo transita; o cronómetro não muda para o zero. Então, o que aconteceu em 2006 que vai influenciar 2007?
Do meu ponto de vista e na perspectiva do mercado de trabalho, algumas variáveis importantes transitam para o próximo ano: as possíveis OPA, os problemas da função pública, as externalizações de serviços de companhias multinacionais, o encerramento e a abertura de pequenas empresas, etc. Penso que o Governo continuará a sua postura de 2006 (para o melhor e para o pior) e a economia continuará dependente dos mesmos «players».
Para mim, que trabalho no sector do emprego algumas coisas me aborrecem de modo particular — e não são herança de 2006 mas de há muitos anos. É a qualidade do sistema de ensino que continua virado para resolver problemas do passado e logo, desajustado das necessidades do país e dos jovens. É o haver quadros de excelente qualidade e capacidade que procuram alternativas que não existem — assisti a vários profissionais de elevado potencial a quererem ficar a viver em Portugal (alguns estrangeiros) e a não conseguir...
De positivo neste sector, 2006 mostrou maior e melhor oferta de postos, o mercado mexeu — e continuará a mexer em 2007. Como povo falta-nos ainda amadurecer; podemos correr o risco de passar de adolescentes a velhos sem passar pela fase adulta.
As técnicas de trabalho em equipa continuam a ser muito procuradas pelas empresas. Todos sabem que é em conjunto que se atingem objectivos e que se pode aspirar mais alto. E é isso que eu espero. Que todos os parceiros sociais percebam que é melhor ganhar o campeonato que o jogo daquele dia. Temos capacidade para mudar o ciclo. Resta saber se queremos mudar de ano.